Samaritanas pessoas não vão a uma comunidade rural sem levar na caixa de ferramentas um ficheiro étnico, um rótulo de atraso e uma mão de pai ou de mãe providencial: com o primeiro orientam-se nas veredas das chamadas especificidades, com o segundo distribuem a modernidade e com a terceira fornecem receitas de primeiros socorros. Se acontece escreverem um relatório, o que é de regra, limitam-se a escrever sobre o que, afinal, já “sabiam”. É assim que muitos projectos se limitam a ser confirmados. Mas - acontece - já nem sequer se vai ao campo. Eis o universo de certas pesquisas alcatifadas. Grandes dissertações com a pretensão de terem um rosto nacional nascem em solenes seminários realizados em luxuosos hotéis e tomam depois corpo no aconchego dos gabinetes e dos computadores urbanos. O verdadeiro trabalho de campo tornou-se obsoleto por desnecessário.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
1 comentário:
Poucos ligam ao "campo de trabalho".
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