Prossigo esta série. Em epígrafe, o terceiro e último exemplo de uma guia de transferência de um processo endereçado por um órgão do Estado à Ametramo, tendo como tema a impotência sexual de um homem (recorde o exemplo apresentado pelo "Notícias", citado no primeiro número desta série), produto de uma pesquisa por mim dirigida em 2008 sobre linchamentos por acusação de feitiçaria numa província do país.
Permitam-me entrar de imediato no primeiro ponto do sumário que vos propus no número anterior.
1. Crença nas forças do invisível. É generalizada a crença popular nas forças do invisível, especialmente nas forças dos espíritos. As pessoas morrem, mas os seus espíritos continuam vivos, interferindo, para bem ou para mal, na vida dos vivos. Por regra, à retaguarda de qualquer fenómeno, especialmente dos fenómenos problemáticos, trágicos, a pergunta que as pessoas fazem não é Qual a causa deste fenómeno?, mas, antes, estoutra: Quem provocou este fenómeno? Para responder a esta pergunta personalizada, humanizada, importa interrogar não o visível, mas o invisível. A psicopatologia, a desordem surgida nas vidas, precisa de uma resposta urgente, do regresso à ordem. E a resposta só pode ser obtida no quadro da intencionalidade atribuída às forças do invisível.
Prossigo brevemente.
(continua)
Adenda: "Para se ter uma ideia, na África do Sul, enquanto há um médico para cada 20 mil habitantes, existe um curandeiro para cada 500 pessoas." Aqui.
Adenda 2: um trabalho do antropólogo Paulo Granjo intitulado "Saúde e doença em Moçambique", aqui.
Adenda 3 às 6:52: a história que dá origem a esta série (atribuição de um marido-espírito a uma jovem de 15 anos) está melhor contada no portal da Rádio Moçambique, aqui.
Adenda 2: um trabalho do antropólogo Paulo Granjo intitulado "Saúde e doença em Moçambique", aqui.
Adenda 3 às 6:52: a história que dá origem a esta série (atribuição de um marido-espírito a uma jovem de 15 anos) está melhor contada no portal da Rádio Moçambique, aqui.
5 comentários:
Uma coisa que gostava de saber é quantos "médicos tradicionais" tem o país.
Não se acredita em Deus? Qual a diferença com acreditar em espíritos?
Tudo crença.
Também há os espertos que sabem aproveitar as crenças, Xiluva...
A malta aqui parece não ter problema com os inyangas só quando falham...
Médicos para ricos e remediados, curandeiros para pobres, no meio ficam os herdeiros de tradições, que esta coisa de espíritos assombra.
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