03 setembro 2010

Manifestações em Chimoio

Do jornalista Francisco Carmona do semanário "Savana", que está em Chimoio: "A situação a agravar-se, polícia de trânsito foi equipada para reforçar Força de Intervenção Rápida e polícias normais. Pneus a arder na periferia da cidade. Cenário dantesco".
Adenda às 11:01: nova informação recebida de uma outra fonte: "A tensão social já chegou a Chimoio e Cidade de Manica começou mesmo há poucos instantes. Todos serviços já fecharam e há muitos tiros na cidade."
Adenda 2 às 11:14: "Correio da manhã" de hoje, aqui.
Adenda 3 às 11:29: a Rádio Moçambique transmitiu um apelo do ministro da Indústria e Comércio, António Fernando, para que as pessoas regressem aos postos de trabalho.
Adenda 4 às 12:04: Eis como um locutor da Rádio Moçambique deu conta do tópico principal do noticiário das 12:30: "A normalidade voltou às cidades de Maputo e Matola após dois dias de vandalismo".
Adenda 5 às 12:06: é fascinante analisar como, em certos sectores produtores de imagens confortantes, os comportamentos são extraídos das relações sociais nas quais estão inseridos e só aí fazem sentido, como os comportamentos são esvaziados das suas causas e dos seus significados, como os comportamentos são hipostasiados em si-mesmos, como se apenas em si-mesmos fizem sentido. Breve prossigo a série Quatro pontos sobre as manifestações.
Adenda 6 às 12:15: torna-se necessário estudar as categorias com as quais são analisados os indóceis.
Adenda 7 às 12:46: de um leitor sobre Matola e Maputo: (...) Seria interessante avaliar o efeito da falta de chapas no eclodir dos tumultos. Obviamente que a pólvora social está lá pronta a explodir mas aquilo que tenho observei na quarta feira foi uma total ausência deste transporte desde as 6 da manhã com milhares de pessoas impossibilitadas de ir trabalhar, estudar ou "fazer pela vida". O que na minha opinião foi o fósforo que ateou o fogo. Às 7,30 começaram os problemas na minha zona (Matola). Se ontem foi natural fica a pergunta: e hoje? Por que voltaram a não cumprir o seu papel? Será que não estamos na presença de uma greve silenciosa dos transportes semi-colectivos? Quem controla este sector? A quem interessa manter milhares de pessoas junto aos seus bairros de residência sem trabalhar? O Ministro dos Transportes, a Associação dos Transportadores e a CTA têm muita responsabilidade nos acontecimentos."
Adenda 8 às 12:55: situação mais calma em Chimoio segundo o jornalista Francisco Carmona do "Savana".
Adenda 9 às 13:12: barricadas erguidas no Xiquelene, periferia da cidade de Maputo; pneus a arder na Avenida Joaquim Chissano.
Adenda 10 às 13:22: um assistente meu informou-me que por volta do meio-dia circulou na cidade de Maputo o rumor de início de problemas no Jardim, no Xiquelene e na Ronil "e toda a gente iniciou o regresso a casa. Assim aconteceu comigo. Virou hora de ponta."
Adenda 11 às 13:29: um locutor da estação televisiva Miramar da Igreja Universal do Reino de Deus está a pedir às pessoas - a quem chama desabusadas (sic) - , gesticulando e provavelmente procurando imitar os pastores daquela igreja, que fiquem em casa e não cometam tropelias, de forma grave está a acriançar os telespectadores.

14 comentários:

ricardo disse...

Era previsivel...o custo de vida naquelas cidades e tres vezes superior ao de maputo. E a qualidade de servicos duas vezes inferior...

Mas ha uma coisa que comeca a ficar preocupante. Cada tiro disparado para o ar ou alguem, e menos um milhao de dolares de investimento potencial no pais. Um poder politico responsavel pensaria assim, e rapidamente tentaria adequar-se a situacao. E nao, esperar que a situacao se adeque a ele.

Mocambique NAO SE DEVE ILUDIR com promessas de investimento. Mocambique deve garantir a manutencao dos investimentos. Pensem nisso.

Disse

V. Dias disse...

Também a mim não me surprende.

A minha sobrinha que esteve lá há duas semanas (não ia a Chimoio há 15 anos) disse que encontrou uma cidade empobrecida, um povo cabisbaixo, uma economia débil.

A mesma situação constatou em Tete. A população vive de tubérculos para poder se alimentar. E até perguntou-me se Tete e Manica tinham governos? Não respondi.

A pergunta que faço é esta: a presidência aberta do PR não deu para perceber que o povo está faminto?

Lá vem o meu pai outra vez com os seus conselhos "filho, a maldade tem um dia em que dorme, aí a justiça pega". Agora é que são elas.

Quem deve estar a rir-se é o 'Mariazinha' Chissano.

Vamos esperar pela crónica do Eng° Noé Nhantumbo...

Zicomo

V. Dias disse...

Professor,

Pelo que me parece António Fernando é ministro da Indústria ... e não de Energia, cargo esse pertecente ao Sr. Nambutete. Ou estou enganado???

Zicomo

Carlos Serra disse...

Obrigado pela correcção.

Unknown disse...

Todo este problema nasce com a estrura administrativa de um país como Moçambique que está nas mão de oligarcas em Maputo. A regionalização torna-se indispensável não só por motivos geográficos mas por causas que têm a ver com distribuição do poder pelas forças políticas. Pela centralização conseguiu-se o inverso do desejável: as necessidades da população estão sujeitas a centros decisórios distanciados e sem contacto com as realidades locais. Daí toda a engrenagem que mantém o custo de vida nas províncias mais elevado do que nas cidades. Justamente o contrário de todos os países com sistemas administrativos regionalizados ou com índices de corrução muito baixos (que não é o caso).

O preço do custo de vida dependende do acesso aos bens, das comunicações (estradas, telecom, etc.) com o exterior para se poderem suprir as necessidades reconhecidas no terreno.

O poder central não está disposto a partilhar com os poderes regionais os poderes decisórios nestas áreas de forma a que possam tomar medidas estruturais rápidas (na medida do possível). A corrupção criou um tecido de interesses que não permitem o desenvolvimento do País. Mas ninguém nunca conseguiu parar a História e mais cedo ou mais tarde as oligarquias têm um fim. Até lá iremos continuar a ver estes "filmes" muitas vezes. Abençoado povo que não se cala.

Moçambique acabou de dar uma lição ao mundo: o seu povo revolta-se contra a injustiça, contra os males que os atingem e a tantos outros no mundo. Não ficam de braços cruzados, nem vergados pela miséria, embalados por uma frase "povo maravilhoso", doce canção que lhes cantam à noite para lhes acalmar o rugido da fome. O "povo maravilhoso" resplandece e mostra que tem dignidade. Este País tem futuro!

Todos os mortos desta luta são heróis que a Pátria respeitará. O 1º de Setembro ficará na História como o princípio do fim desta era de corruptos para este Grande Povo Moçambicano. Os políticos que se cuidem: ou começam a trabalhar para quem os lá colocou ou paguem os custos do mal que fizeram a este País. E se não o fizerem a bem...
O Povo só reage assim porque os "senhores" não ouvem de outra forma. Com o pão não se brinca!

Saudações!

Anónimo disse...

Ha informação de que uma carro esta incendiado, perto do Shoprite da Matola.

Jacome disse...

Professor,
Seria interessante avaliar o efeito da falta de chapas no eclodir dos tumultos. Obviamente que a polvora social esta la pronta a explodir mas aquilo que tenho observei na quarta feira foi uma total ausencia deste transporte desde as 6 da manha com milhares de pessoas impossibilitadas de ir trabalhar, estudar ou "fazer pela vida". O que na minha opiniao foi o fosforo que ateou o fogo. As 7,30 comecaram os problemas na minha zona (Matola). Se ontem foi natural fica a pergunta. E hoje? Porque voltaram a nao cumprir o seu papel? Sera que nao estamos na presenca de uma greve silenciosa dos transportes semi-colectivos? Quem controla este sector?
A quem interessa manter milhares de pessoas junto aos seus bairros de residencia sem trabalhar?
O Ministro dos Transportes, a Associacao dos Transportadores e a CTA tem muita responsabilidade nos acontecimentos.

ricardo disse...

Passou-se alguma coisa no Shoprite da Matola, mas a imprensa ainda nao reportou. O que e certo e que os comerciantes do centro de Maputo comecaram a encerrar imediatamente as portas logo que a noticia chegou.

Anónimo disse...

Boa tarde, queria só lamentar a violência usada pelos manifestantes, pois querendo ser ouvidos não precisamos recorrer a tanto. Existe sim uma razão de ser das manifestações uma vez os nossos governantes não mostraram antes vontade de conternar ou moderar a situação

ricardo disse...

Eu acho que se Joaquim Chissano falasse a populacao, a coisa poderia acalmar...

E-lhe reconhecido o dom da palavra. Mas ja nao acho que isso fosse o suficiente para o problema nao voltar a suceder. Porque disso, depende apenas da FRELIMO, nao do seu povo.

Abdul Karim disse...

Ricardo,

Ainda que acalme, estaria -se a buscar aspirinas, nao se estaria a resolver o problema.

Mas, 'e uma ideia, nao sei se resulta.

umBhalane disse...

Ricardo

Queira desculpar se lhe pareço inoportuno, inconveniente, mesmo.

Em si não lhe deixo passar esta:

"Eu acho que se Joaquim Chissano falasse a população, a coisa poderia acalmar..."

Noutros sim.

Nem quero pôr sequer em causa o sagrado direito à opinião de cada um.

Mas quem conhece minimamente como funcionam regimes do tipo frelimo, sabe, está ciente, tem a certeza absoluta, que isso não é exequível, mesmo em tese.

A não ser que algo se passasse no interior da oligarquia no poder.

E isso já aconteceu na URSS, p.e.

Abraço

ricardo disse...

Sobre Chissano, bem senhores, neste domingo, no estádio da Machava, estaremos atentos aos acontecimentos...

Agora, da falta de medidas de austeridade com exemplo nos próprios governantes e no sistema despesista que eles comandam, ninguém fala: Nem os manifestantes, nem os governantes, nem Magid Osman na STV, nem a imprensa no geral. Parece-me, que de uma maneira, ou de outra, todos se beneficiam da inexistência delas, formando uma espécie de correia de transmissão.

Porque cargas de água é que nós, os moçambicanos, quando se trata de poupar e ser solidários com os que não têm assobiamos todos para o lado ou só avançamos quando vemos nisso um negócio?! O que seria então, se fossemos convidados a ter uma atitude idêntica a dos sul-coreanos, quando voluntariamente dispuseram das suas fortunas pessoais para salvar suas empresas no auge da recente crise mundial, por patriotismo?

Porque subsídios, são como a energia. Um dia esgotam-se. Por isso, é uma falácia vir agora dizer que os sindicatos é que deveriam conduzir as reivindicações. Estariam a falar em nome de quem? E além disso, está provado que a discussão do salário mínimo deverá é transitar para o cabaz mínimo. Aí é que está a questão.

Por último, fugindo um pouco ao assunto. Tenho ouvido por aí, que esta Polícia não está preparada para lidar com tumultos. Porque mata indescriminadamente. E já há vozes a sugerirem material adequado e talvez treino.

É importante. Mas mais do que isso, é preciso desmontar a estrutura, doutrina e ordem de comando da PRM, que são uma cópia exacta da antiga VolksPolizei da ex-RDA. As semelhanças são tantas, que vão desde a farda (feldgrau) até à divisas. Estranha coincidência.

Sucede porém que a VolksPolizei foi uma polícia de um estado socialista e monopartidário. E mostrou-se inadaptada à realidade da nova Alemanha. Por isso, foi extinta, não sem antes provocar algumas vítimas mesmo após a queda do Muro de Berlim. Afinal de contas, os mesmos defeitos que revela a nossa PRM.

Almeida Guissamulo disse...

Sobre a mensagem do Presidente da República e do Conselho de Ministros em relação as manifestaçoes foi lamentável. O Povo esse, até já aceitau os aumentos de custo de vida. Contudo, as manifestações também são protestos de esbanjamento de recursos, de falta de medidas de austeridade por parte do Presidente (6 Helicópteros vazios viajam as Províncias e regressam a Maputo a cada Presidencia aberta e quem paga é o Povo), os esbanjamentos e encargos que as visitas da Primeira Dama causa aos orcamentos das Provincias. Não se vislumbra nenhuma medida de contenção de custos, pois como diz Presidente, para trabalhar quando questionado, é preciso gastar dinheiro.

Na campanha eleitoral finda e na presidencia aberta deste ano o PR visitou mais vezes a Ilha da Inhaca e a Catembe (onde ele concede os 7 milhões) do que os bairros onde realmente a pobreza urbana grassa. A comunicação do presidente não foi totalmente positiva. Para fazer aquele balanço feito das manifestações , não era necessário convocar uma sessão extra-ordinária do Presidente da República. O Presidente da República só convocou o Conselho de Ministros porque foi criticado pela comunicação social. Talvez deveria ter convocado o Conselho de Estado para uma sessão extra-ordinaria. Ele e o seu Governo tinham conhecimento do que ia acontecer e não evitaram. Prepararam fortemente as forças de lei e ordem (as 21 horas de 31 de Agosto de 2010 encontrei no interior do Bairro Khongoleti as Unidades Policiais Fortemente Armadas, tomando posição para o dia seguinte). Nao fez nenhuma mensagem pela voz do Alto Magistrado da Nação para dissuadir o povo por um discurso de antecipação. Não acredita que as pessoas participam livremente nestas iniciativas. Ainda acredita em”compatriotas usados”. Isto é um insulto (dito de maneira mais inteligente). Apesar de legítimo defender os bens públicos e privados, ele não defendeu no discurso a dignidade humana do seu maravilhoso povo! Até agora, o governo, nem mesmo o seu manifesto não têm nenhuma estratégia para lidar a pobreza urbana. A pobreza urbana, a falta de mobilização de jovens no suburbios, conduz a atitudes de inpunidade, a prestaçao de contas dente-por-dente. Não viu o Presidente da República que nas cidades por mais árduo que o trabalho seja, o salário pago depende da capacidade de pagamento dos patrões. Eu mesmo, tenho uma empregada doméstica que gostaria de pagar mais, mas é impossível. O pobre trabalhador já duplica empregos e já dormem mal, as suas mulheres e filhos vendem bolinhos, fruta, roupas usadas na rua e nos mercados e são reprimidas pelas autoridades minucipais que se preocupam e saquear os bens em vez de passar as respectivas multas.

Ainda terá que surgir uma organização nova da sociedade civil para representar os interesses do povo, porque as actualmente existentes, sabiam das manifestações, tal como o Presidente e o Governo, e não se atreveram a tentar organizar o povo extorquido, ferido e humilhado pelas autoridades, pela polícia, pela autoridades municipais e pelo Governo que não soube controlar a informação sobre o aumento dos preços.

Os jornalistas do Notícias e do Semanário Domingo devem se recordar que vivem do dinheiro do povo. O dinheiro que está no Banco de Moçambique. E seu dever não insultar o povo e o público que lhes alimenta alinhando com excessiva parcialidade ao lado do Governo. Foi este mesmo journal, que o povo já não lê, que veiculou muito mal as noticias sobre os aumentos de preços. A comunicação social também teve uma influência positiva para despoletar estas manifestações.