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25 novembro 2013

Analistas

Certas televisões e rádios locais apresentam esforçadas intervenções de analistas políticos com os mais respeitáveis títulos profissionais que têm a abnegada missão científica de mostrar que o mundo é rudemente bifocal: num lado estão os bons e no outro estão os maus.
Adenda às 20:39: sobre os analistas, postagens neste diário por exemplo aqui, aqui aqui e aqui.
Adenda às 07:18 de 26/11/3013: também aqui.

13 novembro 2014

Resultados eleitorais e teses preguiçosas (6)

Sexto número da série. Permaneço no segundo ponto dos seis pontos sugeridos aqui, a saber: 2. Teorias estrangeiras ao trabalho de campo: o analista de gabinete. Escrevi no número anterior que os imensos recursos oferecidos pela internet, a ciberinformação e a credulidade de muita gente contribuem para que se dê crédito às teorias estrangeiras ao trabalho de campo.
Estrangeiras ao trabalho de campo por quê? Na verdade, muitos dos chamados analistas que surgem nas rádios, nas televisões e nas páginas de artigos de opinião têm o seu conhecimento reduzido a um pouco de leitura na internet e nos jornais mais faits divers e aos cenáculos de bula-bula trivial. Trabalho sério, aprofundado, não existe; conhecimento real de situações, de contextos, não existe; verdadeira pesquisa empírica, de terreno, não há. É tudo feito no conforto dos gabinetes, das vaidades palacianas e, em não pocos casos, da moral partidária (frontal ou disfarçada), aqui e acolá com o tempero de um pouco de estatística.
Não conhecem hipóteses e humildade, apenas conhecem certezas e vaidade.
Temos analistas que analisam partidos e eleições sem conhecimento real da vida desses partidos, sem investigação in situ dos diversos momentos eleitorais, sem nunca terem visitado a Comissão Nacional de Eleições e o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral. Mais: sem se preocuparem com categorizar os problemas. Mas este é um tema a tratar no próximo número.

28 junho 2013

Analistas

Quando os analistas políticos desfilam nas nossas televisões é tão importante escutar o que dizem quanto ter olho no imenso esforço que alguns fazem para olhar permanentemente para o receptor (situa-se no lado esquerdo do local onde decorrem as entrevistas) cuja imagem pessoal é transmitida para os telespectadores. Análise temática e narcisismo concorrem em permanência.

03 julho 2013

Dhlakama, o mediático

Redes sociais, jornais e blogues do copia/cola/mexerica regurgitam de expectiva sobre o que Afonso Dhlakama, presidente da Renamo, irá dizer hoje na sua base da Gorongosa. É, provavelmente, a mais mediática figura política do país.
Adenda às 11:21: enquanto isso, deve estar ainda a decorrer a avaliação do "estado da nação" feita pelo Parlamento Juvenil, recorde aqui.
Adenda 2 às 12:33: no noticiário das 12:30 da "Rádio Moçambique", foi afirmado que uma delegação do "Observatório Eleitoral" está na Gorongosa para obter a paz em contacto com o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama.
Adenda 3 às 16:35: primeiros informes sobre a conferência de imprensa em Sathunjira, aqui.
Adenda 4 às 17:10: mais logo, a partir dos noticiários da noite das estações televisivas locais, cerca das 20 horas, haverá um exercício que julgo interessante: estudar os ângulos informativos e analíticos.
Adenda 5 às 17:29: sugiro tenham em conta o grande e variado potencial de emoção, raiva, ódio  e adesão nos comentários feitos no Facebook e no Twitter. Sugiro também verifiquem quanto tudo isso passa por análise naqueles que se pretendem analistas.
Adenda 6 às 17:34: não será menos fascinante estudar o tipo de informação que os blogues do copia/cola/mexerica - nacionais e estrangeiros - usam em seus espaços.
Adenda 7 às 18:02: a "Rádio Moçambique" noticiou no noticiário das 18 horas que Afonso Dhlakama exige a retirada das forças governamentais da Gorongosa para poder reunir-se com o presidente da República. Se isso não acontecer, terá dito o presidente da Renamo, o encontro só poderá ocorrer lá onde.
Adenda 8 às 19:15: não parece ter havido nada de novo na intervenção do presidente da Renamo. Presente ou ausente, afirmada ou negada, proposta para negociação ou não, embrulhada ou desembrulhada,  a reboque ou não da segurança individual, à umbreira ou não das negociações políticas, a guerra como tema parece constituir um leitmotiv. A questão central consiste em saber que gomos estratégicos se escondem por baixo dessa casca táctica sem perder de vista que a casca pode - por hipótese - ser mais importante do que os gomos.
Adenda 9 às 19:44: mas aqui e acolá aparece o apelo ao contrário da guerra, a paz. Parece não existirem outras palavras, interessante jogo antinómico.
Adenda 10 às 20:14: segundo a estação televisiva "STV", Dhlakama mandou parar os ataques na Estrada Nacional n.º 1.
Adenda 11 às 20:16: os bons, os maus e os feios - esta a tónica de certos analistas de ar profundo em certas estações televisivas.

26 outubro 2009

Analistas

Estava a ouvir, na rádio, comentários de analistas políticos. Devo reconhecer o meu grande espanto perante o profundo conhecimento que certos indivíduos, grandes apreciadores de receitas morais, revelam sobre relações políticas, sem precisarem sair de Maputo e das colunas de um ou dois jornais.
Adenda às 16: 58: Uma coisa que em 1847 Karl Marx escreveu: "Os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes, ou seja, a classe que tem o poder material dominante numa sociedade é também a potência dominante espiritual. A classe que dispõe dos meios de produção material dispõe igualmente dos meios de produção intelectual; de tal modo que o pensamento daqueles a quem é recusado os meios de produção intelectual está submetido igualmente à classe dominante. Os pensamentos dominantes são apenas a expressão ideal das relações materiais dominantes concebidas sob a forma de idéias e, portanto, a expressão das relações que fazem de uma classe a classe dominante; dizendo de outro modo, são as idéias e, portanto, a expressão das relações que fazem de uma classe a classe dominante; dizendo de outro modo, são as idéias do seu domínio”.

05 novembro 2014

Analistas

Com ar profundo, certezas nos rostos, verborreia sem pausa, andam analistas políticos de todos os quadrantes explicando nos doutos palanques televisivos e radiofónicos do país em quem e porque os eleitores votaram no dia 15 de Outubro sem que esses eleitores tenham sido consultados.

11 agosto 2016

Eleições municipais sul-africanas e análises trágicas [2]

Número inaugural aqui. Sugeri-vos um sumário no número inaugural desta série. Entro no primeiro ponto, a saber: 1. Introdução. O ANC ganhou folgadamente as eleições municipais deste ano, ainda que perdendo o controlo de cidades importantes [excluo nesta série abordar grupos sociais, localização regional e taxa de abstenção]. Venceu em 176 dos 213 municípios, enquanto a Aliança Democrática ganhou apenas em 24 [aqui]. Uma vitória "esmagadora", como costumam dizer, sem aspas, certos fogosos porta-vozes partidários. Mas falhou em cidades politica ou economicamente estratégicas. Aí há necessidade de formar coligações pois nenhum partido ultrapassou a fasquia dos 50%. [aqui e aqui]
No espectro partidário, esquerda, direita e nem-nem partilham o mesmo ponto de vista: o ANC falhou. Mágoa nuns, incredulidade noutros, receitas apaixonadas de como curar a ferida urbana dos resultados: tudo abunda em quantidade. Na verdade, em jornais, blogues do copia/cola/mexerica e redes sociais digitais, analistas de múltiplos azimutes e de fala rápida estão de acordo num ponto: o ANC perdeu legitimidade a vários níveis urbanos, terá de reciclar-se seriamente.

04 julho 2013

Dhlakama e o "governo de transição"

"Fungulamaso" (abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do semanário "Savana" sempre com 148 palavras.
Adenda às 6:57: andam trombetas em grande azáfama no ciberespaço. Na verdade, um pouco por todo o lado, de jornais digitais a blogues do copia/cola/mexerica, com títulos polvorentos, circula muito ruído sobre a mentalidade pretoriana de Dhlakama. Absolutizada pelos ventos castrenses, espartilhada entre guerra e paz à maneira de Tolstoi, a história acaba, afinal, por se esquecer dos fenómenos que estão à retaguarda dessa mentalidade e por parecer ter existência autónoma, exterior às estratégias políticas e aos analistas de ar profundo e copiadores ávidos de ideias guerreiras.
Adenda 2 às 7:06: estudando a informação que circula na internet, tenho por hipótese que o discurso de Dhlakama foi, nesta segunda conferência de imprensa, menos ofensivo, mais cauteloso, aqui e acolá quase suplicante.

15 maio 2008

Os últimos cartuchos de um tirano louco

Com o título em epígrafe, o editor do semanário "Savana", Fernando Gonçalves, assina esta semana um trabalho sobre o Zimbabwe que, pela sua importância, transcrevo na íntegra:
"A declaração feita pelo vice ministro da informação do Zimbabwe, Brighton Matonga, segundo a qual não há condições para a realização da segunda volta das eleições presidenciais, e que o Presidente Robert Mugabe (na imagem, CS) poderia continuar a governar o país por mais um ano, foi a indicação mais clara de que o governo zimbabweano não está interessado nas eleições, e que efectivamente o Zimbabwe está a ser dirigido por um regime ilegal.
Matonga fez aquelas declarações antes do anúncio, na Quarta Feira, do dia 2 de Agosto como a data para a realização da segunda das eleições presidenciais.
Mugabe e os seus acólitos sabem perfeitamente que é impossível ganharem as eleições nas actuais condições em que o país se encontra. Por isso, tudo estão a fazer para inviabilizar as eleições e continuarem a governar ilegalmente.
O cenário de um golpe de estado do tipo novo, em que o partido no poder simplesmente ignora os
resultados eleitorais e recorre à violência contra os seus próprios cidadãos, está a ganhar cada vez mais consistência.
A declaração de Matonga surge numa altura em que informações a partir do Zimbabwe dão conta de uma vasta campanha de violência perpetrada por milícias leais ao regime de Mugabe, numa estratégia que parece ter como objectivo intimidar potenciais apoiantes da oposição e desencorajá-los de votar na eventualidade da realização de uma segunda volta.
Rapto, violação e tortura
Várias organizações de defesa dos direitos humanos falam de actos sistemáticos nas zonas rurais de rapto, violação e tortura contra civis suspeitos de terem votado a favor da oposição nas últimas eleições realizadas no dia 29 de Março, e ganhas pelo Movimento para a Mudança Democrática (MDC).
O MDC anunciou, na Terça Feira, que outros oito apoiantes do partido haviam sido assassinados pelas milícias do regime nos últimos três dias, elevando para 32 o número de pessoas mortas na sequência da violência política que se seguiu às últimas eleições.
Há receios de que a violência, que até aqui tem ocorrido de forma isolada, poderá brevemente tornar-se sistemática e alastrar-se por todo o país, criando um ambiente propício para a não realização da segunda volta das eleições presidenciais, que legalmente devem ter lugar três semanas depois do anúncio dos resultados da primeira volta.
A situação está tão crítica que alguns analistas consideram que efectivamente o Zimbabwe está a ser governado por um regime militar, com Mugabe a desempenhar apenas um papel simbólico.
O porta-voz do MDC, Nelson Chamisa, disse na Terça Feira que na localidade de Gokwe, na província de Midlands, era notória a presença de um oficial das forças armadas, conhecido apenas por Major Moyo, que tem estado a comandar as operações de repressão contra a população civil, com o apoio de milícias ligadas à organização da juventude da Zanu-PF.
“O MDC recebeu a informação de duas mortes em Gokwe, na sequência de uma semana de violência sem precedentes na zona”, disse Chamisa. As duas mortes ocorreram no Domingo à noite, disse Chamisa, acrescentando que de acordo com testemunhas, uma das vítimas foi morta à facada, enquanto que a outra foi morta com uma machadada na cabeça. Os dois foram mortos depois de terem sido acusados de não apoiarem o Presidente Robert Mugabe.
O membro do parlamento pelo círculo de Gokwe, Kizito Mbiriza, que nas últimas eleições derrotou o candidato da Zanu-PF, tentou participar o caso junto do posto local da polícia, mas esta em vez de tomar conta da ocorrência deteve-o. Apoiantes do MDC que gerem negócios na zona viram os seus estabelecimentos destruídos pelos jovens milicianos.
Estas informações surgem depois do representante residente das Nações Unidas e coordenador das acções humanitárias da organização no Zimbabwe, o moçambicano Agostinho Zacarias, ter advertido que a escalada de violência pós-eleitoral poderá cedo transformar-se numa grave crise.
A crise pós-eleitoral no Zimbabwe obrigou várias organizações de assistência humanitária a suspenderem ou reduzir as suas actividades.
Thabo Mbeki
O Presidente Thabo Mbeki, que desde o ano passado tem estado a mediar no conflito zimbabweano em nome da SADC, deslocou-se no último fim-de-semana a Harare, onde teve uma reunião de quatro horas com Robert Mugabe.
A seguir, Mbeki dirigiu-se à sua embaixada para se reunir com uma equipa de generais das forças armadas sul-africanas, na reserva, destacados para investigar informações sobre a violência política no Zimbabwe. A equipa é chefiada pelo Tenente-General Gilbert Lebeko Ramano, antigo comandante do exército sul africano.
Zacarias é citado pela imprensa zimbabweana como tendo revelado que a representação das Nações Unidas em Harare estava a receber pedidos de assistência humanitária de pessoas afectadas pela violência política.
As vítimas acusam alguns elementos das forças de segurança, milícias jovens, veteranos de guerra e outros grupos apoiantes da Zanu-PF como os perpetradores. “Os relatos sobre estes incidentes (de violência política) indicam que algumas pessoas foram mortas, várias centenas de outras hospitalizadas, enquanto que muitas outras foram desalojadas dos seus lares…”, disse Zacarias.
Para além das 32 mortes, o MDC diz que pelo menos 5 mil pessoas foram obrigadas a abandonar as suas casas.
Segundo relatos de organizações de defesa dos direitos humanos, uma das figuras mais destacadas na coordenação das operações de repressão é o comissário nacional das prisões, Paradzai Zimondi, que é um Brigadeiro-General do exército na reserva.
De acordo com o Zimbabwe Peace Project (Projecto Paz Zimbabwe — ZPP), Zimondi tem estado a disponibilizar alimentos aos grupos de milicianos que desde 2000 constituíram-se numa autêntica brigada de choque do regime repressivo de Harare.
Os alimentos estarão a ser desviados dos já esfomeados centros prisionais nos vários pontos do país. Zimondi estará a utilizar uma das suas propriedades na província de Mashonaland Oriental para alojar e alimentar os milicianos responsáveis pelos actos de terror naquela região.
A directora do ZPP, Jestina Mukoko, disse: “temos conhecimento de um oficial superior, Paradzai Zimondi, que gere uma machamba de criação de porcos (…) que está a alimentar e financiar jovens envolvidos na violência, aterrorizando e espancando camponeses”.
Zimondi é um dos oficiais que publicamente declararam que só aceitariam uma vitória de Mugabe.
“Os chefes da violência são a Zanu-PF, os seus apoiantes e agentes da segurança do Estado, e é
preocupante e muito triste quando as pessoas vão ao ponto de queimar gado e tirar os olhos dos cabritos simplesmente porque o dono votou para a oposição; é muito triste”, disse Mukoko.
Diplomatas
Diplomatas acreditados em Harare têm estado a expressar a sua preocupação sobre a situação no Zimbabwe, tendo lançado, na Sexta-Feira, um apelo ao Presidente Mugabe para que respeite os direitos dos seus cidadãos e ponha fim aos actos de violência.
Falando depois de visitar vítimas da violência hospitalizados numa clínica privada em Harare, juntamente com outros colegas, o embaixador dos Estados Unidos, James McGee, descreveu a situação como uma brutalidade absoluta. “Eles (o governo) não podem negar, porque vimos, temos as fotografias, temos o som. Isto é uma brutalidade absoluta”, disse o diplomata. McGee ouviu em primeira mão a história de uma anciã de 80 anos de idade, proveniente do distrito nortenho de Mutoko, que disse que a sua palhota foi queimada antes dos milícias partirem-lhe os braços. “Não percebo como é que uma avó de 80 anos deve ser agredida. A violência no Zimbabwe deve parar agora”, disse McGee.
O embaixador britânico, Andrew Pocock, disse que o regime de Mugabe, no seu desespero para se manter no poder, está a cometer actos de violência contra o seu próprio povo. “A violência está a ser perpetrada pelo governo, contra o seu próprio povo, por nada mais do que permanecer no poder”, disse o diplomata.
Outros diplomatas que visitaram as vítimas da tortura são da Alemanha, Angola, Espanha, Holanda, Suécia e União Europeia. A anciã, cuja identidade os médicos recusaram-se a revelar, descreveu como, em desespero de causa, pediu aos jovens que a atacaram a acabarem com a sua vida. “Atacaram-me com tijolos, e os médicos dizem que perdi muito sangue”, disse ela aos visitantes. Acrescentou: “Conheço as pessoas que me atacaram. Elas tinham facas, e eu chamei-as pelos seus nomes, pedindo-lhes para que acabassem comigo”. Numa outra cama, um professor primário, proveniente de um outro distrito do norte do país, conta uma história quase idêntica. “Estava a dormir quando ouvi mísseis a caírem sobre a casa. Saí e vi mais de 150 milícias. Eles torturaram-me, desferiram-me golpes à catanada nas mãos”, disse o professor. Acrescentou que só lhe deixaram porque pensavam que estava morto.
Campanha de intimidação
A campanha de intimidação está a ser dirigida também contra os jornalistas. Na Quinta Feira, elementos dos serviços de segurança dirigiram-se às instalações de um jornal privado, o semanário Standard, e detiveram o seu editor, Davison Maruziva.
A detenção do jornalista está relacionada com um artigo de opinião escrito por um político da oposição. A polícia deteve também um fotógrafo da agência noticiosa Associated Press, Howard Burdit, acusando-o de estar a usar um satélite para transmitir fotografias das vítimas da violência. Maruziva foi detido devido a um artigo escrito pelo líder da outra facção do MDC, Arthur Mutambara, para marcar a passagem do 28º aniversário da independência do Zimbabwe. No artigo, Mutambara questionava a legitimidade de Mugabe e o seu regime continuarem no poder depois de terem perdido as eleições.
Ainda na semana passada, as autoridades detiveram um advogado conhecido por Harrison Nkomo, acusando-o de ter feito uma declaracção insultuosa contra Mugabe no tribunal, durante uma sessão em que ele defendia um jornalista freelance, Frank Chikowere, acusado de incitação à violência durante uma manifestação da oposição no mês passado." (pp. 2-5)

11 março 2009

Ainda o MDM

No "Notícias" de hoje: "(...) questionando sobre se o MDM não representava ameaça à Frelimo, Edson Macuácua afirmou que a abertura ao multipartidarismo no país é obra da Frelimo e que, pessoalmente, duvidava que o Movimento Democrático de Moçambique seja, efectivamente, uma nova formação política ou é consequência da divisão ou cisão no seio da Renamo." Há um segundo trabalho no jornal, procurando provar que o MDM "integra na maioria dessidentes da Renamo".
Comentário: em luta política, existe um princípio básico: mostrar que o galo é galinha no geral e galo trânsfuga no particular, no pressuposto básico de que o galinheiro tem um dono irreversível. Portanto, em certo pensamento da praça, o MDM nada tem de novo: é apenas uma picada na estrada da Renamo, num galinheiro criado pela Frelimo. Mas mais: em vário desse pensamento, nem teria valido a pena ter-se criado um MDM. Mas mais ainda: houve quem quisesse uma Renamo sem Dhlakama: este é tirano - defendeu-se e defende-se. Agora que é suposto ela ter surgido, com um líder jovem e aberto, diz-se que é muito cedo ainda para singrar. E não vale a pena Deviz pensar em voos mais altos, as asas são ícaras, de cera - sustenta-se. Sim senhor, muito interessante, muito poliédrico. A procissão ainda vai no adro.
Adenda 1 às 12:43: do editorial do jornalista Salomão Moyana, no "Magazine Independente" desta semana: "Alguns "analistas" fartam-se de insistir numa ridícula comparação entre o caso de Daviz Simango e o caso de Raul Domingos, dizendo que "o MDM não representa perigo a ninguém, em termos políticos". É mentira! O MDM representa enorme perigo político à Frelimo e à Renamo, juntas". Mais à frente, Moyana escreve que Raul Domingos nunca ganhou nada, enquanto Simango já por duas vezes venceu eleições na Beira (p. 7).
Adenda 2 às 12:48: discurso de encerramento proferido por Deviz Simango no encerramento dos trabalhos de formação do MDM. Aqui.

22 maio 2007

Os jogadores de xadrez



Acontece-me por vezes ter uma severa inveja de não ser poeta. Todavia, longe de mim a bárbara ideia de atribuir aos poetas a perversa convicção de que os jogadores de xadrez até podem ou podiam ser outras coisas, determinados cientistas por exemplo - doces, plácidos, calmos, distantes, cépticos das acções, estetas do bem, amantes da bela ciência incontaminada pelo senso-comum, analistas en profondeur do esforçado e inglório viver dos peões. Longe de mim, portanto, a ideia de atribuir tão maligna ideia a Ricardo Reis, um dos Fernandos Pessoas. Porque - quem duvida? - apenas lhe interessaram dois jogadores de xadrez e mais ninguém:


Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia
Tinha não sei qual guerra,
Quando a invasão ardia na Cidade
E as mulheres gritavam,
Dois jogadores de xadrez jogavam
O seu jogo contínuo.
À sombra de ampla árvore fitavam
O tabuleiro antigo,
E, ao lado de cada um, esperando os seus
Momentos mais folgados,
Quando havia movido a pedra,
E agora esperava o adversário,
Um púcaro com vinho refrescava
Sobriamente a sua sede.
Ardiam casas, saqueadas eram
As arcas e as paredes,
violadas, as mulheres eram postas
Contra os muros caídos,
Traspassadas de lanças, as crianças
Eram sangue nas ruas...
Mas onde estavam, perto da cidade,
E longe do seu ruído,
Os jogadores de xadrez jogavam
O jogo de xadrez.

Inda que nas mensagens do ermo vento
Lhes viessem os gritos,
E, ao refletir, soubessem desde a alma
Que por certo as mulheres
E as tenras filhas violadas eram
Nessa distância próxima,
Inda que, no momento que o pensavam,
Uma sombra ligeira
Lhes passasse na fronte alheada e vaga,
Breve seus olhos calmos
Volviam sua atenta confiança
Ao tabuleiro velho.

Quando o rei de marfim está em perigo,
Que importa a carne e o osso
Das irmãs e das mães e das crianças?
Quando a torre não cobre
A retirada da rainha branca,
O saque pouco importa.
E quando a mão confiada leva o xeque
Ao rei do adversário,
Pouco pesa na alma que lá longe
Estejam morrendo os filhos.

Mesmo que, de repente, sobre o muro,
Surja a sanhuda face
Dum guerreiro invasor, e breve deva
Em sangue ali cair
O jogador solene de xadrez,
O momento antes desse
(É ainda dado ao cálculo dum lance
Pra efeito horas depois)
É ainda entregue ao jogo predileto
Dos grandes indiferentes.

Caiam cidades, sofram povos, cesse
A liberdade e a vida.
Os haveres tranquilos e os avitos
Ardem e que se arranquem,
Mas quando a guerra os jogos interrompa,
Esteja o rei sem xeque,
E o de marfim peão mais avançado
Pronto a comprar a torre

Meus irmãos em amarmos Epicuro
E o entendermos mais
De acordo com nós-próprios que com ele,
Aprendamos na história
Dos calmos jogadores de xadrez
Como passar a vida.
Tudo o que é sério pouco nos importe,
O grave pouco pese,
O natural impulso dos instintos
Que ceda ao inútil gozo
(Sob a sombra tranquila do arvoredo)
De jogar um bom jogo.
O que levamos desta vida inútil
Tanto vale se é
A glória, a fama, o amor, a ciência, a vida,
Como se fosse apenas
A memória de um jogo bem jogado
E uma partida ganhaa um jogador melhor.
A glória pesa como um fardo rico,
A fama como a febre,
O amor cansa, porque é a sério e busca,
A ciência nunca encontra,
E a vida passa e dói porque o conhece...
O jogo do xadrez
Prende a alma toda, mas, perdido, pouco
Pesa, pois não é nada
Ah! sob as sombras que sem qu'rer nos amam,
Com um púcaro de vinho
Ao lado, e atentos só à inútil faina
Do jogo do xadrez
Mesmo que o jogo seja apenas sonho
E não haja parceiro,
Imitemos os persas desta história,
E, enquanto lá fora,
Ou perto ou longe, a guerra e a pátria e a vida
Chamam por nós, deixemos
Que em vão nos chamem, cada um de nós
Sob as sombras amigas
Sonhando, ele, os parceiros e o xadrez
A sua indiferença.
(1916)
Ricardo Reis

21 setembro 2010

Triplo sentido

Para o fenómeno A entendemos que a explicação B é adequada. Operamos na coisa mais visível - a pele do fenómeno A - , sem nos preocuparmos em saber que cada fenómeno tem um triplo sentido: (1) o que desvela, (2) o que esconde e (3) o que suscita nos analistas.
Adenda às 20:24: regressarei ao tema do triplo sentido na minha série Causas e características das manifestações em Maputo e Matola.

28 setembro 2007

Melhorámos nos negócios

"O capitalista, ao transformar o dinheiro em mercadorias que servem de elementos materiais de um novo produto, incorporando-lhes em seguida a força de trabalho vivo, transforma o valor - do trabalho anterior, morto, tornado coisa - em capital, em valor engrossado de valor, monstro animado que se põe a trabalhar como se tivesse o diabo no corpo" (Karl Marx em "O Capital")
Enquanto o semanário "O País" tem hoje como uma das suas manchetes os dados da Transparency International (baseados nas percepções de empresários e analistas locais) que nos colocam Moçambique entre "os mais corruptos do mundo" (obtivemos o 111.º lugar numa lista de 179) (p. 6), o suplemento "Economia e Negócios" do "Notícias" dedicou as suas centrais, com um gigantesco título garrafal e vermelho, à notícia de que o país subiu seis lugares no ranking "Doing Business 2008" do Banco Mundial (BM) (passámos do 140º lugar para o 134.º, com dados até Junho de 2007).
O "Notícias" mostra-se muito safisfeito, o empresário Salimo Abdula disse que é "um bom sinal" e o ministro do "Made in Mozambique", António Fernando, afirmou que a subida "era de esperar" face ao bom trabalho que o Governo tem feito. Num país de "renda baixa", o indicador que mais progressos registou foi o de "protecção de investidores" (lamentavelmente o jornal não nos mostra o que isso significa, certamente é tarefa do Banco Mundial, pp. 4-5).
Como sou pecaminosamente ignorante, não encontrei, claro, nenhuma referência a salários. Teria perversamente gostado de encontrar uma rubrica do género "protecção de salários". O que figura nos dados do BM reportados pelo "Notícias" é, por exemplo, uma rubrica chamada "contratação de funcionários", com indicadores como "índice de regidez de salários", "índice de dificuldade de demissão" (fantástico indicador este!), "índice de rigidez trabalhista", "custos extra-salariais" e "custos de demissão".
Lamentavelmente - por aquilo que o "Notícias" mostra -, os nossos índices são ainda elevados, ainda não aprendemos a salariar à maneira, a despedir rápido e a impedir custos de demissão.
Mas o ministro do "Made in Mozambique" tranquilizou os empresários através do "Notícias" afirmando que a nova Lei do Trabalho "introduziu uma série de facilidades, com destaque para a contratação da mão-de-obra, particularmente no que diz respeito à rescisão do contrato de trabalho e respectivas indeminizações" (p. 5). Por outras palavras, o que o ministro disse sem dizer dizendo é que a situação dos trabalhadores vai piorar. O Governo tem em curso - disse satisfeito António Fernando -um "vasto trabalho" para facilitar ainda mais o ambiente de negócios. Não tenho qualquer dúvida sobre isso.
Entretanto e ainda na sua edição de hoje, o "O País" dá conta da difícil vida dos trabalhadores nas construção civil, procurando sobreviver com magros salários (p. 11).

14 janeiro 2015

Certamente não é o sexo dos anjos

A propósito de Moçambique: "No 'Global Economic Prospects', no original em inglês, os analistas do Banco Mundial dizem que "os campos de gás natural em águas profundas têm reservas estimadas equivalentes a 20 mil milhões de barris de petróleo, mais do que em Angola ou na Nigéria (os dois maiores produtores de petróleo na África subsaariana)". Aqui e aqui.
Observação: certamente não é o sexo dos anjos o que, há meses, interminavelmente, se discute no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano entre Estado e Renamo.

15 agosto 2011

Ainda sobre as manifestações na Inglaterra

Sobre as manifestações na Inglaterra, um trabalho de Txente Rekondo: "São muitos os analistas que, fazendo eco da ideologia dominante na classe política do status quo tendem a simplificar a situação, centrando os seus trabalhos e artigos em condenar a violência provocada e reduzindo a situação a um "problema violento". Porém, também há aqueles que procuram analisar as causas que provocam estas revoltas." Aqui. Complete a leitura com este trabalho de Juan Sanchéz, aqui. Para traduzir, aqui.

29 abril 2016

Em 2012 também houve uma sexta-feira

No dia 01 de Junho de 2012 inaugurei, neste diário, uma série intitulada "O poder de persuasão dos sms", que começou assim: "Pessoas receberam ontem nos celulares a notícia de uma greve, com ameaça de assaltos, hoje na cidade de Maputo. Esta é uma série destinada a descrever e a analisar o poder de persuasão dos SMS." Aqui. Último número aquiTenho por hipótese que basta substituir, no título e no corpo do texto, "sms" por "redes sociais digitais", para mantermos actual o texto de há quase quatro anos atrás. Texto reconstituído da série aqui.
Em ambos os casos os promotores anónimos das manifestações marcaram-nas para uma sexta-feira, como se fossem os mesmos, ontem com os sms e hoje com as redes sociais digitais.
E hoje é sexta-feira.
Adenda às 07:47: o editor do semanário "Savana", Fernando Gonçalves, está a fazer uma excelente análise no programa "café da manhã" da Rádio Moçambique, a propósito da intervenção ontem do Primeiro-Ministro Carlos Agostinho do Rosário sobre a dívida pública. Uma análise de quem estudou o tema e se furta às emoções, à hostilidade e aos histerismos de certos analistas da praça.
Adenda 2 às 10:05: a "Rádio Moçambique" tem jornalistas nas cidades de Maputo e Beira dando conta do movimento urbano. Resumo neste momento: situação calma em ambas as cidades, em Maputo autocarros públicos, chapas, myloves em maior número agora.

11 janeiro 2015

A tese do Cardeal Langa

"[...] os chefes não se escolhem, eles nascem. Tanto é que a democracia é uma coisa muito nova na nossa cultura. Creio que a democracia ainda é um fenómeno estranho à nossa cultura." Aqui.
Observação: aqui está um tema à maneira para alegrar a fortuna analítica dos analistas que gostam de postulados.

16 fevereiro 2011

O problema levantado por Refinaldo Chilengue

A propósito das manifestações ocorridas em países do Norte de África e do Médio Oriente, o editor do "Correio da Manhã", Refinaldo Chilengue, escreveu uma crónica intitulada Os Castrados, na qual afirma que os analistas nacionais "Não viram, naqueles países, vândalos e delinquentes, viram no Egipto e na Tunísia manifestantes legítimos a exigir os seus direitos, coisa que rareia por cá..." Aqui.
Comentário às 22:22: sem dúvida um belo tema para reflexão, este, tendo em conta como em 2008 e 2010 foram rotulados os manifestantes no nosso país.

30 janeiro 2016

Ano do renminbi em África?

No macauhub: "Países africanos como Angola e Moçambique procuram alternativas aos escassos dólares norte-americanos, levando alguns analistas a decretar 2016 o “ano do renminbi em África”, no qual Macau pode ter um papel importante." Aqui.

03 junho 2008

Xenofobia na África do Sul: Jonas Mavihani desmonta teoria da conspiração

Por vezes aparece alguém a escrever para além da diatribe estereotipada ou do cientifismo moralizador. E a fazê-lo com brilho, mesmo que não concordemos com ele ou com ela. É o caso de Jonas Manuel Mavihani, em trabalho divulgado hoje no “Notícias” e cujos dois primeiros parágrafos são os seguintes: "Infelizmente, os analistas políticos, jornalistas e outros que agora estão a falar muito nunca põem o dedo na ferida. Falam sobre um partido liderado por príncipe zulu e sobre uma possível terceira força que teriam instigado os atentados contra cidadãos estrangeiros residentes na África do Sul, para além dos criminosos que normalmente passeiam a sua classe neste país. Estas teorias todas pecam por uma coisa: atribuem as culpas a terceiros e criam outras expectativas. Por exemplo, ao atribuir todas as culpas a uma terceira força, cria-se a esperança de algum dia, após as investigações, as forças de defesa e segurança apresentarem algumas provas ou elementos pertences a tal terceira força. É geralmente sempre a mesma coisa entre nós, os africanos: as nossas desgraças são causadas por terceiros – colonialismo, imperialismo, terceiras forças, etc., etc. Nunca geralmente aceitamos que as nossas acções constituem um fermento ou catalisador activo das nossas desgraças. Portanto, espero que as pessoas interessadas no que está a acontecer aqui na RAS (estamos todos, mas refiro-me aqui às estruturas), façam uma análise profunda e muito séria. Estava a pensar em fazê-lo e em publicar os resultados num jornal académico no estrangeiro, sob forma de artigo. De facto, um colega sugeriu-me que escrevesse sobre a matéria, mas ainda não tenho a certeza se o devo fazer, pois também sou vulnerável."