"Segundo dados estatísticos coligidos, o país registou, no ano de 2016, em média, dois linchamentos por semana. Os números demonstram, infelizmente, que os linchamentos tornaram-se uma prática da realidade moçambicana [...]. [...] o linchamento é um problema social que não pode ser solucionado, primariamente, por acções repressivas, devendo dar-se primazia às acções de prevenção como a promoção de debates [...] - Informação Anual do Procurador-Geral da República à Assembleia da República [2017], pp. 37-38.
Confira o número anterior aqui. Termino a resposta à quarta pergunta. [amplie a imagem acima clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato]
Celso Ricardo: Até que ponto é válido o argumento segundo o qual os linchamentos são uma autodefesa do povo vítima? Quem cria as condições para o povo recorrer ao linchamento?
Eu: O linchamento é um fenómeno multifactorial, não lhe são certamente estranhas as sequelas psicológicas (em particular a nível da educação familiar, por via da violência e do medo) das guerras, especialmente da que decorreu grosso modo entre 1976 e 1992. Em última análise, como propôs um especialista brasileiro de linchamentos, o linchamento clássico periurbano é um acto conservador, destinado, ainda que de forma errada, a repor a ordem. Nos meus termos, é uma desordem que apela à ordem, é, em sua forma criminosa de “controlo social” privativo, um apelo extemo e danoso ao Estado-guardião, ao Estado-reparador. Melhor ainda: é ao mesmo tempo uma crítica do e um apelo ao Estado. Seja qual for a modalidade, o linchamento é um eclipse dos órgãos formais da justiça, é também um eclipse das instâncias informais que procuram resolver conflitos como as igrejas e as chefias tradicionais.
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