02 dezembro 2011

Diário de campanha (10)

Prossigo a série, abordando mais alguns pontos, mas lamentando sempre não poder estar no terreno observando e ouvindo.
Eclipse do candidato. Os jornais e a televisão têm mostrado duas coisas: um eclipse do candidato em favor do partido (especialmente ao nível da Frelimo) e uma concentração grande de recursos humanos em Quelimane. Passo ao primeiro ponto. A Frelimo tem estado literalmente a ocupar as três cidades eleitorais com figuras séniores do seu partido e do Estado. E, regra geral, nota-se quanto os candidatos a edis locais pelo seu partido são colocados na sombra, são esquecidos na penumbra dos grandes nomes aparatosamente vindos da capital na convicção de que a sua presença atrairá votos. Realmente, o poder local é literalmente substituído pelo grande poder central chegado de avião. Isto parece revelar duas coisas: a exibição intencional do poder de poder (sem esquecer o poder motorizado dos desfiles) e a preocupação com adversários locais menos apetrechados em recursos técnicos mas eventualmente mais respeitados pelos potenciais votantes.
Quelimane, a placa giratória. A velha cidade de Quelimane parece ter-se tornado na placa giratória das eleições locais, mesmo ao nível da internet. Por ela têm passado figuras séniores da Frelimo, mas também do Estado, numa frente estratégica enorme para fazer face a Manuel de Araújo do MDM, com a sua corte de jovens a pé e em táxis-bicicletas. É uma autêntica luta entre duas concepções de mobilização: a do desfile motorizado/comício e a da porta-a-porta pedestre e bicicleteira.
(continua)
Adenda 1: abordo múltiplos aspectos da engenharia eleitoral no seguinte livro: Serra, Carlos (dir), Eleitorado incapturável, Eleições municipais de 1998 em Manica, Chimoio, Beira, Dondo, Nampula e Angoche. Maputo: Livraria Universitária, 1999, 354 pp., confira especialmente pp. 43-243.
Adenda 2: recorde duas séries minhas, uma em 17 números intitulada Poder e representação: teatrocracia em Moçambique, aqui; outra, em 20 números, intitulada Para ganhar as eleições em Quelimane, aqui.
Adenda 3: o candidato da Frelimo em Quelimane, Lourenço Abubacar, tem uma página no facebook, aqui (propaganda promotora aqui); por sua vez, o candidato do MDM, Manuel de Araújo tem um portal na internet para a sua campanha, aqui. O Partido Humanitário de Moçambique não tem portal na internet, o mesmo sucedendo com o seu candidato a edil em Pemba, Emiliano Moçambique.
Adenda 4 às 15:57: segundo uma fonte sedeada em Quelimane, o primeiro-ministro Aires Aly "e toda a máquina da Frelimo estão em Quelimane, incluindo a governadora da cidade de Maputo. Por outro lado, está Deviz Simango, vai ficar aqui até ao dia das eleições."

5 comentários:

Salvador Langa disse...

Reparem que não há nem observadores internacionais nem nacionais.

ricardo disse...

http://livrepensadormoz.blogspot.com/2011/11/bombardeamento-eleitoral.html

TaCuba disse...

Um vice ministro disse há dias que nada havia de especial em usar carros com matrículas tapadas com fotografias de um candidato. E lá voltamos à questão levantada pelo Salvador.

BMatsombe disse...

Partidocracias...

Nipiode disse...

Esta e uma fase delicada na frente geracional da FREL. Os mais velhos levaram muito tempo a aceitar que ja nao tem novos truques,acabaram por encontrar gente menos cinquentona e mesmo assim estes estao a ficar para traz.... Acada momento neste mundo em que vivemos, um novo produto tecnologico hoje, daqui a um mes esta descontinuado no mercado. Esta a ser com muito custo os libertadores que foram jovens , passarem o testemunho, memso sabendo que o tem que fazer. Enquanto UM anda de biclicleta kilometros vendendo o seu manifesto, porque tem juventude para isso, outros deslocam-se de carro numa campanha autarquica onde o AC nao falha. Sao opcoes, e sendo recordar: o politico que vence a custa do seu trabalho geralmente corre o risco de perder um acto eleitoral. O que vicia para manter o poder geralmente nao se preocupa com os resultados da sua politica emprendedora. Estamos chegando ao momento em que os politicos serao avaliados nao pelos resultados mas sim, a capacidade de mudarem mentalidades. Ha que mudar sim,.mas quem decide e o municipe. Mudar e bom, mesmo sabendo que a inexperiencia pode ser o calcanhar de aquiles...mas tambem os guerrilheiros da FRELIMO saidos da mata, sem instrucao, geriram Mocambqiue em momentos de quase roptura da patria e conseguiram atravessar todas as adversidades para que esta Nacoes cotinuassem juntas em prol da unidade nacional.Portanto, os jovens que hoje surgem na politica, com formacao superior, com visao modernista do mundo estao mais bem preparados para pegar o leme. Nao e?