E se os Moçambicanos fossem Chineses? (18)

"Espere o melhor, prepare-se para o pior e receba o que vier." (provérbio chinês)
Prossigo a série, mantendo-me ainda no ponto 5 do sumário, a saber: Poder político, Capital e relações assimétricas. E, sempre, trabalhando apenas com hipóteses e dúvidas.
Escrevi no número anterior que a disponibilidade para o contacto, digamos que a predisposição para a horizontalidade cultural, é determinada pela desigualdade de posse e gestão de recursos de poder político e de Capital. Ora, os Chineses (uma vez mais permitam-me usar um termo tão genérico quanto esse) são, a este nível, consideravelmente bem mais poderosos do que nós, sabem que são uma potência mundial, sabem que são gestores de inúmeros recursos, sabem que nos emprestam dinheiro, sabem que precisam de algumas das nossas mais preciosas riquezas naturais, sabem que estão aptos para investir, gerir Capital e obter mais-valia. Então, independentemente das diferenças sociais, a predisposição para a horizontalidade cultural pode tornar-se predisposição para a verticalidade social, para o comando, para o estereótipo, para o domínio. Isto nada tem a ver com boa ou má vontade no sentido psicológico individual ou com deformação cultural, mas com relações sociais concretas e assimétricas. Parafraseando Marx, são os homens que fazem a história, mas não nas condições por eles escolhidas.
Prossigo mais tarde.

(continua)

Leitura recomendada: Feijó, João, Relações sino-moçambicanas em contexto laboral - uma análise de empresas em Maputo, in Serra, Carlos, A construção social do Outro, Perspectivas cruzadas sobre estrangeiros e Moçambicanos. Maputo: Imprensa Universitária, 2010, pp. 225-296.