08 abril 2011

Desmobilizados de guerra, mobilizados da história (8)

O oitavo número desta série.
Escrevi no número inaugural que faz anos que jornais, blogues e redes sociais se povoam com os desmobilizados de guerra do nosso país.  Regra geral, o tema está cheio de pronunciamentos, de condenações, de ameaças, de promessas de manifestações, de cancelamentos à última da hora, de acordos prometidos, de quase acordos, de acordos supostamente desfeitos, de acordos denunciados, uma real história de amor e ódio, de fidelidade e pecado. Creio que o mais recente relato está aqui.
Escrevi em número anterior que a guerra foi como que democratizada, que a história tem novos actores reconhecidos, que os desmobilizados de guerra de ontem são os mobilizados da história de hoje. Porém - acrescentei - resta um problema: o dos heróis.
Mais um pouco desta delicada questão dos heróis. São heróis definidos no interior de uma luta política e militar contra opositores externos (coloniais) e internos da frente de libertação. Os restos mortais de alguns desses heróis estão na Praça dos Heróis. Existem pessoas que não estão nessa Praça, cujo estatuto foi, certamente, considerado menos relevante ou menos decisivo, mas que têm os seus nomes em ruas e em praças do país. Na Praça dos Heróis estão, porém, os restos mortais de pelo menos duas pessoas que não fizeram directamente a caminhada da luta armada, mas cuja grandeza como poeta um, como maestro outro, como patriotas ambos, levaram a Frelimo a dar-lhes o estatuto de heróis. Trata-se de José Craveirinha e de Justino Chemane. Creio que são as excepções.
Prossigo mais tarde.
(continua)

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