21 setembro 2010

No lugar deles, o que faríamos? (3)

Mais um pouco desta série.
No último número deixei a pergunta: o que sucede quando nos colocamos a pergunta em epígrafe? A resposta, por hipótese pessimista e apórica, mas sensata: acontece que continuamos (e continuaremos) a tentar ser nós, irredutivelmente nós. O que significa tentar ser nós? Significa construir outrem, por exemplo construir os manifestantes de 1/3 de Setembro com o sistema cognitivo que é o nosso, com as categorias analíticas que são as nossas. Melhor: com o sistema e com as categorias que entendemos serem os nossos. Por outras palavras, outrem, o Outro é um eu maior, colectivizado, um eu desdobrado ao infinito por n eus padronizados. E como nos consideramos pessoas muito racionais e bem-comportadas, parece ser justo intuir que diríamos algo como: fazer como eles, ser violentos como eles? Nem pensar! Nós somos o equilíbrio, a boa causa, a sensatez. 
(continua)

Sem comentários: