"Do rio que tudo arrasta se diz violento, porém ninguém diz violentas as margens que o comprimem" (Bertolt Brecht).
Mais um pouco desta série, na qual, lá mais para a frente, procurarei reencontrar os leões de Muidumbe, pois a história desses leões é bem mais do que um conjunto articulado de violências, é, especialmente, um excelente campo de utensílios analíticos; desta série na qual tempo haverá para vos falar de recursos de vida e poder; desta série, enfim, que tem por tema um fenómeno do qual está invariavel e publicamente omisso o discurso daqueles que são o objecto da análise, o discurso local, o discurso dos manifestantes.
Escrevi anteriormente que havia cinco coisas sobre as quais iria debruçar-me um pouco, designadamente: 1. Atracção pela moralização; 2. Protocolos correntes de leitura e análise na imprensa; 3. Características da revolta; 4. Possíveis causas; 5. Questões em aberto. No segundo ponto propus quatro protocolos que foram correntes na imprensa no concernente à leitura e à análise das manifestações. Tendo já escrito sobre os dois primeiros (produção de estigma e produção sistemática de causalidade externa), avanço para o terceiro.
Mais um pouco desta série, na qual, lá mais para a frente, procurarei reencontrar os leões de Muidumbe, pois a história desses leões é bem mais do que um conjunto articulado de violências, é, especialmente, um excelente campo de utensílios analíticos; desta série na qual tempo haverá para vos falar de recursos de vida e poder; desta série, enfim, que tem por tema um fenómeno do qual está invariavel e publicamente omisso o discurso daqueles que são o objecto da análise, o discurso local, o discurso dos manifestantes.
Escrevi anteriormente que havia cinco coisas sobre as quais iria debruçar-me um pouco, designadamente: 1. Atracção pela moralização; 2. Protocolos correntes de leitura e análise na imprensa; 3. Características da revolta; 4. Possíveis causas; 5. Questões em aberto. No segundo ponto propus quatro protocolos que foram correntes na imprensa no concernente à leitura e à análise das manifestações. Tendo já escrito sobre os dois primeiros (produção de estigma e produção sistemática de causalidade externa), avanço para o terceiro.
2.3. Produção sistemática do pacifismo moçambicano. Para a era colonial, defendia-se e defende-se que os Moçambicanos eram em permanência resistentes às injustiças sociais. Porém, na era nacional defendem certos círculos que os Moçambicanos são pacíficos por natureza, que são propensos à paz e à bonomia por natureza, que são capazes de suportar em silêncio não importa que agravo, que dor, que injustiça. Mas essa quase geno-teoria fica comprometida quando surgem manifestações populares, quando irrompe um curto-circuito social. Então, torna-se necessário explicar por que certos Moçambicanos ficam de repente nervosos e violentos, por que saem do seu natural e se tornam socialmente indesejáveis. (foto reproduzida daqui)
(continua)
Nota: a base desta série (que está igualmente a ser reproduzida no semanário "Savana") é constituída pelos temas que desenvolvi recentemente em palestras proferidas no Observatório Juvenil e no Parlamento Juvenil.
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