"Infelizmente há momentos em que a violência é a única maneira de assegurar a justiça social." (Thomas Stearns Eliot)
Mais um pouco da série.
Mais um pouco da série.
Escrevi no número anterior o seguinte: creio ser legítimo dizer que quando falamos em violência todos sabemos uma coisa: que a violência é violenta, que a violência é algo de extremo, é algo que sai fora do normal. Palavra ambígua, anfibológica, esta. Mas mesmo que todos saibamos o que é violência, vamos lá a uma pergunta simples: o que é violência?
Permitam-me propor-vos uma definição disponível na internet, a saber: "Violência é um comportamento que causa dano a outra pessoa, ser vivo ou objeto. Invade a autonomia, integridade física ou psicológica e mesmo a vida de outro. É o uso excessivo de força, além do necessário ou esperado. O termo deriva do latim violentia (que por sua vez é amplo, é qualquer comportamento ou conjunto de deriva de vis, força, vigor); aplicação de força, vigor, contra qualquer coisa ou ente."
Mas vamos tornar as coisas um pouco mais complexas. Tentarei aprofundar o conceito violência fazendo uso de um fenómeno que em princípio nada tem a ver com o sismo social de 1/3 de Setembro, a saber:
Entre Junho de 2002 e Maio de 2003 sete leões provocaram pânico generalizado durante vários meses no distrito de Muidumbe, província de Cabo Delgado, população de cerca de 63.000 pessoas em cálculo da altura. Comeram 46 pessoas e feriram outras seis. Na altura havia fome nesse distrito de agricultura de subsistência à base de milho e com 60% de analfabetos. Campeava a seca. Mas não só: a guerra civil afastara as pessoas da região durante alguns anos. Finda a guerra, elas regressaram e encontraram um ecossistema onde os animais viviam, onde os leões tinham antílopes para comer. O regresso dos humanos desarticulou o habitat dos animais, os antílopes afastaram-se. Os leões passaram a caçar, então, os humanos. Acontece, porém, que o comum dos mortais locais não tomou em consideração essas subtilezas do meio-ambiente e achou que os leões eram magicamente comandados à distância por outros seres humanos ou que eram, pura e simplesmente, pessoas encarnadas em leões. Impotentes, desesperados, habitantes enfurecidos deram então curso à catarse, espécie de rito de purificação social total, linchando 18 dos seus compatriotas, acusados de participarem no comando. Todavia, os principais acusados de comandarem os leões à distância eram pessoas bem distintas: o administrador distrital, os régulos, membros do partido no poder, um comerciante, etc. O administrador foi acusado de ter sacos de dinheiro, de possuir um helicóptero silencioso e invisível, de fazer negócios estranhos com os “brancos”. Um doente mental foi também acusado, coisa aparentemente anómala. Todavia, essa figura pertencia igualmente à família causal considerada responsável pela crise local (foto reproduzida daqui).
(continua)
1 comentário:
Em algumas fontes vejo que o numero de mortes destas manifestacoes subiu (de 13) para 18. Alguem tem mais informacoes sobre isto?
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