"Segundo dados estatísticos coligidos, o país registou, no ano de 2016, em média, dois linchamentos por semana. Os números demonstram, infelizmente, que os linchamentos tornaram-se uma prática da realidade moçambicana [...]. [...] o linchamento é um problema social que não pode ser solucionado, primariamente, por acções repressivas, devendo dar-se primazia às acções de prevenção como a promoção de debates [...] - Informação Anual do Procurador-Geral da República à Assembleia da República [2017], pp. 37-38.
[foto acima: mulheres acusadas de feitiçaria e expulsas pelas famílias]
Confira o número anterior aqui. Prossigo na sexta pergunta, agora com a sexta parte da resposta. [amplie a imagem acima clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato]
Celso Ricardo: Em alguns pontos do país, como Maputo e Beira, consolidou-se uma forma alternativa de controlo social, em que o povo toma a dianteira na perseguição de supostos meliantes, o que resulta em linchamentos. Será que estamos perante uma falha dos trabalhos de sensibilização destinados a fazer com que suspeitos de crimes sejam encaminhados para os órgãos formais de justiça?
Eu: [continuidade da resposta] Então, toda essa preocupante situação requer um amplo debate, um amplo trabalho nas escolas, especialmente nas escolas (com os professores, especialmente os de Biologia, História e Educação Cívica e Moral, mas também com os alunos) e nas comunidades. Debate nacional que deve igualmente ter em conta a imputação que faz parte do nosso dia-a-dia, aquela atribuição de causas que faz do feitiço um agente vector, aquela atribuição de causas que tantas mortes e tantas lesões morais causam, aquela imputação que nos torna clientes permanentes dos chamados “médicos tradicionais”. [resposta a prosseguir].
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