Ontem de manhã meti-me na marginal da cidade de Maputo com o meu carro, até à Costa do Sol. Com a chuva caída, há partes da estrada quase intransponíveis, há buracos que parecem crateras nucleares, a parte mais seriamente afectada pela erosão ameaça cair sob o impacto diário do mar. Dir-se-á que tudo tem a ver com os elementos naturais, com as calamidades naturais. Não, muito tem a ver connosco, com calamidades sociais, com incúria, com desleixo, com deixa-andar. Não há equipas municipais de intervenção pontual, cirúrgica, os pequenos problemas vão-se tornando grandes de forma desalmada. Ontem não senti apenas raiva, senti também vergonha.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
8 comentários:
Pois é Dr. Carlos Serra, isto anda vergonhoso para qualquer cidadão atento desta cidade que alguns chamam de bela pérola do Índico. Uma pérola que anda porquinha, com sistema de saneamento deficiente, escoamento das águas de drenagem deficientes causando transbordos de água cheia de imundice, principalmente na época chuvosa pondo em perigo a saúde pública. A gestão de resíduos sólidos ainda continua um caos. A título de exemplo, na Avenida Karl Marx esquina com a Ho-Chi-Min é comum encontrar lixo com cheiro nauseabundo, isto perto do pomposo edifício da edilidade de Maputo. Enquanto isso os discursos políticos referem que "estamos a trabalhar". Um discurso que nunca passa da retórica para prática. Isto é vergonhoso.
Por António Muchanga (Geógrafo e Ambientalista)
Nao e so Maputo que esta uma vergonha. Chimoio passou da cidade mais limpa a uns anos atras antes de comecar o festival de eleicoes municipais para uma das mais sujas, nojentas cidades do pais. Ate parece que tudo fazem para sujar a cidade o maximo que podem. O municipio recolhe lixo e vai espalhando pela cidade com um tractor sem taipal trazeiro e nao preparado para recolher lixo. Todos os dias vesse pelas ruas ja esburacadas lixo espalhado pelo tractor que deveria recolher o lixo para a lixeira. Isto ate parce sabotagem porque nao posso crer que o Presidente do municipio, vereadores, e todas as outras caixas de ressonancia ainda nao se tenhm apercebido que o trator tira o lixo dos pontos de concentracao e vi espalhando equitativamente e uniformemente pala cidade. Tlvez seja a ideia de distribuir o mal por todos......Nao deve haver dinheiro para por taipais no trator mas para os patrois, comemoracoes pomposas, viagens, etc, etc ha sempre mola.
Nos os muicipes tambem temos a nossa cota parte:
1. E cada vez mais "normal" pessoas de todos os extratos socio-economicos e culturais atirarem latas, garrafas, plasticos e outros objectos do chapa ou dos seus carro para a rua sem pudor nenhum; e cada vez mais frequente encontrar, em plena luz do dia pessoas encostadas a arvore e aos muros a mijar;
2. Somos nos que votamos ou nao vamos votar e temos o que temos. Para termos as nossas cidades melhoradas temos primeiro que ir votar e depois votar em pessoas competentes, trabalhadoras, honestas independentemente da cor partidaria. O lixo, a imundice nao escolhe a cor partidaria assim como cidade limpa beneficia a todos independentemente do partido a que esta filiado.
Os dois lados alimentam-se mutuamente, município e munícipes. E ainda temos a urina, que tal fazer como no Brasil?
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/carnaval/2012/noticia/2012/02/20-folioes-sao-detidos-por-urinar-em-ruas-do-rio-em-desfile-diz-prefeitura.html
Perante o cada vez maior emporcalhamento e esburacamento da cidade de Maputo não pode deixar de ocorrer-nos a pergunta; para que serviram e servem os 1600 (mil e seiscentos) porcento de aumento no meu impoto predial autárquico em 2010, e de mais 287,00 em 2012?
Se tal percentagem de aumento atingiu todas as habitações, deveria haver dinheiro naquela autarquia para tapar todos os buracos e limpar toda a sujeira da cidade e ainda sobrar dinheiro para as morcdomias do autarca e dos seus vereadores. Ou será que aqueles aumentos só tocaram e tocam aos que vivem em casas mais pequeninas?
Tudo isto é mesmo uma vergonha.
Guilherme Afonso
A raiva e a vergonha, eu acrescentaria desalento.
Nem que so fosse por razoes humanitarias, ja que responsabilidade MUNICIPAL e aqui deveras evidente. Quem podera gostar de ser chamado de Edil quando a unica via que liga a nova urbanizacao do Triunfo, Mahotas e ate Marracuene, se quisermos, ficar reduzida a Estrada Nacional N1?
E nao foi por falta de aviso. Ha muito que alertavamos para inevitabilidade daquela situacao. Inclusivamente, questionei, por que razoes, um troco de uns 30m de passeio nao tinha sido reforcado com betao ao se fazer a reabilitacao da marginal que custoes milhoes de USD do BAD. Nada fizeram, hoje, so falta acontecer uma tragedia, que e ver uma viatura, ou um semi-colectivo a ser repentinamente engolido pela estrada. Realmente...
As comparacoes sao mesmo inevitaveis. Se Comiche fosse Edil, se calhar ja teriamos uma nova marginal...
Ainda hoje me pergunto porquê Comiche foi afastado, não é culto do passado, é culto do futuro.
Se entrarem pelos bairros suburbanos verão as condições infra-humanas em que vive tanto concidadão depois de cada temporal.
Mas não vão faltar recursos para umas festarolas de Carnaval, passagens de modelos nas escadarias do Município, etc., etc: O subdesenvolvimento não é falta de recursos: é, isso sim, ESBANJAMENTO de recursos, priorizando o superfluo!
Uma questão de atitude mental; desrespeito pelo outro.
É no que dá misturar política com coisas sérias! gerir uma cidade não é andar a dar entrevistas e ter um espaço de antena na RM a custa da nossa taxa de rádio!
Está eminente a rotura da estrada da Costa do Sol, mesmo defronnte ao GAME metade de uma faixa já foi engolida e aquilo há uns meses era um buraquinho inofensivo!
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