05 novembro 2011

Sobre a qualidade do ensino em Moçambique (24)

"Eu mesmo tenho frequentemente lembrado que, se existe uma verdade, é que a verdade é um lugar de lutas." (Pierre Bourdieu)
Mais um pouco da série, mantendo-me no quarto ponto do sumário proposto, rigorosamente apenas lançando ideias e hipóteses, procurando continuamente problematizar um tema que requer pesquisa aprofundada.
5. Factores mais correntemente invocados para explicar a má qualidade do ensino.  Quais são os factores mais sistematicamente invocados para explicar o que se chama má qualidade do ensino? São especialmente os seguintes, tendo em conta o ensino primário e secundário das escolas públicas: ausência de vocação para o professorado, formação deficiente dos professores, excessiva carga horária docente, baixos salários, corrupção, turmas superlotadas e escassez de recursos didáctico-pedagógicos.
Prossigo mais tarde. Crédito da imagem aqui.
(continua)

8 comentários:

Salvador Langa disse...

Pode ser mas há outros problemas por exemplo a distância percorrida por muitas crianças para chegar à escola, a falta de carteiras nas salas, etc.

TaCuba disse...

Os pontos apresentados são reais.

Xiluva/SARA disse...

Sempre que vejo ali o 'encino' desato logo a rir!!!!!!! O Langa tem razão!!!!

Paulo disse...

Como se pode estudar em condições com alunos sentados no chão e quadros a cair aos bocados?

Anónimo disse...

Se os problemas se resumissem à falta de carteiras... Tenho conversado com alguns jovens que foram alunos da primária há uns anos atras e eles dizem (e riem-se) de quando andavam na primaria os professores lhes batiam com certa violencia. A alguns lhes mandavam ir tirar ramos de acacias para lhes bater. Causa: Falta do TPC feito.
Os professores da escola primaria nao andam sobrecarregados. eles dao apenas 3 horas a 3,5 horas por dia. Por vezes têm dois turnos (mas esses professores sao cada vez em menor numero) esses sim têm cerca de 7 horas por dia o que é muito. Mas 3,5 horas, convenhamos nao é muito... Mesmo que fossem 5 horas de trabalho lectivo por dia nao seria muito para a primária... Mas como aqui tudo é dificil e muito... podemos justificá-los... O que acontece é que muitos professores, mais que vocacao lhes falta o saber fazer o que fazem... e isso é grave... Estudar de baixo de arvore, sem carteiras é sem duvidas uma condicao dificil. Mas muitos alunos aprenderam assim e hoje não estao mal. O pior é quando o professor nao sabe fazer o seu trabalho, bate nos alunos para esconder a sua incapacidade e reprova-os em massa para os acusar de nao estudarem... Assim, como se diz por ai: "Não dá para aceitar"!
Manuel

ricardo disse...

E a ladainha do costume...

E no Vietname, em Cuba, na China, etc. Nao ha pessoas a estudarem debaixo de arvores, salarios baixos, etc? Claro que ha. E nao se acoitam os estudantes? Claro que sim. No entanto, formam-se, e alguns deles, engrossam as fileiras da "fuga de cerebros"...

Por isso, a meu ver, as condicoes infra-estruturais poderao determinar uma outra coisa. Que e a motivacao para se estudar, ou de para se ensinar, se houver a apenas dois palmos de distancia, alguem que estude como se estivesse, pensasse e comesse no MIT!...E isso, em Mocambique, tornou-se bem visivel desde 1986. Por outras palavras. A experiencia de certo ensino privado em Mocambique, tornou-se com o tempo, um factor pernicioso para o desenvolvimento e a sustentabilidade da nossa Educacao. Ha subsidios incriveis dos Fundos do Tesouro para o ensino privado que e cada vez mais restrito a alguns poucos, quando o publico, e pura e simplesmente deficitario; fazendo que, no final do dia, se reivindique que o custo de formacao de cada mocambicano e incomportavel para o esforco economico da Nacao. Vide os relatorios dos que ca colocam o dinheiro para analisar esta subtileza. Consequentemente, baixa-se a qualidade, para se universalizar o ensino. Mas os recursos per capita para essa universalizacao mantem-se nos mesmos valores absolutos ou ate, tem baixado com o tempo, em todos os seus componentes principais, a saber: humano, financeiro e material. Tomando o exemplo Cubano, os recursos financeiros e materiais tem sofrido uma acentuada diminuicao, mas o nivel dos recursos humanos matem-se e, em alguns casos, ate se elevou. No caso do Vietname, os recursos materiais estabilizaram ou baixaram por causa do esgotamento dos recursos locais, mas os financeiros e humanos elevaram-se. Na China, os recursos materiais sao deficitarios, com tendencia a diminuir, os humanos e o financeiros mantem-se estaveis, com tendencia a subir. Portanto, mesmo em dificuldades, e possivel manter ou elevar a qualidade de ensino de um pais, se houver uma estrategia de formacao que reflicta a agenda geo-politica da Nacao.

Ora que eu saiba, ate agora, os descendentes de Samora Machel tem pintado a nossa imagem como um receptaculo de recursos primarios isentos e majestaticos; mao-de-obra barata e nao qualificada e uma elite cujo ponto forte e a economia de servicos. Portanto, uma elite de consumidores terciarios de produtos manufacturados. Portanto, o ensino, como esta, serve perfeitamente os interesses de quem ca vem. E de quem os convida a ca virem. E como nos mostra o recente caso dos 120 trabalhadores indianos ilegais da KENMARE (que vinha susbtituir os locais, que trabalham menos e por mais dinheiro). Se mais houvera, la chegara.

Outro aspecto, e nos nao termos sidos capazes ate agora moldar um sistema de ensino ESTAVEL. Parece-me que a cada legislatura, ha novas experimentacoes. Ora assim nao e possivel. Ao contrario da RSA, que um dia em 1948 decidiu que a sua Educacao seria:

1- Ensino basico, com enfase na Matematica, Quimica e Fisica;

2- Ensino medio, com especializacao;

3- Ensino universitario exigente e com padroes do Primeiro Mundo.

Nos, ainda nao fomos capazes de saber o que fazer com o nosso ensino. O que nem espanta, pois nem sequer uma agenda 20/25 nos conseguimos consensualmente implementar. Portanto, de conversa sobre educacao ha muito talentosos por ai a ganharem rios de dinheiro com consultorias, workshops e opusculos de inteligencia duvidosa. De tomar as redeas do assunto e fazer coerentemente uma reforma, ninguem!...

Anónimo disse...

Li o texto do Sr Ricardo publicado no jornal Canal de Moçambique. Surpreendeu-me uma passagem que diz "Há muito que oiço por ai que estudar de baixo das arvores ou sentado no chão diminui a inteligencia dos alunos. Mas agora conseguiram surpreender-me com uma nova revelação. Que castigos corporais e outros mimos, a estudantes mal comportados diminuem o IDH nacional. Onde é que estamos?"
Na verdade nao entendi bem o que o Sr Ricardo escreveu. Nao sei se esta a advogar pela violencia na escola. Nao sei se quer dizer que se deve bater nos alunos "mal comportados"... (dificil de definir, hein?). SE FOR O CASO... é mesmo lamentavel... que tal afirmação venha de um cidadão tão instruido. Achava melhor que o Sr Ricardo lesse mais sobre a violencia nas escolas e o seu efeito na aprendizagem das crianças... E sobre estes temas há muita literatura e informação!

Em geral o texto que li no Canal de Moçambique misturam-se muitas coisas e fica dificil mesmo entender o que o Sr Ricardo advoga.
O Sr Ricardo arremente contra o Ministro da Educação quando fala sobre as passagens por ciclos de aprendizagem que ele chama de "semi-automáticas". Acho que o MINED ainda nao conseguiu explicar os professores este tema. E neste caso é importante ler o curriculo do Ensino básico e nao especular sobre o assunto. O que o curriculo do Ensino Básico fala sobre a passagem por ciclos de aprendizagem definindo no Ensino Básico 3 ciclos que têm uma duração especifica indicada. O que o curriculo quer dizer é que em vez de se reprovar o aluno na primeira classe tem que se trabalhar com ele em duas classes para melhorar a sua performance, no entendimento de que programa de ensino tem objectivos mais alargados (para mais de um ano) e que nem todos os alunos aprendem da mesma maneira e com a mesma rapidez. As passagens por ciclos de aprendizagem nao têm RIGOROSAMENTE nada a ver com "affirmative action". E qualquer ligação entre estas duas coisas... não faz absoluto sentido. Estas são uma forma de fazer educação, no entendimento de que nem todas as pessoas são iguais e que nem todos serão prémios Nobel de qualquer coisa. Mas de que todos podem aprender o curriculo do ensino primário... num periodo estipulado. (para mais em Moçambique precisamos de aprender apenas 50% dele, já que numa escala de 20, com 10 passamos).
O artigo tem muitas coisas que são discutiveis, mas prefiro parar por aqui.

Um abraço,
Manuel

Unknown disse...

Lembre se no passado que havia professores com a 4classe e muito menos de se formar,os seus alunos agora sao responsaveis desse moçambique duma linguagem mais clara a politica educacional actual faz com que haja "Degradaçao educacional em moçambique"e a falta de educaçao primaria e a falta de acompamhamento na parte dos pais e encarregados da educaçao,pode ser um dos factores de formar deficientes civicos.