"Onde a diferença falta, é a violência que ameaça" (René Girard, A violência e o sagrado)
Avanço um pouco mais nesta série, sugerindo mais algumas ideias, mais algumas hipóteses ainda sobre o terceiro ponto do sumário que vos propus, a saber: crise como instrumento moral.
Escrevi no número anterior que a crise, quer dizer, a crise que nós achamos que existe, a crise por nós injectada nos fenómenos, tem um duplo aspecto moral: é ao mesmo tempo o que não desejamos que seja e o que desejamos que seja.
Na verdade, o nosso apelo ao Mesmo, ao Uniforme, leva-nos a recusar o que surge como Diferença, como Descaminho nos roteiros das nossas vidas e dos processos sociais. Por isso estamos sempre ou quase sempre - em meio ao pensamento identitário, em meio à obsessão pelo Igual -, aptos a tecer profusas considerações morais sobre o que consideramos ser uma crise indesejável. Moralizar é a nossa maneira habitual de analisar crises (estudem os jornais e aperceber-se-ão rapidamente disso). É o deve ser e não o é, o que nos interessa. Em termos políticos, não apreciamos nada que surjam opiniões divergentes nos nossos partidos, especialmente se o sistema é multipartidário e entendemos que as fraquezas podem ser aproveitadas pelos adversários. Existe todo um tenaz esforço formal e informal para decapitar a Diferença e o Protesto, atribuindo-os aos maus designíos de forças obscuras, de forças consideradas antinaturais e antipatrióticas.
Prossigo mais tarde.
Avanço um pouco mais nesta série, sugerindo mais algumas ideias, mais algumas hipóteses ainda sobre o terceiro ponto do sumário que vos propus, a saber: crise como instrumento moral.
Escrevi no número anterior que a crise, quer dizer, a crise que nós achamos que existe, a crise por nós injectada nos fenómenos, tem um duplo aspecto moral: é ao mesmo tempo o que não desejamos que seja e o que desejamos que seja.
Na verdade, o nosso apelo ao Mesmo, ao Uniforme, leva-nos a recusar o que surge como Diferença, como Descaminho nos roteiros das nossas vidas e dos processos sociais. Por isso estamos sempre ou quase sempre - em meio ao pensamento identitário, em meio à obsessão pelo Igual -, aptos a tecer profusas considerações morais sobre o que consideramos ser uma crise indesejável. Moralizar é a nossa maneira habitual de analisar crises (estudem os jornais e aperceber-se-ão rapidamente disso). É o deve ser e não o é, o que nos interessa. Em termos políticos, não apreciamos nada que surjam opiniões divergentes nos nossos partidos, especialmente se o sistema é multipartidário e entendemos que as fraquezas podem ser aproveitadas pelos adversários. Existe todo um tenaz esforço formal e informal para decapitar a Diferença e o Protesto, atribuindo-os aos maus designíos de forças obscuras, de forças consideradas antinaturais e antipatrióticas.
Prossigo mais tarde.
(continua)
2 comentários:
"Decapitar a diferença" - todos os dias os "iguais" fazem isso.
Em qualquer lado acontece isso.
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