02 maio 2011

Poder e representação: teatrocracia em Moçambique (10)

O décimo número da série, que no seu título usa um termo de Georges Balandier, teatrocracia.
Passo agora ao ponto cinco do sumário que vos propus, refiro-me ao poder pela heroicidade.
Aqui está um outro campo vital da luta política: a produção de heróis.
O que é um herói? Um herói é alguém a quem, colectiva, inter-subjectivamente (excluo a análise dos heróis pessoais), atribuímos qualidades extraordinárias, fora do comum, alguém que perdeu digamos que as suas qualidades humanas e se transformou numa espécie de deus terreno, de deus profano. Para enunciar um truísmo, um herói nunca existe a montante, mas a juzante das nossas representações sociais. A morfologia da heroicidade é, naturalmente, vasta e variada. O herói não tem um centro temático ou uma linha de pureza ou de impureza. Os impuros de uns são os puros de outros e vice-versa. Os heróis são tantos quantas as nossas necessidades em guias, em referenciais, em modelos de conduta, em territórios políticos de combate. E, regra geral, consoante a intensidade e a extensão das lutas entre grupos sociais ou nacionais.
Ainda não acabei este ponto. Imagem: el poder, quadro do pintor e ceramista argentino Raúl Pietranera).
(continua)

1 comentário:

Salvador Langa disse...

E a série continua esplêndida. De facto os heróis têm sempre dono.