O nono número da série, que no seu título usa um termo de Georges Balandier, teatrocracia.
Passo agora ao ponto quatro do sumário que vos propus, refiro-me ao poder motorizado.
Este é um dos grandes pulmões do poder político, parte integrante do espectáculo do poder expondo-se através da viatura último modelo, do ruído marcante, do aparato policial.
Não me interessa aqui o poder motorizado particular do gestor do poder político, o uso privado de viaturas. Interessa-me, sim, a espectacularidade do poder motorizado oficial, desse espantoso poder a grande velocidade que abre caminho através do carro policial da sirene, acompanhado pelas luzes de aviso, protegido pelos agentes de segurança, servido pelas ordenanças. Quanto mais importante o cargo do chefe, mais aparatoso é o poder motorizado. Mas a alma do aparato ultrapassa, afinal, as regras da hierarquia. Mesmo se numa capital provincial de pouco tráfego, mesmo se na sede distrital, o chefe e o sistema tudo fazem para se anunciarem, a visibilidade é de regra. Quanto mais aparato, mais poder genuíno exposto. É imperativa a velocidade, há tenebrosos inimigos à espreita? Creio que o fundamental do poder a expor não reside nessa pergunta, mas nesta: como mostrar que estou em primeiro lugar, que sou elite, que sou puro poder, poder absolutamente não miscível, poder fundador, poder infinito?
Imagem: el poder, quadro do pintor e ceramista argentino Raúl Pietranera).
Passo agora ao ponto quatro do sumário que vos propus, refiro-me ao poder motorizado.
Este é um dos grandes pulmões do poder político, parte integrante do espectáculo do poder expondo-se através da viatura último modelo, do ruído marcante, do aparato policial.
Não me interessa aqui o poder motorizado particular do gestor do poder político, o uso privado de viaturas. Interessa-me, sim, a espectacularidade do poder motorizado oficial, desse espantoso poder a grande velocidade que abre caminho através do carro policial da sirene, acompanhado pelas luzes de aviso, protegido pelos agentes de segurança, servido pelas ordenanças. Quanto mais importante o cargo do chefe, mais aparatoso é o poder motorizado. Mas a alma do aparato ultrapassa, afinal, as regras da hierarquia. Mesmo se numa capital provincial de pouco tráfego, mesmo se na sede distrital, o chefe e o sistema tudo fazem para se anunciarem, a visibilidade é de regra. Quanto mais aparato, mais poder genuíno exposto. É imperativa a velocidade, há tenebrosos inimigos à espreita? Creio que o fundamental do poder a expor não reside nessa pergunta, mas nesta: como mostrar que estou em primeiro lugar, que sou elite, que sou puro poder, poder absolutamente não miscível, poder fundador, poder infinito?
Imagem: el poder, quadro do pintor e ceramista argentino Raúl Pietranera).
(continua)
3 comentários:
Soberania do poder na rua. Brilhante.
Curioso o poder. Pode-se perceber a lógica da etiqueta, de modo a acentuar as diferenças entre dominadores e dominados, conforme analise de Norbert Elias. Por outro lado, a exteriorização do poder é ainda um recurso muito utilizado pelos "populistas" e "providencialistas" que buscam redimir a sociedade que com ele se identifica. É ainda uma faceta dos tiranos, independentemente do traço ideológico, inclinados ao culto a imagem. Relevante é o relato de um notório jornalista brasileiro - Carlos Heitor Cony - sobre seu encontro com um ministro dinamarquês nos anos 80 em Copenhagen. Conta ele que esperando o ministro em frente a uma confeitaria - local combinado - para a entrevista, viu se aproximar um distinto senhor de bicicleta em trajes formais, ao se dirigir a ele descobriu com espanto que se tratava do ministro! Enfim, apenas uma observação sobre as diferenças entre as características dos homens homens públicos de lá e cá e o modo como percebem e se relacionam com o poder. Parabéns pelo espaço e iniciativa! Saudações brasileiras;
Mario Miranda Antonio Junior
Sociologo - FESPSP
Isso, Salvador, poder na rua. Obrigado pelos comentários, Mário.
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