08 janeiro 2011

O guarda

Uma terrível luta de barricadas esta tarde, algures na cidade de Maputo. Os clientes do restaurante comem e bebem, a função do guarda é a de impedir os vendedores de se aproximarem e de aborrecerem com os seus inúmeros, variados  e persistentes produtos, os vendedores avançam aqui e acolá, o guarda multiplica-se em gestos de recusa e exibições de força casseteira, este vendedor aquiesce, diz que concorda com o interdito, ao lado um outro avança com as batiques, mais um com máquinas de fotografar Canon, mais um com cigarros, é uma avalanche, o guarda gesticula, avança, desliza, recua, é o desvario, já não cabe nos gestos, a alma está cheia de vendedores, bater não dá, fugir é feio. Impávidos, os clientes do restaurante comem e bebem.

3 comentários:

Nipiode disse...

Professor:ao abrigo da lei aprovada em Novembro pelo Governo Keniano , o álcool não pode ser vendido antes das 14 horas nos finais de semana e antes das 17 horas no meio de semana, enquanto os estabelecimentos que se dedicam a venda de bebidas não devem estar situados a menos de 300 metros das escolas.Foram presas centenas pessoas presas pelo consumo de alcoól nas primeiras horas da manhã e vão cumprir seis meses de prisão e pagar o equivalente a 350 dólares americanos. Os activistas contra o consumo de álcool e drogas saudaram as novas leis, mas os proprietários de bares o sector do turismo, em geral, não pouparam críticas a decisão em vigor naquele país. Isto chama-se AUTORIDADE, saber o que se quer, o vigor, rectidao de um ESTADO moderno. As barracas do museu estao ladao a lado com a Escola Josina Machel. Se para as pequenas coisas as autoridades TREMEM ao tomarem medidas como acreditar nas maiores e mais complexas?

ricardo disse...

Os clientes comem impavidos, mas aborrecidos. Porque essencialmente, nao deveriam os individuais, sobretudo os de epiderme clara, pagar a factura de uma politica social inexistente, num Estado demagogo e incompetente, quando ja o fazem regularmente com os 32% dos seus rendimentos que legam a este.
O papel do guarda neste caso, e patetico. Nem imagino o que pensa quando faz o seu servico. Sentimentos contraditorios, de quem esta na corda bamba, por um lado solidario com a atitude dos vendilhoes, e por outro obrigado a cumprir com o dever do seu patrao para nao passar para aquele lado tambem.

Se cavarmos fundo, rapidamente concluiremos que a atitude dos vendilhoes e tambem Pavloviana, no sentido da imitacao dos seus proprios lideres, que assim se comportam todos os anos junto dos doadores. As pessoas moldam-se pelo que seus lideres fazem e dizem. E em Africa, isto e duplamente verdade. Por outro lado, o que parece ser uma oportunidade justa de um pobre ganhar alguns trocados, nao passa de uma fuga ao fisco. Mais de 80% dos vendilhoes tem patrao, ou pagam uma percentagem de suas vendas a um fornecedor que normalmente e um retalhista, grossista, ou importador que declara rendimentos e apresenta resultados contabilisticos deficitarios persistentemente.

O que e ESPANTOSO e constatar que, nao obstante os prejuizos, nunca vao a falencia e nem sequer sao auditados pelo Estado.

Quem vai a um Brasil por exemplo, onde a pobreza e a rodos, nao se confronta com os camelots nas casas de pasto ou similares. Ha espaco e lugar para cada uma das coisas. Essa e que e a direccao correcta.

E nao podemos confundir isso com desigualdade social.

Anónimo disse...

Não será este um outro "quadro sem imagem"? Eu acho que sim e se o Professor concordar, então é para postar no Diário de um fotógrafo.

A. Katawala