06 novembro 2010

O cidadão A

O cidadão A (que até era gentil) vê-se de repente investido em funções de alta direcção depois que o seu reverencialismo político foi notado e premiado. E, agora, a cada momento, em seu ar trabalhado para ser distante e reflexivo, munido de recursos materiais de respeito, delicia-se sem fim com todos aqueles momentos pelos quais outros - subordinados, guarda-costas, cipaios ideológicos, clientes políticos, oportunistas, actores múltiplos de circunstância, familiares - lhe prestam vassagem e genuflexão. O quadro vassalar, repleto de sirenes divinas, é tão mais imponente quão mais pequena é a paróquia.

4 comentários:

Abdul Karim disse...

Professor,

A nossa paroquia 'e minuscula,

Que triste.

Carlos Serra disse...

Quanto mais minúscula a terra, mais intenso o conflito.

ricardo disse...

"...Altos fados invoco e esconjuro

porque me dando ânimo me dêem

para esta empresa rútilo e seguro

génio de meu ofício - o que não vêem

quem me quisera ver pobre imaturo.

Invoco os fados não porque detêm

maior poder que o meu neste meu passo

mas só porque é galante o quero e o faço..."

Excerto de "as Qybyricas" J.P. Grabato Dias

Tomás Queface disse...

Isto um dia vai atingir o ponto de saturação, onde já mais nada se pode fazer para se controlar.