03 setembro 2010

Manifestações: estímulo sul-africano e produção de rumores (1)

Senti necessidade de criar uma nova e curta série com as seguintes duas hipóteses:
1. Estímulo proporcionado pela greve dos funcionários públicos na África do Sul às manifestações populares em Moçambique.
2. Produção interna intencional de rumores destinada a ampliar os efeitos das manifestações e a criar um clima de inquietação colectiva recorrente.
(continua)
Adenda às 21:35: o relato de um leitor sugere que estamos a ter uma espécie de luta de barricadas via celular, com uma nova vaga de sms (claramente politizados, do tipo slogan) propondo tranquilidade e trabalho, contra os anteriores que propunham protesto e luta. Também já li esse tipo de mensagens.
Adenda 2 às 21:42: o "@Verdade" tem um texto no qual escreve que se regista agora em Maputo uma situação de "completa calma". Aqui.
Adenda 3 às 22:49: compare o que diz o "@Verdade" com o que diz o "Imensis", aqui.

11 comentários:

João Feijó disse...

Através de uma simples mensagem de telemóvel, um jovem desempregado do Chiquelene, do Jardim ou da Matola consegue hoje lançar um boato e amedrontar os moradores de Maputo, paralizando quase por completo as actividades económicas da cidade. Mais, sem nenhuma arma consegue dinamizar uma guerrilha urbana que é notícia em televisões e jornais online de países que se calhar nunca ouviu falar, gerando um claro embaraço ao governo do seu país. Por muito miserável que possa ser a situação de um Homem, um facto é que existe uma considerável margem de manobra pessoal para reagir e para protestar. Por muitos militares que sejam colocados na rua, enquanto não se resolver o cerne do problema continuaremos a viver à mercê do medo, na expectativa de ter de regressar a casa a qualquer momento e de não ter como.

umBhalane disse...

Sem dúvida que os acontecimentos da África do Sul se repercutem, influenciam Moçambique - para o bem, e para o mal.

Nem seria de esperar outra coisa.

Mas é bom acostumar - os vizinhos não se escolhem, no caso.

João Feijó disse...

Se ao fim da manhã de hoje circularam sms com rumores a apelar à revolta popular, já durante a tarde aparecem novos sms com um sentido contrário. Acabaram de me mostrar estas duas mensagens:

"Tudo o que o pais precisa eh licao de civismo e espirito patriotico. Queremos trabalhar e levar o pao as nossas familias. Passe a palavra".

"Caros, Nada melhor do que a calma e tranquilidade publica para avancarmos e realizarmos as nossas actividades. Viva a paz e tranquilidade. Passe a palavra".

O curioso nisto tudo é que ambos as mensagens foram enviadas do número (25882065564) que, se se reparar, tem apenas 11 digitos, quando deveria ter 12. Tentei ligar para o referido número e respondeu a gravação a informar que "o número que ligou está incompleto".

Não há rostos nem predisposição política para se gerar uma negociação ou até um forum social. Ao invés, inicia-se um fogo cruzado de mensagens e de rumores inventados pelas forças em confronto.

Carlos Serra disse...

Ainda bem que trouxe essa achega. Os novos sms parecem sugerir que estamos perante uma autêntica luta de barricadas via celular. Terei isso em conta na série. Obrigado.

Carlos Serra disse...

Sim,é esse o número incompleto de origem, alguém que deve dispor de uma lista de enderecos, seria interessante saber como...

Abdul Karim disse...

Professor,

Eu as vezes fico "parado com marketing mocambicano", ja tentei saber quem tinha feito a campanha dos xiconhocas nas eleicoes, por causa dessas coisas "sui generis" como diz o "nero kalasnikov" a desenrascar.

Primeiro dizem que sao vandalos e desempregados,

E depois pedem tranquilidade e trabalho,

Afinal na manifestacao estiveram desempregados ou trabalhadores ?

Se estiveram desempregados entao vao trabalhar aonde ?

E se estiveram trabalhadores entao nao sao vandalos.

Eu diria - Problemas comunicacionais do marketing 'a mocambicana.

Nao 'e ?

ricardo disse...

Simples, alguns engraçadinhos fazem essas comunicações via computador usando programas informáticos personalizados, o que ofusca qualquer rasto. E donde é que obtêm os números? Do Facebook e outras redes sociais, mas também, da própria base de dados da Mcel ou Vodacom. Não me perguntem como.

Mas o importante é verificar que passamos à fase do "fait-diver" tipo Quisse Mavota. Consequência: assuntos sérios serão evaporados nestas brincadeiras.

O certo é que fazem efeito. Eu mesmo pude presenciá-lo hoje, pelas 12h00, alí na zona do Piri-Piri. A debandada dos comerciantes foi geral, até parecia a iminência de um ataque sul-africano em 1983.

João Feijó disse...

A verdade é que em Moçambique compram-se cartões de telemóvel na rua sem ter que registar o nome. Qualquer um que tenha na sua lista de contactos o nome de pessoas oriundas de diversos bairros da cidade consegue estratégica e discretamente, usando um número que ninguém conhece, acender um rastilho e programar uma manifestação geral. A pólvora já está lá. Esta segunda onda de mensagens utilizando números incompletos é tecnologicamente mais sofisticada.

Carlos Serra disse...

Sim, bem mais avançada. A luta política está mais sofisticada.

Abdul Karim disse...

Professor,

Eu nao comprendo politica, 'e dificil pra mim, mas essa luta do ponto de vista de gestao, e mais uma vez citando o "ministro kalasnikov", a nivel de "producao e produtividade", e ainda muito em voga no Noticias "eficiencia e eficacia", o governo esta levar uma goleada sozinho,

Ate agora so marcou golos na propria baliza, "sem oposicao" como eles dizem, arruinaram o Pais, somos dos piores classificados em Desenvolvimento humano, corrupcao, pobreza, etc,

Nao quero parecer "espertinho", mas uma luta politica ou nao, em que se pretende ser sofisticado, nao se dispara 'a toa nos proprios pes, e nem se dispara balas de Verdade que matem ao Proprio Povo.

ricardo disse...

O que me preocupa agora é o conteúdo da Lei que se irá aprovar em breve na AR para "regular" o uso do telemóvel em Moçambique.

Propositura do Ministério da Ciência e Tecnologia e da VODACOM.

A ver vamos.