"Do rio que tudo arrasta se diz violento, porém ninguém diz violentas as margens que o comprimem" (Bertolt Brecht).
Mais um pouco da série.
Nos dois números anteriores contei-vos a história dos sete leões que, no distrito de Muidumbe, província de Cabo Delgado, comeram, durante cerca de um ano, 46 pessoas, enquanto populares linchavam 18 outras, acusadas de comandarem magicamente os leões e apontando o dedo aos poderosos havidos como comandantes-mores. A terminar o número anterior, escrevi que, um ano depois, chegaram dois caçadores a mando do governo, que abateram os sete leões, pondo fim à dramática comoção social.
Achei bem usar esse exemplo para enquadrar a famosa metáfora de Bertolt Brech, uma vez mais reproduzida em epígrafe.
O que mostra o exemplo? O exemplo mostra uma comunidade violenta à procura dos donos dos leões, desejosa de pôr fim à mortandade que ocorria mês após mês entre Junho de 2002 e Maio de 2003, o exemplo mostra o rio violento, o rio que galgou desabridamente as margens sociais.
Mas qual a causa ou quais as causas da violência do rio? Diremos que a causa tem a ver com a credulidade popular, com o pensamento simbólico do tipo analógico? (foto reproduzida daqui)
(continua)
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