16 julho 2006

Al-Qaeda, a Renamo global



Num artigo de opinião publicado no Tehran Times de 11 deste mês com o título “Al-Qaeda, the global Renamo”, Mostaque Ali compara a Al-Qaeda à nossa Renamo. Escreveu que a Al-Qaeda é mais “global”, mas que ambas as organizações assemelham-se em não possuírem um plano de governo e um programa de bem-estar para as comunidades que dizem representar.
Morte, destruição e desestabilização: os três pilares de ambas as organizações.
Sem dúvida que é uma tomada de posição forte perante uma Renamo que reclama em permanência ser a autora da democracia moçambicana.
E, claro, o semanário “Domingo” não perdeu a oportunidade para, uma vez mais, no seu “Bula Bula” de hoje (16/07/06, última página), ir à história do partido através do comentário de Mostaque Ali.
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http://www.tehrantimes.com/
http://83.138.167.98/en/NewsDetail.aspx?NewsID=351191

6 comentários:

Iolanda Aguiar disse...

A arqueologia do Dialogo

sabado 29 de Julho postei o comentario, "RENAMO MOVIMENTO NACIONAL LOCALIZADO NO ESPAÇO" aparecebi-me tambem que o Professor esteve conectado domingo 30 de julho, daí colocar duas hipoteses, para o facto de constatar que meu comentario nao foi publicado:
1) nao coloquei o comentario convenientemente
2) fui censurada,
caso tenha prevalecido a ultima hipotese gostaria de conhecer o motivo pelo qual fui censurada. Gostaria que tivesse a gentileza de me informar para que eu possa ter a possibilidade de arguir.
Estive fora durante algum tempo pude verificar que há outros comentarios meus (irma Emanuel et os filantropos americanos, nao vejo onde possa ter agredido alguem, estou boquiaberta!!!!!!) que aqui nao estao!!! a minha duvida persiste...
Queira ter a gentileza de me ilucidar prezado Professor, pois cresci aprendendo que é DIALOGANDO É QUE AS PESSOAS SE ENTENDEM.
Parafrazeando Grawitz, o dialogo enquanto facto social "exerce un premier tri au niveau du flot"; Durkheim diz "qu'il faut écarter systématiquement les prénotions". Cette distinction préalable vaut protection légitime contre les préjugés" (Tarot)
Choca-me o facto de haver tido a opurtunidade de manifestar minha inquietude pois constatei que haviam mtos visitantes ao seu blog e poucos comentadores, entretanto o Sr. incentivou-me cortêsmente a continuar comentando...
Por isto aguardo sua resposta, pois estou em querer que ela SERA PRODUTORA DE MAIS DESAFIOS QUE PERMITAM UMA MAIOR CLAREZA NA INTERPRETAÇÃO DO SOCIAL. O que me parece vai de encontro aos objectivos que todos nós partilhamos. Eu, tal como Foulcaut, prefiro a critica de situaçoes actuais e a construçao de saberes localizados podendo servir a lutas concretas. Denunciar o inaceitavel, em vez de profetizar. “CE QUE J’ESSAIE DE FAIRE, C’EST L’HISTOIRE DES RAPPORTS QUE LA PENSEE ENTRETIENT AVEC LA VERITE” (Foulcaut ,1984). Entretanto, estou em creer que Foucault nunca afirmou que escrevia livros de historia. Entenda-se, que Foulcaut nao escreveu uma historia da medecina mas uma arqueologia do olhar médico, nao escreveu uma historia da prisao, mas uma genealogia das evidencias carcerais. Estes dois aspectos em minha opiniao, constituem as marcas de uma transformaçao mto profunda de fazer historia. Na « archéologie », existe a ideia de “cavar”, para atingir camadas mais profundas. Ecrever a arqueologia de um saber nao é estabelecer casualiades e influencias, mas questionar-se a partir da condiçao de possibilidade que o originou e do sistema de contariedades que permitiu sua existencia. Donde, FAZER A ARQUEOLOGIA DO DIALOGO É QUESTIONAR-SE SOBRE AS CONDIÇOES DE POSSIBILIDADE QUE ORIGINARAM ESSE mesmo DIALOGO E SOBRE. O SISTEMA DE CONTRARIEDADES QUE O PRODUZIU, acordando mais IMPORTANCIA AOS SEUS EFEITOS ORGANIZADORES. No entanto, nao se procuram « sens cachés » (nao se trata de uma psicanalise de saberes). A genealogia dá a estas matrizes de conhecimento um conteudo politico. Posso dizer que Foulcaut revolucionou a historia assim como nós poderemos revolucionar o dialogo, considerando-o como um facto social na reconstruçao do social. Entretanto minha questao é : SERA QUE O SOCIAL NO ESPAÇO LUSOFONO SE CONSTITUI COMO A SEGUNDA ARENA POLITICA ?

Segundo Edgar Morin (1984/ 1994) “existem duas sociologias na sociologia: uma sociologia que podemos dizer cientifica e uma sociologia que podemos dizer ensaista. A primeira é considerada comme l’avant-garde da sociologia e a segunda como l’arrière-garde da sociologia, esta ultima, separou-se mal da filosofia, do ensaio literairo, da reflexao moralista. Um tal modelo é mecanicista e ao mesmo tempo deterministico. Trata-se de ver quais sao as leis as regras que em funçao de uma casualidade linear e univoca jogam sobre um objecto isolado. Numa tal visao, o ambiente do,objeto é eliminado. Este é concebido como se fosse totalmente independente das condiçoes da sua observaçao. UMA TAL VISAO ELIMINA DO CAMPO SOCIOLOGICO TODA A POSSIBILIDADE DE CONCEBER ACTORES, SUJEITOS DE RESPONSABILIDADE E DE LIBERDADE, PARA DIALOGAREM .
Na sociologia ensaista , pelo contrario, o autor do ensaio, esta mto presente , ele diz por vezes EU, ele nao se esconde, ele exprime aqui e ali algumas consideraçoes morais. (...) Mas esta sociologia ensaista que se coloca ,a ela propria, problemas de valores, de finalidades, da globalidade é totalmente desprovida de fundamentos cientificos. (...) A sociologia moderna deve se bater em muitas fontes” Parafrazeando Carlos Serra PARA MIM NÃO EXISTEM VERDADES, MAS, APENAS, APROXIMAÇÕES CRESCENTES AO REAL, O QUE , EVENTUALMENTE, PODERÁ SER UMA BOA VERDADE.

Cada fenómeno está vestido de muitas coisas e, em minha opiniao, todos os nossos artefactos têm de ser avaliados incluindo a pátina, de tudo aquilo que “oxidou” o gesto, o texto, o significado original. (veja-se neste blog, o artigo “Desconstruir o sempre-foi-assim”) Pois na oxidaçao do gesto, està uma dinamica de mudanças, constituida de continuidades e rupturas, de desorganizaçao (parcial, local ou geral) seguida de reorganizaçao, isto é provocando uma reorganizaçao a qual por seu turno é afectada por uma nova mudança. No processo de oxidaçao nada se perde tudo se transforma, principios activos de uma dada substancia combinam-se com o oxigenio, do ar ou da àgua por exemplo, mas primeiro é necessario que estas moleculas (ar/ agua) se desorganizem, libertando o oxigenio. Este oxigenio por sua vez vai-se reorganizar combinando-se com outras moleculas, por exemplo as pectinas da maça. Certo, cada fenómeno está vestido de muitas coisas, mas a oxidaçao tambem se dá à superficie, sem que haja necessidade de um plasma estratificado, por isto para solucionar o problema nem sempre precisamos “cavar” com profundidade nos testemunhos significativos , mas simplesmente DIALOGAR NAS INTERFACES SIGNIFICATIVAS. Dialogar para comprender e evitar assim que por um lado “alguém nós fira” e por outro lado “nós firamos a alguém”; entra assim em cena a convicção de que, aprender de verdade, comprender de verdade precisa pesquisar e elaborar com mão própria (em superficie e em profundidade) e escutar de verdade, so assim poderemos pensar em criar desafios e em desnudar mitos - DIALOGANDO. Segundo (Maturana, 2001. Capra, 2002), todo ser vivo possui dinamismo autônomo de dentro para fora, de tal maneira que, ao relacionar-se com o mundo externo, o faz como observador sujeito, não como mero objeto de pressão externa. Não é a realidade que se impõe, mas é o sujeito que a reconstrói, orientado por dois fulcros mais decisivos: o evolucionário, responsável pelo desenvolvimento do equipamento cerebral e que permite a captação da realidade segundo a etapa evolucionária atingida; o cultural, responsável pelos modos históricos de lidar com a realidade, com realce para a linguagem - arqueologia do dialogo. Maturana possivelmente exagera no “fechamento estrutural” do ser vivo, enquanto Varela (1997), apelando para o conceito de “enação”, equilibra melhor habilidades internas com pressões externas, embora predominem, ao final, habilidades internas reconstrutivas (Demo, 2000; 2002a). Aprendizagem é dinâmica reconstrutiva política (Demo, 2002), voltada para a forja do sujeito capaz de história própria, capaz de construir a genealogia de seu discurso. Por isto O DIALOGO enquanto facto social é imprescindivel. A marca mais altissonante do DIALOGO enquanto produtor de conhecimento é sua potencialidade disruptiva, através da qual o ser humano opoe-se/ complementa-se/hierarchisa-se/ torna-se indiferente, confrontanto assim todos os seus limites, transformando-os em desafios. “Esta pretensão facilmente vira soberba incontida: quem sabe pensar geralmente não aprecia que outros também saibam pensar. O mesmo conhecimento que esclarece, ilumina, também imbeciliza, porque é parceiro da censura e do poder. Mas é, sem dúvida, a “vantagem comparativa” mais procurada e decisiva, ainda que esta expressão aponte em excesso para o mercado (Frigotto/Ciavatta, 2001). Conhecimento é tão importante que não pode ser apenas transmitido, copiado, reproduzido. Precisa ser feito.” (Demo, 2003) É DIALOGANDO que podemos faze-lo. Tudo o resto cai no vacuo da violencia desnecessaria e cansativa... e que em nada engrandece o trabalho arduo que a nós foi legado, considerando que “á liberdade politica nao se segue automaticamente uma estrutura social. Depois de termos lutado pela independencia, temos de lutar tambem por essa nova estrutura, o que exige um exercito tão resoluto como que conduziu a luta pela liberdade. Se encararmos objectivamente, esta segunda fase do processo (...) parecernos-à mais dificil que a primeira. (...) Os Estados que se libertam do colonialismo têm de enfrentar o gigantesco problema da transformaçao (...)” (K. Nkrumah, 1977). É minha convicçao que a colaboraçao de todos os actores é necessaria, ainda que tenhamos “visoes antagonicas das coisas”. Pois, só podemos encontar consensos e/ou aceitar a diferença DIALOGANDO, parafrazeando Roger Bastide, se tentarmos dar menos importancia aos efeitos desorganizadores dos conflitos e acodar mais importancia aos seus efeitos organizadores, talvez esteja aí uma forma de tirar vantagem do DIALOGO enquanto processo de acquisiçao de conhecimento, na construçao da realidade social. Consequentemente, o DIALOGO torna-se imprescindivel, pois como diz Carlos Serra “o linear em sociedade é bem menos linear do que pensamos”. Afin de encotrar a chave cognitiva do social é preciso dialogar é preciso confrontar ideias, debater serenamente dar ao outro a possibilidade de se explicar. Pois, todo o gesto que impeça a cultura do dialogo impede a consolidaçao da acçao colectiva. Promovamos o dialogo na consolidaçao de liens sociais.

Entretanto, caso tenha sido apenas um problema informatico, aqui vai de novo meu comentario ao texto da renamo/al-Qaeda.
“RENAMO MOVIMENTO NACIONAL LOCALIZADO NO ESPAÇO”
Parafrazeando Carlos Serra, parece-me, de facto, uma tomada de posição forte perante uma Renamo cuja “organizaçao”, operou como um movimento de libertaçao nacional, ligada a um TERRITORIO- MOÇAMBIQUE – e a uma naçao precisa; enquando que Al-Qaeda É UMA REDE TRANSNACIONAL, que age de maneira DESTERRITORIALIZADA, isto é, além-fronteiras.
Até ao presente a acçao da Renamo, julgo eu, foi contra os seus “semelhantes”, nomeadamente o movimento FRELIMO, ele tambem ligado a um territorio e uma naçao especifica, isto é uma outra “organizaçao nacional”. Se considerarmos que a Renamo foi um movimento terrorista, podemos apontar mais uma diferença a saber: os terroristas de entao, tentavam salvar sua propria vida, uma vez terminada a acçao, a prova é que eles existem e converteram-se em DEMOCRATAS – sao os actores do partido da oposiçao. A acçao de Al-Qaeda passa por ameaças transnacionais em que os actores, fazem da renuncia à sua proria vida, o alvo cible destructor. O actor de Al-Qaeda, kamikazi, nao pode cometer duas vezes um atentado, logo o actor Al-Qaeda nao pode cometer duas vezes o mesmo crime. O atentado kamikazi é ao senso estrito – singular; esta singularidade é caracterizada pela simultaneidade do crime, a sua apropriaçao e a auto- eliminaçao. Seguindo esta logica, o actor da Renamo pode hipoteticamente cometer varias vezes o mesmo crime, chegando a ilibar-se por completo produzindo a sua propria transformaçao social e ser integrado no processo de construçao nacional. Nao sendo moçambicana, apenas uma cidadã atenta às trasnformaçoes socias economicas e politicas de nosso planeta, permiti-me tecer estas consideraçoes que deixo para reflexão e, quiçà, para discussão.”

Saudaçoes cordiais,
Iolanda Aguiar

Carlos Serra disse...

Infelizmente não recebi o seu texto. Se o tivesse recebido, tê-lo-ia publicado com a alegria e a presteza com que publiquei os seus anteriores textos. Quanto à censura: apenas censuro e censurarei os insultos (do género por mim noticiado há tempos), por mais fascinantes e sociológicos que sejam. Cumprimentos e reseja bem-vinda.

Carlos Serra disse...

Os textos que estão neste diário são os que recebi. A única coisa que apaguei há tempos foi o insulto já referido. Quero acreditar que a Iolanda não está seriamente a pensar que impedi a publicação dos seus textos. Cumprimentos. Volte sempre.

Carlos Serra disse...

Espero que o seu trabalho suscite um debate salutar! Acabei de o ler.

Iolanda Aguiar disse...

obrigada professor, sao cerca das 5 da manhã aqui, e preparo-me para iniciar mais um dia de trabalho, como já lhe havia dito, é meu habito consultar todos os dias o seu diario. Estava verdadeiramente inquieta e estupefacta, nao pelo facto de nao terem sido meus textos publicados, mas pela possibilidade de ter sido censurada, pois nao nao sou naturalmente agressiva, sei que tenho espirito critico (o que vai de par com uma das minhas formaçoes DEA “Anthropologie et sociologie critiques du developpement et des echanges”) mas nao esqueço os valores que meus pais me inculcaram, nomeadamente o respeito pelo outro - pois MEUS PRIMEIROS PROFESSORES DE SOCIOLOGIA FORAM MEUS PAIS. Em consequencia, nao comprendi a não publicaçao de tão inocentes comentarios (sobretudo o da soeur Emmanuel que publicou recentemente sua autobiografia), não percebi porquê eles teriam que ser censurados, acresce ao facto que a um momento da minha vida, escolhi as ciencias sociais justamente para fugir ás intrigas politicas e poder dar minha contribuiçao para a construçao de nossos paises de outro modo (o que digamos em abono da verdade tbem nao é facil, mas isto é outra historia), por isto tudo nao comprendi absolutamente nada, nada, nada... pareceu-me tudo sem logica e absurdo!!!Daí, o meu questionamento. Obrigada pela sua pronta resposta.
Entretanto, caso ache que eu mereça ser censurada incluindo na “minha arqueologia do dialogo”, nao hesite, mas simplesmente peço-lhe por favor que me explique as razoes que o levaram a tomar tal decisao, isto é as razoes porque me censura, caso contario, pergunta-lo-ei sempre - PORQUÊ. Se encarmos a censura como uma critica, esta pode ajudar a melhorar-me, nomedamente minha maneira de escrever e de expor... Assim, volto para o meu trabalho, tranquila e em paz. Como diz Soeur Emmanuelle “é mto importante sermos felizes nos proprios, para que possamos tornar os outros felizes. (...) se voces estiverem todos os dias tensos é porque voces nao compreenderam nada (...)”
Obrigada Professor carlos Serra.

Iolanda Aguiar

Carlos Serra disse...

Olhe, apenas censuro os insultosm (felizmente apenas surgiu um, como em tempo devido salientei), o resto publico tudo. Escreva sempre. Cumprimentos.