25 abril 2017

Notas sobre linchamentos em Moçambique [2]

"Segundo dados estatísticos coligidos, o país registou, no ano de 2016, em média, dois linchamentos por semana. Os números demonstram, infelizmente, que os linchamentos tornaram-se uma prática da realidade moçambicana [...]. [...] o linchamento é um problema social que não pode ser solucionado, primariamente, por acções repressivas, devendo dar-se primazia às acções de prevenção como a promoção de debates [...] - Informação Anual do Procurador-Geral da República à Assembleia da República [2017], pp. 37-38.
Número inaugural da série aqui. Prossigo com a primeira pergunta e a continuidade da resposta.
Celso RicardoRegra geral, por que os linchamentos não ocorrem dentro da cidade de cimento?
EuEstamos perante um exercício de privatização criminogénea da justiça. Por hipótese, este tipo de crime colectivo pode situar-se na figura do crime “por sentimento de justiça”, provocado por um sentimento de frustração. Em sua elementaridade, trata-se de um crime cometido como resposta a uma injustiça, real ou imaginada, que se acredita ter sido exercida sobre uma comunidade ou uma família. Ladrões ou feiticeiros atormentam as pessoas, a polícia é suposta não agir eficazmente, então pessoas juntam-se e lincham o ou os supostos autores do mal. Esse grupo de pessoas torna-se como que a versão vingativa local de Michael Kohlhass, protagonista – com o seu bando - do romance de Henriche von Kleist. [resposta à pergunta prossegue no próximo número]

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