"Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem. " [Bertolt Brecht]
Sétimo número da série. Permaneço no quarto ponto do sumário proposto aqui, a saber: 4. África do Sul 2008, 2010 e 2015, subponto 4.1. Síndrome da história metropolitana. Escrevi no número anterior que faz muito que se emigra de Moçambique para a África do Sul, provavelmente desde 1860/1870. Seja para cobrirem o montante do lobolo, seja para pagarem o imposto (inicialmente à monarquia do Estado de Gaza, depois ao Estado colonial), centenas, depois milhares de varões moçambicanos, especialmente do Sul do país, criaram a tradição de trabalharem nas minas e nas plantações da África do Sul e, mais recentemente, no comércio, no artesanato, no sector hoteleiro e no emprego doméstico. A tradição do trabalho migratório barato – fonte de acumulação para as diferentes formas de Capital na África do Sul - tornou-se tão sólida que se enraizou no país, especialmente no Sul, a crença, hoje ainda poderosa, de que não é homem quem não vai à África do Sul. Ora, o poderio sul-africano acabou por enraizar-se, consciente ou inconscientemente, em todos os grupos sociais, como propriedade simbólica comum, apagando as diferenças e as desigualdades sociais, evacuando a história do apartheid.
Adenda às 06:35: sugiro a leitura do que disse Graça Machel, aqui.
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