08 março 2013

O aguilhão da história (sobre o assassinato do taxista moçambicano) (7)

"(...) a nossa preocupação no que se refere aos moçambicanos na África do Sul tem a ver com a extrema violência com eles tem sido tratados quando cometem crimes. Isto aconteceu agora, foi um caso excepcional, admitamos, mas também temos tido conhecimento de que os caçadores furtivos normalmente são mortos." - ministro Oldemiro Baloi
Sétimo número da série. Permaneço no segundo número do sumário proposto aqui, a saber: 2. A excepcionalidade visível do fenómeno. O vídeo situa a agressão no interior do excepcional, seja pela brutalidade e pela desumanidade com que o nosso compatriota foi tratado, seja porque os autores foram apenas alguns polícias. Por regra, pessoas em geral, imprensa, redes sociais e blogues ávidos do sensacionalismo e do copia/cola ficaram prisioneiros da excepcionalidade e foi no seu interior, nos quadros analíticos restritos do fora do comum, que exigiram e exigem uma reparação e uma punição exemplares. O que se salienta é a maldade daqueles polícias, aqueles polícias merecem ser severamente punidos, não importa os maus tratos que os nossos compatriotas sofrem diariamente na África do Sul, lá onde não surge um vídeo amador para subverter o anonimato. Tudo ou quase tudo fica situado no tempo presente, situado em si, num nicho fenoménico específico, fora da história e da análise.
Mas há um outro lado neste poliedro, referente à generalização. Prossigo mais tarde.
(continua)
Adenda: o vídeo a seguir contém imagens chocantes, aqui.
Adenda 2 às 7:34 de 05/03/2013: ouvidos ontem pela estação televisiva STV, camionistas moçambicanos que escalam a África do Sul queixaram-se de constantes maus tratos por parte da polícia sul-africana. Eles não gostam dos Moçambicanos - eis o resumo das intervenções.

2 comentários:

Salvador Langa disse...

Análise fina.

nachingweya disse...

Penso, Professor, que as analises superficiais devem entorpecer os passos para razões mais profundas. Onde houvesse um video-amador a gravar uma cena de um homem a catanar um um homem, tudo pareceria mais hediondo do que oito homens a mandarem arrastar um homem de carro. A questão, professor, são os padrões morais que tornam isto enquadrável como delito comum.
Em que nos tornámos?