10 dezembro 2011

Putin e a conspiração

O primeiro-ministro russo, que já foi presidente em dois mandatos, Vladimir Putin, manejou a teoria conspiratória: segundo ele, as manifestações de protesto que ocorrem no país por causa dos resultados das eleições parlamentares são provocadas por forças estrangeiras. Aqui. O primeiro-ministro já formalizou a sua segunda candidatura à presidência russa. Aqui.
Observação: a tentativa de regresso de Putin à presidência da Rússia deve constituir, sem dúvida, um sacrifício do diabo (permitam-me o calão), no qual não está, porém, só.
Adenda às 20:40 de 12/12/2011: confira aqui. Para traduzir, aqui.

14 comentários:

Salvador Langa disse...

Putins e Mugabes e etc.

ricardo disse...

Tipico. Se tiveres problemas em casa, vira a tua familia contra o teu vizinho...

O Povo russo gosta!

ricardo disse...

Podemos sempre relativizar. Mas na historia da Russia, nao se conhece nenhum regime genuinamente democratico que tenha perdurado e sido amado pelo seu povo.
No caso vertente, eu ate concordei com os comentarios do presidente Medvedev quando disse que nao era o ocidente quem deveria determinar o sistema politico russo . Que uma coisa era avaliar a qualidade da participacao democratica, e outra, era IMPOR um sistema politico a Russia. Mesmo porque, nos EUA so ha duas vozes politicas no senado e capitolio. Contudo, esse tipo de apreciacao nunca foi feita pelos seus media.
Mas, nao e por causa disso, que deveremos aceitar o regime musculado russo como paradigma democratico global, por ser uma da trincheiras contra o expansionismo da OTAN e os EUA, tal com Stalin e Mao-Tse-Tung um dia o foram.
Porque se assim fosse, todos os ditadores do mundo teriam legitimidade de matar, mentir e destruir. E o sr. Putin ja nos mostrou na Chechenia, Georgia e outras latitudes, que isso nao e um grande problema para ele.

Logo, acho que o que se escreve a proposito nao se fundamenta em meras paranoias...

TaCuba disse...

Putin é um czar a todo o tamanho, com treino na KGB, claro que só ver inimigos de fora, os internos são estepe e neve sem fim...

Anónimo disse...

Prezado ricardo,
Sem desconsiderar os seus comentários, que remetem a fatos creio eu, historicamente incontestáveis, não consigo, entretanto, deixar de pensar exatamente nessa questão da legitimidade "de matar, mentir e destruir" que está longe de ser prerrogativa de "todos os ditadores do mundo".
Relativização por relativização tendo, por enquanto, a optar pelo lado que, no momento, é capaz de representar as tais trincheiras a que você se referiu e que julgo serem imprescindíveis.
Antes de mais nada, e embora isso não interesse a mais ninguém a não ser a mim e seja, portanto, irrelevante para o tema em questão, por uma questão estética.

Anónimo disse...

Ainda respondendo ao ricardo,

e que regime, hoje, é que podemos considerar "legitimameente democrático"?
Admito que talvez a Islândia pós-2008 tenha dado mostras de vigor democrático, quando o povo, cansado da virtualidade do mundo das finanças, parece ter participado ativamente nos rumos que o país tomou depois, ao negar-se a pagar dívidas que não tinha - ele, povo - efetivamente assumido.
Mas no resto do mundo dito avançado, poderá de fato existir algum país que se possa dizer, represente inquestionavelmente a maioria da sua população?
Estou começando a achar que esta estória de democracia é tão ou mais utópica do que outras estórias que floresceram há não muito tempo atrás...
Enfim, só algumas reflexões algo céticas...

BMatsombe disse...

É o próprio Gorbatchov a pôr em causa os resultados eleitorais na Rússia e não consta que ele seja da CIA. A Rússia é um país onde a escandaleira dos novos ricos faz crescer o desejo pelos comunistas e pelo mínimo dos tempos antigos, novela de Tolstoi escrita hoje.

ricardo disse...

Recordo Stalin: " a morte de um homem é uma tragédia; a morte de um milhão de homens é uma estatística".

Obviamente, Putin não está só nas suas lucubrações. Todos frequentaram a mesma escola, a mesma génese e a mesma praxis.

Longe vão os tempos em que éramos arrebanhados a cada 25 de Junho para mentir, matar e destruir em nome do centralismo democrático. Justamente o mesmo centralismo que está na génese dos Putins contemporâneos. E sobretudo, o ter conhecido a praxis tão bem, que jamais a esqueceremos. Nós não sonhámos socialismo em realidade virtual. E muito menos desculpamos meio crime por não ser crime e meio...
Por isso, custa-nos engolir a ingenuidade de alguns que, com a mesma legitimidade de Ilitch Ramirez Sanchez, se põem a branquear regimes totalitários por aqueles se oporem aos "caudilhos" do capital. Mas se não fosse o imperfeito sistema capital em que vivemos, não haveria blogues e nem sequer estaríamos a medir a imperfeição de ambos os sistemas. A História da humanidade é cíclica. Ela mostra-nos que os erros se repetem continuamente. Hoje, já se aceitam comportamentos anarquistas como legítimos se forem anti-establishment. Mas isso, também o defenderem os partidários de Lenin, Mussolini e Hitler. Só que chegados ao poder, inverteram a sua linha de pensamento. Aliás, lembro que Lenin em 1920 autorizou o funcionamento da Bolsa na Rússia, medida que Stalin depois anulou apos a morte de Lenin. Em tempos recentes, a China embarcou no capitalismo de Estado e alavancou a sua economia. O Brasil optou pelo corporativismo de Estado desde Getúlio Vargas e lançou as bases de um BRIC. Cuba, 50 anos depois, optou hoje pelo modelo capitalista chines. Porque será que esta gente se sente tão atraída pelo capital?

Pois, em verdade vos digo, srs. desiludidos com capital. V.Excias não têm nada de sustentável que não sejam passeatas, greves e exigências igualitárias...

Ou será que têm? Então, digam-me quais são.

Anónimo disse...

Desculpe-me, mas quais são exatamente os factos que põem Putin ao lado de Carlos, o Chacal, de Hitler e de Stálin?
E, já agora, de onde, precisamente, vem essa informação?

ricardo disse...

Todos eles se opuseram ao sistema democratico e burgues instituido, usando violencia fisica ou psicologica. Todos se serviram da demagogia para conquistar o poder. E todos se aliaram depois aos democratas e burgueses para poderem consolidar o poder e ate, sobreviver politicamente...Logo, ismos a parte, sao todos produtos da mesma genese, usaram a mesma praxis e frequentaram a mesma escola.

E ja agora, Carlos nao foi nenhum presidente. Foi um peao da Guerra Fria que reproduziu fielmente o que o KGB e a STASI lhe mandaram fazer...

Esta informacao consta em todos manuais de Historia Politica Universal. Basta saber ler.

Anónimo disse...

Ricardo, ao que me consta Putin é recente demais para já figurar em qualquer manual de história política como facto dado, consumado e rotulado.
Nesse sentido, acho que você incorre em generalizações e simplificações.
Até porque se é neste terreno que queremos ficar, recaímos necessariamente na relativização - perigosa, admito - de que me acusou: simplificação por simplificação, o recurso à violência não é prerrogativa apenas dessas figuras, e creio, há também exemplos, nos mesmos manuais - bom, talvez seja o momento de se perguntar "que manuais?" -, da violência institucionalizada, burocratizada , “legitimada” por um corpo impessoal de leis, fruto da soberana aplicação do desejo da maioria (embora, muitas vezes, nem isso seja necessário) que caracteriza os regimes ditos democráticos ocidentais. Nesse caso, não se trata nem tanto de querer "branquear" regimes totalitários e violentos, ou não, mas de se perguntar se não estaremos desejando “trocar 6 por meia dúzia”, como se diz aqui por estas bandas brasileiras. A menos que seja por uma questão estética, como disse antes, onde a questão passa então a ser a escolha entre um totalitarismo do consumo-chic dos shopping centers e o totalitarismo clássico e supostamente mais arcaico do demagogo populista genocida. Porque tanto um quanto o outro não estão isentos da acusação de totalitários e violentos e, quando muito, um talvez seja apenas mais “sofisticado” do que o outro, porque abstraído em forma de um corpo abstrato de “lei” (ou, se formos mais dados ao fetichismo, de um corpo marmóreo e sensual de deusa Têmis, tornada cega, sintomaticamente, a partir do século XVI, pelos teutônicos).
Ainda insisto, que factos são esses que colocam inquestionavelmente Putin ao lado dessas figuras e o tornam, portanto, digno de condenação por um tribunal internacional? Quem produz a narrativa desses factos? Que fontes bibliográficas há a respeito de tais factos? Que autores?

ricardo disse...

Creio que a V. relativacao esta a resvalar para o exagero. Quando e que um Chefe de Estado europeu em funcoes foi condenado pela Corte Internacional? E quantos lideres politicos ou chefes militares das grandes potencias foram condenados por crimes contra a humanidade?

Portanto, haja ingenuidade politica q.b.

Putin, tem um percurso historico curto, mas ja significativo para merecer registo. E nao sao meros arrufos eleitorais. E todo um caminho que inicia ao servico do KGB na RDA (onde provavelmente colaborou com Carlos), passa pelas guerras do Caucaso que comandou e fomentou, entra pelo Medio e Extremo Oriente onde procede como equilibrista politico, e acaba com guerras fracticidas no terceiro mundo, onde a sua quinta-coluna vende a rodos sucata sovietica de todas as grandes guerras em troca de concessoes mineiras.

O resto, e a praxis interna que V.Excia conhece e muito bem no vosso pais. O capitalismo de estado, que decapitou a YUKOS a pretexto de uma suposta conspiracao ocidental. E mantem ainda hoje um Khodorovsky trancafiado numa cela, onde misteriosamente ficou seropositivo, justamente porque atreveu-se a financiar um partido da oposicao, seguindo a mesma logica que Putin usa quando decreta que os royalties do welfare russo deve suportar as suas milionarias campanhas eleitorais. A logica da gangorra so e desculpavel no caso de Putin?! E esta a bela folha de servicos do sr. Putin e sua entourage. Se acha que e insuficiente para ombrear na galeria dos maus da fita, para mim e o suficiente. Mesmo porque nao se omite meio crime apenas porque e suposto encontrar-se crime e meio. E crime e ponto final.

E para terminar este debate, volto a renovar o pedido para me apresentar aqui medidas crediveis da Esquerda mundial capazes de nos retirar do actual impasse do "sistema capitalista em fase terminal" que nao sejam passeatas, greves, exigências igualitárias ou herois ocasionais como Putin...

Anónimo disse...

Concordo em terminar o debate até porque não avançamos muito, eu, incapaz de apresentar as tais "medidas crediveis" que não seja apontando os furos desse sistema ...
Você, sem mostrar factos que não possam também ser considerados, afinal, "supostas conspirações".
E para terminar, fico com um trecho de um arauto (meio murcho) da Racionalidade e Civilização Superiores:
“(...) uma vez que uma comunidade constitucional se estende para além das fronteiras de um único país, a solidariedade entre os cidadãos que estão dispostos a apoiar uns aos outros deveria se expandir para acompanhá-la.
Angela Merkel e Nicolas Sarkozy parecem ter estabelecido um tipo de compromisso entre o liberalismo econômico germânico e o estatismo francês de uma forma completamente diferente. Se não estou enganado, querem transformar o federalismo executivo do Tratado de Lisboa numa governação intergovernamental directa no Conselho Europeu.
Tal regime permitiria transferir os imperativos dos mercados para os orçamentos nacionais sem a devida legitimação democrática. Isto implicaria no recurso a ameaças de sanção e pressão a parlamentos nacionais sem poder, para forçar a aplicação de acordos obscuros e informais. Desta maneira, os chefes de estado transformariam o Projeto Europeu no seu oposto. A primeira democracia transnacional tornar-se-ia um arranjo especialmente eficaz, porque disfarçado, no exercício de uma espécie de governo pós-democrático.” ( aqui, em inglês)
(Embirrado por não conseguir chegar a um consenso com mamã Angela, petit Nicolas, bombardeia e pilha os outros. Tá bem...)

ricardo disse...

Mais outro exemplo da ingenuidade politica da Esquerda universal.

Conformem-se meus senhores, o estado social ideal que teve como expoentes Willy Brandt, Olof Palme e Mitterand e que esteve na genese do actual modelo europeu acabou. E porque? Porque nao ha estado social em tecido economico anemico. Todas grandes conquistas europeias da social democracia foram possiveis porque na decada 50-60 aquele continente estava no auge do seu crescimento economico. Isto e, a prosperidade bastava aos interesses de todos. Patroes, sindicatos e trabalhadores. Tudo isso hoje se desvaneceu, e necessario apertar o cinto novamente para que, um dia, o estado social seja novamente reinventado, possivelmente com limites mais razoaveis.

Nao ha outra hipotese.

P.S.

Dispenso a apresentacao de provas se elas estiverem diante do nosso nariz.