Uma organização nacional pediu a minha intervenção num seminário sobre voluntariado. Eis o resumo do que disse: "O apelo ao voluntariado só pode surgir porque as condições sociais apelam para o contrário. Têm essas condições a ver com a impiedosa hora do relógio da vida urbana de muitos cidadãos? Provavelmente sim, mas parece ser uma boa hipótese defender que a hora antropológica abunda entre nós e provavelmente é bem mais determinante do que a primeira. Haverá um critério mais pertinente para mostrar as dificuldades de tornar natural o voluntariado? Por hipótese sim: o do modo de produção e reprodução de vida, aquele modo que segrega diariamente e cada vez mais fortemente apelos ao negócio e ao lucro, aquele modo que vive do darwinismo social, especialmente em meio urbano. Então, o problema não está tanto em mostrar as virtudes do voluntariado quanto em lutar por outro modo de produção e de reprodução da vida. A tese aqui é a de que a questão final consiste na reinvenção da democracia, na sua plena democratização. Até lá, porém, é sempre saudável aprender a praticar, entre os pequenos e os grandes projectos que podem dar sentido e dignidade à vida. Vale a pena – permitam-me a redundância - tornar voluntário o voluntariado."
2 comentários:
Magister Dixit!
"aquele modo que segrega diariamente e cada vez mais fortemente apelos ao negócio e ao lucro".
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