Há muitas crianças de mão estendida nos cruzamentos e nas ruas da cidade de Maputo. Como há muitos adultos fazendo o mesmo. Como há muitas jovens prostituindo-se. E deficientes mentais. O que significa isso? Por hipótese significa que há uma fractura familiar generalizada e sempre progredindo, que as famílias têm crescentes dificuldades de sobrevivência. Essa fractura tem a ver com uma fractura social global decorrente do modo de produção da vida que temos. Decorrente dessa fractura surge o que chamarei desemprego afectivo. O que significa isso? Significa que muitas pessoas perderam o lugar e a segurança no amor, no respeito e na disponibilidade para compreensão e ajuda. Sem dúvida que é sensato pensar-se em campanhas de sensibilização tendentes a reverter semelhante estado de coisas. Mas enquanto não houver uma reflexão profunda sobre o nosso modo de produção de vida, essas campanhas terão, apenas, o efeito precário das aspirinas. Finalmente: recorde aqui.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
3 comentários:
Nos nossos fixismos não nos ocorre que os meninos de rua, tal como os de casa, crescem todos os dias criando, todos os dias, novas necessidades sociais. Para nós o menino de rua é aquele petiz de mais ou menos 60 cm de altura, despenteado e expedito que passamos a ver a partir da década de 80 quando o nosso filho tinha apenas um ano. Não tem identidade, tem apenas o seu aspecto. O nosso filho já vai a caminho dos trinta, é quase ministeriável mas na nossa ciência o menino de rua continua com cerca de 60 cm de altura, despenteado e expedito.
Caro Prof quantos estão realmente preocupados com esse "desemprego" fora dos discursos de jornais e seminários?
A uns anos atras, em Nampula, a edilidade local proibiu o ofertorio de esmolas aos mendigos. Em contrapartida, estabeleceu locais onde as almas caridosas poderia canalizar suas esmolas, sendo os pedintes informados que la deveriam ir todas as sextas-feiras...o sistema funcionou uma duas ou tres semanas. Logo entao foi abandonado, porque se verificou que alguns dos "pobres" eram pessoas com emprego remunerado...Contudo, foi uma ideia, que quanto a mim deveria ser estudada com mais atencao. Pois tambem nao e agradavel ser literalmente "assaltado" por pedintes a cada esquina da cidade, quando muitos deles so ali estao para comprar uma "dose" de estupefacientes.
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