04 maio 2011

Poder e representação: teatrocracia em Moçambique (12)

O décimo segundo número da série, que no seu título usa um termo de Georges Balandier, teatrocracia.
Agora o ponto seis do sumário que vos propus, refiro-me ao poder decisional, o último do nível visibilidade.
A vida está, naturalmente, cheia de decisões, somos permanentes produtores de decisões. Mas há certas decisões que só certas pessoas podem tomar, essas pessoas são as gestoras do poder político-estatal.
Mas não é tanto o poder de poder tomar decisões que é aqui importante, quanto o poder de poder mostrá-las, de poder exibi-las, de poder fazer delas um momento comemoracional-cerimonial. Quanto mais alto o escalão dirigente, mais livre está o gestor do poder de poder tomar e exibir decisões. Exibir o poder de poder tomar decisões, orais e/ou escritas, é tão importante para os gestores quanto os outros poderes já anunciados. A este nível, uma decisão é como que um vistoso e imponente 4x4 último modelo das palavras, da propriedade da palavra oficial e decisional. Mas não só: momento conexo à exibição decisional, é o anúncio prévio, feito pela imprensa acompanhante, de que o dirigente descobriu que algo estava ou não estava bem, anunciando os jornalistas em grandes parangonas que o dirigente sentiu, viu, avaliou, ficou contente ou ficou triste, após o que louvou ou tomou a decisão correctiva e, pode acontecer, punitiva. A exibição decisional é sublinhada pela fala peremptória, fala decisiva, fala sagrada, fala última. Do topo à base, vive-se uma pirâmide decisional múltipla, exposta como um espectáculo.
Imagem: el poder, quadro do pintor e ceramista argentino Raúl Pietranera).
(continua)

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