03 julho 2016

Guerra e hermenêutica das valas comuns em Moçambique [15]

Número anterior aqui. Finalizo o quarto ponto do sumário [recorde-o aqui], a saber: 4. Espectáculo viral das fotos. Trata-se agora de escrever um pouco sobre as fotos atribuídas aos corpos a céu aberto, sobre a enunciação veemente do trágico. Com veemência e insistência, surgiram na internet dezenas de fotos mostrando cadáveres a céu aberto, em decomposição, uns já reduzidos a ossos, nas mais variadas posições, uns de borco, outros deitados de costas. Os autores de certos portais exploraram intensamente esta modalidade de crime, depois que não surgiu a vala dos 120 corpos de Sofala [confira fotos por exemplo aqui]. Em jornais, páginas das redes sociais e blogues do copia/cola/mexerica, aos locais onde os corpos a céu aberto foram encontrados deu-se imediatamente o estatuto de valas comuns. Não tendo aparecido a vala dos 120, aqui e acolá escreveu-se que isso não era relevante já que havia os corpos a descoberto, que não importava a quantidade, mas a presença indesmentível dos corpos, fossem quantos fossem, mais de 20 para uns, 15 para outros, 11 para outros ainda. Pouco faltou para certos círculos defenderem que Moçambique estava transformado num cemitério de insepultos. E não poucas vezes tentou-se, de forma explícita ou implícita, associar os cadáveres à presença nos locais de forças de segurança governamentais, como se - imputação desejada por certos círculos - elas fossem responsáveis pelo morticínio.

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