Um provérbio na língua Tumbuka no Malawi diz o seguinte: "Não há funeral para o cadáver da galinha" (significado: a morte do pobre passa despercebida).
Neste terceiro número da série, escreverei um pouco sobre o primeiro ponto do sumário proposto, refiro-me à pobreza como definição.
Durante milhares de anos a pobreza foi considerada um dado natural. No século XIX lutas de trabalhadores colocaram a pobreza como dado social, como produto de desigualdades sociais inscritas num determinado modo de produção. Desde aí têm-se multiplicado as tentativas para contornar essa visão, inscrevendo a pobreza no quatro técnico de um problema com causalidade multifactorial. Fundamental tem sido dar à pobreza uma dignidade analítica e, por esse meio, medi-la com coeficientes e variáveis (também aqui). Mas o mais interessante no registo analítico é a espessa dedicação dada às estatísticas, em particular por instituições com o Banco Mundial (vendendo, como escreveu Eduardo Galeano, "a pílula da felicidade do mercado livre") e o Fundo Monetário Internacional, fulcrais na produção e na reprodução do modo de produção que, sem pausa, naturalmente, gera pobreza. A pobreza torna-se uma batalha de números, de percentagens, de gráficos. É muito interessante verificar o prazer de certas instituições em anunciar que a pobreza diminuiu x por cento. A este nível, os pobres moram nos números.
Imagem: Desocupados, quadro de 1934 do pintor argentino Antonio Berni
Neste terceiro número da série, escreverei um pouco sobre o primeiro ponto do sumário proposto, refiro-me à pobreza como definição.
Durante milhares de anos a pobreza foi considerada um dado natural. No século XIX lutas de trabalhadores colocaram a pobreza como dado social, como produto de desigualdades sociais inscritas num determinado modo de produção. Desde aí têm-se multiplicado as tentativas para contornar essa visão, inscrevendo a pobreza no quatro técnico de um problema com causalidade multifactorial. Fundamental tem sido dar à pobreza uma dignidade analítica e, por esse meio, medi-la com coeficientes e variáveis (também aqui). Mas o mais interessante no registo analítico é a espessa dedicação dada às estatísticas, em particular por instituições com o Banco Mundial (vendendo, como escreveu Eduardo Galeano, "a pílula da felicidade do mercado livre") e o Fundo Monetário Internacional, fulcrais na produção e na reprodução do modo de produção que, sem pausa, naturalmente, gera pobreza. A pobreza torna-se uma batalha de números, de percentagens, de gráficos. É muito interessante verificar o prazer de certas instituições em anunciar que a pobreza diminuiu x por cento. A este nível, os pobres moram nos números.
Imagem: Desocupados, quadro de 1934 do pintor argentino Antonio Berni
(continua)
3 comentários:
Mais uma série do mesmo nível daquela sobre o poder. A citação do Galeano é perfeita. Estamos juntos.
Os pobres em números, sem rosto...
A pílula da felicidade parece ser letal.É bom ter presente .
E agora ? Como é que se sai disto?
Enviar um comentário