16 maio 2011

Mal-estar na civilização (12)

"Todas as relações fixas e enferrujadas, com o seu cortejo de vetustas representações e intuições, são dissolvidas, todas as recém-formadas envelhecem antes de poderem ossificar-se. Tudo o que era das ordens sociais e estável se volatiliza, tudo o que era sagrado é dessagrado, e os homens são por fim obrigados a encarar com olhos prosaicos a sua posição na vida, as suas ligações recíprocas."
O término desta série. O ano passado, greves gerais agitaram a Europa, multidões surgiram nas ruas. Agora, multidões manifestaram-se e manifestam-se em África e no Médio Oriente. Eis seis perguntas de fundo: (1) estamos perante um mesmo tipo de crise?, (2) se sim, que tipo de crise?, (3) que tipo de actores protesta?, (4) os protestos são contra o quê e quem?, (5) quais as características dos protestos?, (6) qual o futuro dos protestos?
Resta o último ponto do sumário, com a seguinte pergunta: qual o futuro dos protestos? Perante tantos protestos no mundo, parece ser lícito concluir que é lúgubre o pio nocturno da coruja. Mas não penso assim, penso que esse pio é optimista e anunciador de novos tempos, de tempos melhores, mais justos. Escreveu Freud no livro cujo título encima esta série que "a consciência é a consequência da renúncia às pulsões". Permitir-me-ei alterar a redacção da frase, propondo estoutra: "a consciência é a renúncia das actuais relações sociais". Na verdade, o que um pouco por todo o mundo ocorre em forma de protesto é a consciência de que precisamos de sociedades diferentes, mais solidárias, mais humanas. A coruja anuncia, afinal, o bem-estar na civilização.
(fim)
Adenda: o título é o de um livro de Sigmund Freud.

3 comentários:

Salvador Langa disse...

O Professor sabe dizer me se o livro de Freud está em português?

Carlos Serra disse...

Creio que sim, mas não estou em condições de indicar uma editora. Veja na Mabuko ou na livraria junto à antiga FNAC.

Salvador Langa disse...

Pena ter acabado, assim escrevi no texto incial que desapareceu com aquela encrenca há dias. Que Deus o oiça sobre o bem estar.