04 maio 2011

Da cesta básica à cesta política (8)

O término desta curta série.
Comentários de vários tipos surgidos na imprensa e neste diário mostram quão difícil vai ser implementar a cesta básica. Porém, já escrevi que não tenho competência para analisar a consistência económica da cesta, restando-me unicamente a possibilidade de procurar analisá-la como cesta política.
Multiplicam-se as intervenções na imprensa sobre a cesta. O que pretende o Estado? Pretende assegurar um preço fixo para certos produtos de consumo corrente. Para quem? Para as pessoas que nas cidades vivem com dificuldade. O que teme o Estado? O Estado teme que surja no país e, em particular, nos meios urbanos, um cenário de protesto como o que tem ocorrido em outros quadrantes. O risco de um cenário de contestação urbana significaria que o Estado teria de fazer intervir o capital de dominação, o capital da repressão policial, quando é ainda viva a memória dos protestos de 2008 e 2010. Por isso estamos perante uma cesta política, uma cesta apostando no capital directivo para evitar que suba a composição orgânica da política.
(fim)

1 comentário:

ricardo disse...

Desculpe, mas a dificuldade esta em que? No sustentaculo financeiro da Cesta, ou no grupo-alvo? Sobre a primeira questao, a resposta e: impostos. A dificuldade esta em saber quem sera fagocitado desta vez. Mas com toda a certeza alguem o sera.

Sobre a ultima, o grupo alvo esta identificado. Todos os utilizadores registados no SISTAFE e Seguranca Social. Com isto, o Estado mata dois coelhos de uma cajadada so. Primeiro, contabiliza e fideliza a Funcao Publica, reforcando o papel das celulas da FRELIMO como fiscalizador do processo. E induz mais pessoas a registarem-se no sistema fiscal. Isto e, quem nao tiver NUIT e salario processado pelo e-Folha nao recebe a cesta.

Politicamente, reforca-se a posicao do Estado hegemonico e imperial (Estado-Pai) na nossa vida quotidiana, que tanto vi o neoliberal Brazao Mazula a criticar enquanto reitor da UEM, e que reflecte a genese da propria FRELIMO. Um movimento de libertacao de concepcao ideologica marxista-leninista.

Por isso, ate ficou "facil'...