Perante a carestia de água em Maputo, eu e familiares estamos a aprender as virtudes da água da chuva e as virtudes da poupança de água. Uma caleira, um tubo e um tanque permitem-nos agora guardar mil litros de água da chuva. A água da chuva só em última análise deve ser bebida. A fervura mata as componentes biológicas, mas não as químicas. Muito cuidado deve haver com os poluentes urbanos. Mas a água da chuva que passaremos a ter servirá para três coisas: rega dos jardins, lavagem dos carros e, se necessário, utilização nas retretes. Aprendemos, já, a reutilizar para as retretes a água do banho (retida pelo vedante da banheira e apanhada com caneca para um balde) e da máquina de lavar roupa (vertida para um balde), Aprendemos ser possível tomar um bom duche com cerca de sete litros de água. Finalmente: aprendemos a lavar a louça com água controlada numa bacia.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
28 fevereiro 2018
Precaução
Nenhum cientista social está imune aos erros, aos juízos de valor, aos prejuízos. Não é possível, perante os fenómenos sociais, ter o mesmo rigor, a mesma frieza, a mesma distanciação que temos ou podemos ter face aos fenómenos naturais. Se estivermos conscientes disso, será mais fácil reduzir o impacto dos nossos capitais prenocionais e dos nossos engajamentos extra cognitivos.
27 fevereiro 2018
Para a psicologia dos rumores em Moçambique [31]
Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Número inaugural aqui, número anterior aqui. Escrevi no número anterior que um dos ingredientes da história aqui em causa é todo o imaginário social criado em torno do HIV/SIDA. São tantas as mensagens que passam sobre os malefícios da doença, que ela entrou na galeria dos pesadelos sociais. E acrescento agora: nessa galeria, a mulher aparece ao mesmo tempo como alvo e veículo da doença, um pouco como é suposta ser a transmissora primordial do feitiço. Mas, nas crenças populares, a maldição feminina precisa ser definitivamente assinalada pela perfídia de homem mau: o nigeriano, o estrangeiro, o exterior havido como ameaçador, como desconhecido, como perigoso.
Número inaugural aqui, número anterior aqui. Escrevi no número anterior que um dos ingredientes da história aqui em causa é todo o imaginário social criado em torno do HIV/SIDA. São tantas as mensagens que passam sobre os malefícios da doença, que ela entrou na galeria dos pesadelos sociais. E acrescento agora: nessa galeria, a mulher aparece ao mesmo tempo como alvo e veículo da doença, um pouco como é suposta ser a transmissora primordial do feitiço. Mas, nas crenças populares, a maldição feminina precisa ser definitivamente assinalada pela perfídia de homem mau: o nigeriano, o estrangeiro, o exterior havido como ameaçador, como desconhecido, como perigoso.
26 fevereiro 2018
Uma crónica semanal
25 fevereiro 2018
24 fevereiro 2018
Uma coluna de ironia
Na última página do semanário "Savana" existe uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1259, de 23/02/2018, disponível na íntegra com 31 páginas aqui.
23 fevereiro 2018
Para a psicologia dos rumores em Moçambique [30]
Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Número inaugural aqui, número anterior aqui. Escrevi no número anterior que na história do bicho-papão-nigeriano de mulheres a casca é falsa mas o conteúdo é real, que essa história é como um mau sonho cujos ingredientes precisamos adquirir e analisar.
Um dos ingredientes é todo o imaginário social criado em torno do HIV/SIDA. São tantas as mensagens que passam sobre os malefícios da doença, que ela entrou na galeria dos pesadelos sociais.
Número inaugural aqui, número anterior aqui. Escrevi no número anterior que na história do bicho-papão-nigeriano de mulheres a casca é falsa mas o conteúdo é real, que essa história é como um mau sonho cujos ingredientes precisamos adquirir e analisar.
Um dos ingredientes é todo o imaginário social criado em torno do HIV/SIDA. São tantas as mensagens que passam sobre os malefícios da doença, que ela entrou na galeria dos pesadelos sociais.
22 fevereiro 2018
21 fevereiro 2018
20 fevereiro 2018
Para a psicologia dos rumores em Moçambique [29]
Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Número inaugural aqui, número anterior aqui. Mas a história tem, à sua retaguarda, componentes sociais importantes que permitem compreender a natureza do rumor, rumor que assume a estrutura de um pesadelo.
Na história do bicho-papão-nigeriano de mulheres a casca é falsa mas o conteúdo é real. Essa história é como um mau sonho cujos ingredientes precisamos adquirir e analisar.
Número inaugural aqui, número anterior aqui. Mas a história tem, à sua retaguarda, componentes sociais importantes que permitem compreender a natureza do rumor, rumor que assume a estrutura de um pesadelo.
Na história do bicho-papão-nigeriano de mulheres a casca é falsa mas o conteúdo é real. Essa história é como um mau sonho cujos ingredientes precisamos adquirir e analisar.
19 fevereiro 2018
Uma crónica semanal
Uma página de ironia no Faísca do Niassa
Existe no Faísca [jornal editado em Lichinga, capital provincial do Niassa] uma página de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "Kucela" [em Yaawo, kucela significa amanhecer]. Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. [amplie a imagem abaixo clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato]
18 fevereiro 2018
Para a psicologia dos rumores em Moçambique [28]
Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Número inaugural aqui, número anterior aqui. A superfície da história remete-nos para o inverosímil: na hora do orgasmo, um estranho homem estrangeiro - o nigeriano (há muitos Nigerianos em Maputo) - largava vermes nos órgãos sexuais das mulheres vitimadas por suas arremetidas, vermes especiais que se alimentavam de fígado que era preciso comprar. E como se isso não bastasse, as vítimas iriam morrer.
E havia muita gente prisioneira da história e do medo, refém do papão estrangeiro. O que parece, é: era essa a medula da lógica popular.
Número inaugural aqui, número anterior aqui. A superfície da história remete-nos para o inverosímil: na hora do orgasmo, um estranho homem estrangeiro - o nigeriano (há muitos Nigerianos em Maputo) - largava vermes nos órgãos sexuais das mulheres vitimadas por suas arremetidas, vermes especiais que se alimentavam de fígado que era preciso comprar. E como se isso não bastasse, as vítimas iriam morrer.
E havia muita gente prisioneira da história e do medo, refém do papão estrangeiro. O que parece, é: era essa a medula da lógica popular.
17 fevereiro 2018
Uma coluna de ironia
Na última página do semanário "Savana" existe uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1258, de 16/02/2018, disponível na íntegra com 31 páginas aqui.
16 fevereiro 2018
15 fevereiro 2018
Para a psicologia dos rumores em Moçambique [27]
Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Número inaugural aqui, número anterior aqui. Escrevi no número anterior que precisamos encontrar uma teoria que "mostre o rumor como revelador de uma estrutura, que reenvie o extraordinário para o ordinário, que detecte no epidémico o endémico" (Morin, Edgar, La rumeur d’Orléans. Paris: Seuil, 1969, p.7).
Para isso, para encontrarmos uma teoria vermicida, digamos assim, temos de ver no rumor do nigeriano verminador a estrutura de uma câmara escura singular, ao mesmo tempo invertendo a realidade e revelando-a.
O rumor conta uma história falsa para revelar e sublinhar um problema e uma inquietação reais.
Número inaugural aqui, número anterior aqui. Escrevi no número anterior que precisamos encontrar uma teoria que "mostre o rumor como revelador de uma estrutura, que reenvie o extraordinário para o ordinário, que detecte no epidémico o endémico" (Morin, Edgar, La rumeur d’Orléans. Paris: Seuil, 1969, p.7).
Para isso, para encontrarmos uma teoria vermicida, digamos assim, temos de ver no rumor do nigeriano verminador a estrutura de uma câmara escura singular, ao mesmo tempo invertendo a realidade e revelando-a.
O rumor conta uma história falsa para revelar e sublinhar um problema e uma inquietação reais.
14 fevereiro 2018
O que é verdade em História?
O 40.º livro da coleção Cadernos de Ciências Sociais, intitulado "O que é verdade em História?", tem a data de entrega à Escolar Editora aprazada para 20 de Abril deste ano, sexta-feira. Os autores são os seguintes: José d´Assunção Barros, Antonio Paulo Benatte, Cesar Saad (os três do Brasil) e João Carlos Colaço de Moçambique.
13 fevereiro 2018
Para a psicologia dos rumores em Moçambique [26]
Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Número inaugural aqui, número anterior aqui. Estamos, então, confrontados com a fantástica história do nigeriano verminador e anunciador da morte das vítimas femininas, usador de carros de luxo de cor negra, história que, de acordo com o editorial de um jornal, já circulava no Soweto (África do Sul) em Dezembro de 2008.
Devemos concentrar a atenção no fenómeno em si e deitá-lo depois na caixa de lixo das histórias sem consequências?
De forma nenhuma. Precisamos encontrar uma teoria que "mostre o rumor como revelador de uma estrutura, que reenvie o extraordinário para o ordinário, que detecte no epidémico o endémico" (Morin, Edgar, La rumeur d’Orléans. Paris: Seuil, 1969, p.7);
12 fevereiro 2018
Uma crónica semanal
11 fevereiro 2018
10 fevereiro 2018
Uma coluna de ironia
Na última página do semanário "Savana" existe uma coluna de ironia - suave nuns casos, cáustica noutros - que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1257, de 09/02/2018, disponível na íntegra com 31 páginas aqui.
09 fevereiro 2018
08 fevereiro 2018
Para a psicologia dos rumores em Moçambique [25]
Número inaugural aqui, número anterior aqui. Segue-se a partir deste número a história de um outro rumor a que chamarei "O bicho papão nigeriano". O que aconteceu? Aconteceu que em 2009 correu em Maputo e Beira o rumor de que um diabólico nigeriano violava mulheres. Mas não só: eis os ingredientes dados a conhecer por certa imprensa local:
1. O papão era estrangeiro, havido por nigeriano, fugido da África do Sul;
2. O papão circulava numa viatura de luxo, de cor negra (certamente com vidros fumados);
3. O papão maligno disseminava o mal por via sexual;
4. O mal chegava sob forma de vermes depositados nos órgãos sexuais femininos quando o papão ejaculava (como se fosse um ser extraterrestre que quisesse propagar a sua espécie);
5. Os vermes comiam fígado (víscera que desempenha importantes funções metabólicas), eram carnívoros especiais;
6. Como se não bastasse serem pasto de vermes comedores de fígado, as mulheres vitimadas eram ainda coagidas a comprar urnas para os seus funerais, pois - assegurava o grande rumor - iriam morrer.
Aguardem a continuidade.
1. O papão era estrangeiro, havido por nigeriano, fugido da África do Sul;
2. O papão circulava numa viatura de luxo, de cor negra (certamente com vidros fumados);
3. O papão maligno disseminava o mal por via sexual;
4. O mal chegava sob forma de vermes depositados nos órgãos sexuais femininos quando o papão ejaculava (como se fosse um ser extraterrestre que quisesse propagar a sua espécie);
5. Os vermes comiam fígado (víscera que desempenha importantes funções metabólicas), eram carnívoros especiais;
6. Como se não bastasse serem pasto de vermes comedores de fígado, as mulheres vitimadas eram ainda coagidas a comprar urnas para os seus funerais, pois - assegurava o grande rumor - iriam morrer.
Aguardem a continuidade.
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