Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
27 janeiro 2016
Saber afastado do saber comum das comunidades
Os cientistas sociais são um produto histórico da divisão social de trabalho, herdeiros dos intelectuais clássicos, retirados das funções básicas da produção física imediata. Nasceram da organização universitária especialmente desenvolvida a partir do século XIX. A sua função consiste em pensar o social e em produzir conhecimento organizado segundo regras academicamente estabelecidas. O ideal é o alcance de verdades de alguma maneira empiricamente validáveis e radicalmente distintas do saber revelado do tipo religioso, da dedução racional do tipo filosófico e das diversas formas de saber simbólico. Pouco a pouco, os cientistas constituíram-se em grupos separados por fronteiras disciplinares, mas todos comungando na profissão de um saber afastado do saber comum das comunidades e operando em estabelecimentos especiais. Esse saber especial exercita-se nas salas de aula, nos seminários, nos congressos e nos livros. Mas é necessário passar por ritos iniciáticos. O cientista atinge o patamar da sabedoria universitária formal através do grau de Doutor (o famoso PhD dos cartões de visita). A toga cardinalícia é o selo da ascenção à maturidade. Cumpridos os ritos iniciáticos, percorrida a estrada de Damasco, ascendidos à maturidade institucional graças ao doutoramento, operando em estabelecimentos especiais, os cientistas dão então curso ao saber especial, ao saber afastado do saber comum das comunidades, das pessoas do dia-a-dia.
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