06 setembro 2012

Apartheid não tem raça: massacre de Marikana (16)

"Para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mude." (Tancredi)
Décimo sexto número da série, crédito da imagem aqui. Escrevi no número anterior que o  apartheid social se manifesta de duas formas: (1) com a tentativa de recurso a regras punitivas do apartheid formalmente abolido em 1994 (o massacre de Marikana é disso um trágico exemplo) e (2) com a manutenção do modo de produção e do sistema de relações sociais excludentes pré-1994. Após o massacre, 270 mineiros foram acusados de assassinato com base numa lei do apartheid que responsabilizava todos os participantes de um protesto das mortes eventualmente nele ocorridas. Tal como em tantas outras coisas da vida, também nestes casos a justiça não tem raça, o aguilhão não tem cromossomas. Prossigo mais tarde.
(continua)
Adenda: quatro semanas após o massacre, a situação pode agravar-se em Marikana, confira aqui e aqui.

2 comentários:

nachingweya disse...

A acusação dos 270 é objectivamente imoral mas será que já existem outros instrumentos pós apartheid para regular as relações sociais? Entre nós só agora se estão a rever partes do Código Penal em vigor quase desde o sec. XIX. onde a descolonização era ainda um mito.
Bom senso? O bom senso pode não passar de uma opinião carregada de subjectividade.
Não havendo outras disposições legais, como será doravante? A polícia poderá continuar a matar sob a lei do apartheid sem que haja acusações?
Talvez se venham a acusar os mortos de morte própria por desacato.

nachingweya disse...

Insito: os tribunais não podem julgar de acordo com sentimentos, lógica ou senso comum. Os tribunais devem julgar com bom senso mas de acordo com a lei. Em que leis se enquadram as pequenas revoluções como esta? Chama-las levantamento ou tumulto não basta!

PS O que tem Setembro com as coisas marcantes de Moçambique? Já somamos 1 e 2, 7, 25 e 29 de Setembro. Já de seguida mais 23, 24,26,27,28.
Faz 10 dias.