Como me é habitual, sento-me algures num local desta cidade de Maputo em fim de tarde e começo a observar quem está, quem me rodeia, mesmo - creiam - quem não vejo. Neste circunvagar, na polpa frenética de cada curiosidade, tento apoderar-me do destino de cada rosto, de cada acto, de cada olhar, de cada género, de cada sobriedade, de cada espalhafato, de cada país, de cada identidade, de cada sexo, de cada enigma. Penso na lógica da segunda fase, a de encontrar pontos médios, a alma das medianas. Impossível. Penso em usar a máquina fotográfica, mas páro a tempo, seria impôr ao natural o prestes-a-usar; procuro escrever no pequeno computador que utilizo, mas esbarro na contradição entre o olhar que quero livre e o escrever que me disciplina. Por isso, como sempre, espanto-me com todos aqueles que se arrogam a vitória de compreenderem este acto espantoso de sermos todos, nós, eu e cada um de vós.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
2 comentários:
simplesmente belo, professor!
Bom dia!
A tese que meu curto e inédito texto "Diferente do que sou" se propõe a defender é o facto de que ao mesmo tempo que "sou um jogador de futebol" querer "ser espectador do mesmo jogo" no momento em que o realizo... Se entendi bem, esse é o acto espantoso lenvantado pelo Professor.
Obrigado!
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