11 novembro 2011

Sobre a qualidade do ensino em Moçambique (26)

"Eu mesmo tenho frequentemente lembrado que, se existe uma verdade, é que a verdade é um lugar de lutas." (Pierre Bourdieu)
Mais um pouco da série, tendo em conta o sumário proposto, rigorosamente apenas lançando ideias e hipóteses, procurando continuamente problematizar um tema que requer pesquisa aprofundada.
6. Factores marginalizados - nutrição.  A nutrição raramente aparece integrada nos factores que contribuem para um mau aproveitamento escolar. Uma baixa quantidade de nutrientes atrasa ou impede o rendimento escolar. Crianças com dificuldade de concentração ou de coordenação motora são regra geral aquelas que possuem alimentação insuficiente e/ou inadequada. Não devemos esquecer que cerca de 44% das nossas crianças sofrem de subnutrição crónica, especialmente as que vivem nas zonas rurais e no Norte. Creio que valeria a pena fazer-se uma pesquisa em profundidade no país, avaliando o impacto das deficiências nutricionais sobre o rendimento escolar.
Prossigo mais tarde. Crédito da imagem aqui.
(continua)

4 comentários:

Salvador Langa disse...

Por exemplo---
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/Hanlon,Joseph_Poverty.pdf

TaCuba disse...

As crianças dos subúrbios e das comunidades rurais dão para enfeitar os discursos oficiais do tipo "a situação está a melhorar de dia para dia".

ricardo disse...

E verdade. Mas esse problema tambem se coloca em outros paises, onde, se calhar, a desnutricao e muito mais acentuada que em Mocambique.

Dou-vos um exemplo. Neste momento, no Zimbabwe, ha, em media, graves problemas alimentares, de a uns cinco anos para ca ou mais, mais graves do que em Mocambique. E nao consta que haja algum programa de educacao governamental para responder a isso. Mas o ensino do Zimbabwe e mau? Para os padroes africanos, e um dos melhores. Outro exemplo. Na Coreia do Norte, de a 20 anos para ca, tem havido uma crise alimentar ciclica, que afecta sobretudo as criancas. Tera o ensino local baixado de nivel? Nao baixou.

E agora permita-me uma analogia entre esta questao da nutricao aqui colocada e a eficacia do programa de distribuicao e tratamento com anti-retrovirais no Malawi. Este pais, como deve saber, e economicamente debil, todavia, e excedentario em algumas culturas agricolas, sobretudo o milho e a mapira. O Zimbabwe, a Zambia, a Tanzania e ate Mocambique, estao dentre os paises que mais se alimentam do milho malawiano. Mas colocou-se uma vez um problema la. E que o combate ao HIV/SIDA nao estava a ser eficaz. E porque? Porque normalmente, os pacientes desistiam do tratamento nos primeiros 3 meses. E porque? Porque os medicamentos sao potentes e devem ser administrados concomitantemente a um plano nutricional rigoroso de proteinas, hidratos de carbono e produtos lacteos. Ora, o Malawi, nao tem nem grandes manadas de bois, nem grandes galinheiros. Como e que resolve o problema? Investigando e ensinando as comunidades a usarem a sua imensa flora como alternativa a carne e aos ovos. Hoje, criou um plano nutricional particularmente adequado aos mais pobres que, todavia, tem as mesmas calorias que o tradicional recomendado pela OMS. Em suma, aquele pais, que e mais pobre que Mocambique, teve o engenho e arte para encontrar solucoes locais. Esta foi uma medida sancionada ao mais alto nivel. O Malawi e um dos poucos paises do mundo que tem um ministerio exclusivamente dedicado ao HIV/SIDA. No entanto, continua a importar carne e ovos de outros paises da regiao, que todavia, estao apenas ao alcance da classe media-alta. Portanto, sr. professor, a nutricao e um assunto importante. Mas nao e insoluvel, ao ponto de impedir que um programa de Ensino avance. E um factor, mas esta longe de ser decisivo. E ate suspeito que os estrategas da Educacao do Zimbabwe e Coreia do Norte estejam a pensar o mesmo que eu...

Xiluva/SARA disse...

A comerem mal o "encino" sai assim.