"Do rio que tudo arrasta se diz violento, porém ninguém diz violentas as margens que o comprimem" (Bertolt Brecht).
Mais um pouco desta série.
Escrevi anteriormente que havia cinco coisas sobre as quais iria debruçar-me um pouco, designadamente: 1. Atracção pela moralização; 2. Protocolos correntes de leitura e análise na imprensa; 3. Características da revolta; 4. Possíveis causas; 5. Questões em aberto. No segundo ponto propus quatro protocolos que foram correntes na imprensa no concernente à leitura e à análise das manifestações. Hoje prossigo e termino o quarto protocolo, referente à produção da teoria conspiracional.
Em meio às teorias criadas, quatro foram visíveis: a teoria da Renamo, a teoria de uma ala da Frelimo, a teoria dos desmobilizados de guerra e a teoria do celular. Tendo a Renamo, especialmente através do seu presidente Afonso Dhlakama, afirmado amiudadas vezes que o partido iria promover manifestações de protesto contra os últimos resultados eleitorais de 2009, nada custou atribuir-lhe a paternidade das ocorridas a 1/3 deste mês. Mas não só. Surgiu, também, a teoria de que as manifestações foram provocadas por uma ala descontente da Frelimo, suposta estar privada dos réditos do poder e interessada em pôr em causa a gestão presidencial de Armando Guebuza. A galeria causal foi ainda preenchida por uma terceira entidade, a dos desmobilizados de guerra, cujas promessas de manifestação para obter a revisão das pensões criaram, tal como no caso da Renamo, uma espécie desejada de "profecia auto-realizável". Finalmente, importa considerar uma quarta entidade causal, a cargo dos celulares: apesar de profundamente moçambicanizados (uma pessoa muito pobre pode obter um celular por exemplo via xitique), esses mágicos aparelhos foram implicitamente considerados como meios "externos" que, tal como em Fevereiro de 2008, alteraram a considerada bonomia moçambicana.
A partir do próximo número começarei a referir-me às características das manifestações (foto reproduzida daqui).
Escrevi anteriormente que havia cinco coisas sobre as quais iria debruçar-me um pouco, designadamente: 1. Atracção pela moralização; 2. Protocolos correntes de leitura e análise na imprensa; 3. Características da revolta; 4. Possíveis causas; 5. Questões em aberto. No segundo ponto propus quatro protocolos que foram correntes na imprensa no concernente à leitura e à análise das manifestações. Hoje prossigo e termino o quarto protocolo, referente à produção da teoria conspiracional.
Em meio às teorias criadas, quatro foram visíveis: a teoria da Renamo, a teoria de uma ala da Frelimo, a teoria dos desmobilizados de guerra e a teoria do celular. Tendo a Renamo, especialmente através do seu presidente Afonso Dhlakama, afirmado amiudadas vezes que o partido iria promover manifestações de protesto contra os últimos resultados eleitorais de 2009, nada custou atribuir-lhe a paternidade das ocorridas a 1/3 deste mês. Mas não só. Surgiu, também, a teoria de que as manifestações foram provocadas por uma ala descontente da Frelimo, suposta estar privada dos réditos do poder e interessada em pôr em causa a gestão presidencial de Armando Guebuza. A galeria causal foi ainda preenchida por uma terceira entidade, a dos desmobilizados de guerra, cujas promessas de manifestação para obter a revisão das pensões criaram, tal como no caso da Renamo, uma espécie desejada de "profecia auto-realizável". Finalmente, importa considerar uma quarta entidade causal, a cargo dos celulares: apesar de profundamente moçambicanizados (uma pessoa muito pobre pode obter um celular por exemplo via xitique), esses mágicos aparelhos foram implicitamente considerados como meios "externos" que, tal como em Fevereiro de 2008, alteraram a considerada bonomia moçambicana.
A partir do próximo número começarei a referir-me às características das manifestações (foto reproduzida daqui).
(continua)
2 comentários:
Caro Professor,
Como não focar a teoria de que realmente o custo de vida subiu de uma forma disparada e que até os mais endinheirados sentiram... como não focar que as manifestações podem ter sido realmente "ateadas" por cidadãos sem mais nada a perder e realmente cansados de tanta disparidade social? Onde uns tem tudo e outros continuam a passar fome e a viver com um salário mínimo ridículo.
Falei com muitos moçambicanos, de várias ideologias políticas e classes sociais, todos eles apenas não se juntaram ás manifestações porque temiam pelo descontrole destas, pela sua vida, por saberem de antemão como a policia reage a estes movimentos. A comunidade moçambicana presente na internet estava de acordo com uma manifestação, isto se deveria comentar em voz alta, é de conhecimento de todos, seja ela originada por a ou b.
Certo é que estamos a viver uma crise mundial, o metical desvalorizou, as importações e tudo relativo a elas subiram de preço o que por consequência como somos um pais nada produtor fomos apanhamos na torrente, por outro lado e não ajudando a vizinha SA também apresenta problemas e muito dependemos ainda dela.. e muito mais se poderia dizer até chegar-mos ao motivo da especulação mundial dos cereais com base nos problemas climaticos.
E lembrei-me da famosa teoria do caos, onde são inúmeras as variáveis que nos levam para lá, ao mesmo tempo que tudo começou algures com o bater de asas de uma borboleta?
Fico espantada como ninguém olha mais a fundo, olha para traz e questiona: quando foi que o metical começou a descer a pique este ano? Será que estamos todos com amnésia? Quem ganha com esta perda? Peguemos nos jornais desde Dezembro passado e vejamos a sequência de factos.
Sabemos que a desvalorização não traz só problemas, atrai investimento externo e que muitos são os que ganham com isto... principalmente os que tem avultados investimentos por estas bandas e tencionam investir ainda mais.
È certo que precisamos de investimento, também é certo que poucos foram os países pobres que após "os outros" lhes cheirarem o petróleo que saíram ilesos desta "guerra do ouro negro", onde também é certo e sabido que as pressões políticas começam a ser outras, com contornos muito subtis, quase invisíveis a olhos menos atentos.
Preocupoo-me realmente como moçambicana, quando nenhum economista vem a publico comentar sobre forças maiores por de traz do nosso actual cenário e continuemos a achar que não somos "comandados" ...
Lengalenga para boi dormir caro Professor, continuamos uns contra os outros e não temos união nacional para um Moçambique melhor, e quanto mais afastados estivermos uns dos outros, mais os de fora nos controlam e ganham ás nossas custas.
Ah, caro Professor, como eu gostaria de ver irmão Moçambicano da Remano, da Frelimo, do MMD, etc...., a lutar pela mesma causa e consciente do que os outros ganham com a nossa desunião.
Cumprimentos.
E a teoria de q o custo de vida subiu disparado... as manifestações podem ter sido tb "ateadas" por cidadãos sem mais nada a perder e realmente cansados de tanta disparidade social?
Falei com muitos moçambicanos, de várias ideologias políticas e classes sociais, todos eles a favor e compreendendo os movimentos. A comunidade moçambicana na internet queria uma manifestação...
Certo é que estamos a viver uma crise mundial, o metical desvalorizou, as importações e tudo relativo a elas subiram de preço o que por consequência como somos um pais nada produtor fomos apanhamos na torrente, por outro lado a vizinha SA também apresenta problemas e muito dependemos dela.. muito mais se poderia dizer até chegar-mos ao motivo da especulação mundial dos cereais com base nos problemas climaticos.
Lembrei-me da teoria do caos, onde são inúmeras as variáveis que nos levam para lá,mas tudo começou algures com o bater de asas de uma borboleta?
Fico espantada como ninguém questiona: quando foi que o metical começou a descer este ano? Quem ganha com esta perda?
A desvalorização não traz só problemas, atrai investimento externo e que muitos são os que ganham com isto... principalmente os que tem avultados investimentos por estas bandas.
È certo que precisamos de investimento, também é certo que poucos foram os países pobres que após "os outros" lhes cheirarem o petróleo que saíram ilesos desta "guerra do ouro negro", onde também é certo e sabido que as pressões políticas começam a ser outras, com contornos muito subtis.
Continuamos uns contra os outros e não temos união nacional para um Moçambique melhor, e quanto mais afastados estivermos uns dos outros, mais os de fora nos controlam e ganham ás nossas custas.
Como gostaria de ver Moçambicano da Remano, da Frelimo, do MMD, etc...., a lutar pela mesma causa e consciente do que os outros ganham com a nossa desunião, mas não continuamos todos a dar muito importância ao nosso umbigo e muito pouco ao nosso pais.
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