O problema central deste número consistiu em inventariar e analisar as situações e as mentes armadas, para fazer uso de uma expressão do bispo moçambicano dos Libombos, Dinis Sengulane.
De nada servirá mostrar continuadamente em inúmeras instâncias de debate e persuasão que a violência é desnecessária e nociva, se não forem desarmadas as condições sociais que armam as mentes (as margens que comprimem o rio) e que contêm, ainda, o aguilhão de épocas cuja memória permanece, seja porque ainda estão vivos os actores da violência, seja porque a memória passa como passam as tradições orais: de geração em geração, persistentemente.
Em seu rigor, em sua profundidade, os quatro trabalhos deste número subvertem por inteiro o facilismo identificativo e analítico do comum de nós e os seus autores mostram quão complexo, quão poliédrico é o social em seus dois níveis: o nível do rio e o nível das margens, o nível da violência em si e o nível das condições sociais que a permitem e reproduzem.
Na verdade, Jorge Márcio Pereira de Andrade (médico e psiquiatra brasileiro), António Eugénio Zacarias (médico legista moçambicano), Ricardo Henrique Arruda de Paula (sociólogo brasileiro) e Daniel dos Santos (sociólogo angolano- luso-canadiano) esforçaram-se por mostrar e analisar o vasto e múltiplo mundo da violência social, num espectro indo do Estado ao cidadão.
E, tenho para mim, fizeram-no com brilho.
Carlos Serra
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