30 julho 2006

O acto inaugural da ciência

Desembarca na vida como se fosses um turista: verás, então, que tudo o que antes de molestava, te magoava, te aborrecia, te entediava, se torna repentinamente novo, diferente, atractivo.
Terás a alma livre, pacificada.
Só então te tornaste realmente investigador.
Sabes, a surpresa é o acto inaugural da ciência.
Mas olha, não falo para o cidadão que és, mas para o sociólogo que podes ser. Custa? Claro que custa e estou quase certo de que não conseguirás ter êxito, pois o cidadão que és oxigena em permanência o cientista que queres ser. Mas tenta, apesar de tudo.
O que proponho é contraditório? Ainda bem que é. Porque se o espanto é o acto inaugural da ciência, a contradição é a sua possibilidade de vida.

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Esta ideia de ver a vida pelos olhos do turista foi-me emprestada por um leitora deste diário, Resaly.

28 julho 2006

Mais um linchamento no T3 da Matola

Um homem ainda não identificado foi linchado na madrugada de terça-feira no bairro T3 da Matola, acusado de usar poderes mágicos para violar e catanar uma mulher casada no dia 18, sem que o marido se apercebesse.
Em Maio dois irmãos foram chacinados no bairro acusados também de usarem poderes mágicos para violarem mulheres.
Acredita-se no T3 que os violadores mágicos se tornam invisíveis à noite ("Notícias" de hoje, 28/07/06, p. 19).
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Não há indicação de que qualquer investigação séria tenha sido feita ou venha a ser feita no bairro. Talvez tenha chegado a altura de uma equipa de sociólogos trabalhar no T3. O que acham? Revejam, entretanto, as minhas entradas anteriores a propósito do linchamento em geral e do T3 em particular.

Diário de um sociólogo

Com o título em epígrafe, será lançado em Setembro um livro contendo uma parte significativa dos textos deste blog.

25 julho 2006

Milhares de candidatos nas eleições congolesas

Mais de 25 milhões de eleitores vão escolher um presidente entre 33 candidatos e 500 deputados entre cerca de 9800 candidatos nas eleições da República Democrática do Congo próximo dia 30.
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http://www.fides.org/aree/news/newsdet.php?idnews=7938&lan=por
http://www.un.org/av/radio/portuguese/story.asp?NewsID=697

21 julho 2006

Dois milhões de dólares na compra de 4x4 para deputados


Cerca de dois milhões de dólares de gasto estatal para adquirir viaturas 4/4 para deputados, que as deverão pagar mensalmente a um preço módico. Perante esta informação divulgada pelo semanário “O País” na sua edição de 21 de Julho, o pasmo do cidadão, meu primeiro habitante, é tão grande, que o segundo habitante, o sociólogo, prefere emudecer e não comentar mais esta prebenda dos deputados da luxuosa Assembleia da República (prevê-se que o novo sistema de som venha a custar um milhão de dólares) , contentando-se com a auto-estima e com o espírito do deixa-andar.
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N.B.- Face a tamanho exercício de ostentação em meio a um imenso mar de pobreza e num país onde uma parte significativa do orçamento depende das doações estrangeiras , como deve proceder, por exemplo, um administrador de distrito? O jornalista Mouzinho de Albuquerque tem a estrada da resposta: “Há dias, administrador de um distrito, que já recebeu os sete biliões de meticais alocados pelo Governo, disse que reconhecia que onde ele se encontra é uma zona muito pobre, mas que mesmo assim, gostaria que tivesse um novo carro para ostentar a sua responsabilidade, embora o antigo se encontre em perfeitas condições de circulação.” (“Notícias de ontem, 20/07/06, p. 5).

18 julho 2006

Maputo chicagoiza-se

Os assaltos espectaculares sucedem-se nesta Maputo cheia de 4/4, condomínios, hotéis, bancos, casas de câmbio, empresas de segurança, casinos, restaurantes, bombas de gasolina e uma Mozal a produzir 60% do PNB do país.
Fortemente armados, os assaltantes agem em plena dia, nesta Chicago índico-africana, enquanto a polícia multiplica os comunicados mediatizados dizendo que os vai combater sem tréguas.
Se na Utopia de Thomas More eram os carneiros quem comia os homens, aqui são os pistoleiros. Há pobres por toda a Inglaterra, afirmou a sua rainha Isabel no século XVI. Aqui, neste século, pode dizer-se assim: há pobres e pistoleiros por todo o Moçambique.
Temos aí todos os ingredientes para reeditarmos, sem mudarmos uma vírgula sequer, a famosa acumulação primitiva de capital do velho Marx e assim sabermos do pecado original da nossa roubologia.
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Aconselho vivamente que leiam, a propósito do tema e de Maputo, o dramático ponto de vista da jornalista Delfina Mugabe na edição do “Notícias” de hoje (18/07/06, p. 5), com o sugestivo título “Uma cidade criminosa”.

Frelimização?

De acordo com o “Tribunafax", passageiros queixaram-se ao jornal de que o Boeing do voo 148 das LAM, fazendo no sábado o percurso Quelimane-Maputo, ultrapassou os tempos de escala em Quelimane e Beira porque a Primeira-Ministra se reuniu demoradamente com membros da Frelimo, na sequência de preparação do congresso do partido agendado para Novembro em Quelimane, tendo o avião chegado a Maputo com uma hora de atraso.
O mesmo jornal noticiou que professores de Sofala queixaram-se-lhe de estarem a ser pressionados a tornarem-se membros da Frelimo (veja “TribunaFax” de hoje, 18/07/07, pp 1-2).
Todavia, o jornal não apresenta os pontos de vista da Primeira-Ministra e da Frelimo.

O dogma da imaculada percepção

Foi em Nietzsche (ou em alguém que o citou, já nem sei) que li um dia esta maravilhosa frase: “O dogma da imaculada percepção”, que é todo um protocolo de pré-aviso para nós, sociólogos.
Na verdade, quantas vezes não tomamos o social pelo sociológico, esquecendo-nos, primeiro, de que o cidadão tem de se reconstruir enquanto sociólogo e, segundo, que todos aqueles que estudamos, ouvimos, etc., têm de ser, eles também, reconstruídos, reconstituídos enquanto fenómeno?
Mas quase sempre tomamos o que sentimos como o real que torna desnecessária a construção teórica, tomamos o evidente pelo científico, tomando os objectos sociais pelos objectos sociológicos.
Demitimo-nos da sociologia para sermos como o bom Sr. Joaquim-de-sempre cuja filosofia é sempre perversamente elegante: “As coisas são como são e prontos”.
E é nesse caldo bento e saboroso que nos comprazemos quer com as nossas doutas perguntas, quer com as não menos doutas respostas dos nossos objectos de estudo. Perguntas assim, por exemplo: “O senhor tem tido muito trabalho?”, “Não acha que o país se tem desenvolvido nos últimos 30 anos?”, “Não devemos nós todos trabalhar para o bem-comum?”
Tentai imaginar as respostas ao sabor quer da forma como já conhecemos as respostas, quer da forma como os outros já sabem que nós sabíamos que eles sabiam o que queríamos que eles e nós soubéssemos neste sempre-sabemos sem nada sabermos.
Para quê fazer golpes de estado sociológicos se tudo é assim e “prontos”(como é maravilhosa esta nossa popular capacidade de pluralizar o já pronto!)?

16 julho 2006

Ligar ou separar

“A imagem das coisas exteriores comporta para nós a ambiguidade de que tudo, nesta natureza exterior, pode tanto passar por ligado quanto por separado. As conversões ininterruptas quer das substâncias quer das energias colocam cada objecto em relação com outro, e constituem um cosmos de todos os detalhes. Mas, por outro lado, esses mesmos objectos restam votados a uma exterioridade espacial impiedosa, nenhum fragmento de matéria pode ter um lugar comum com um outro, não há unidade real do múltiplo no seio do espaço. E a existência natural, reivindicando assim de maneira igual noções que se excluem, parece subtrair-se pura e simplesmente à sua aplicação.
Só ao homem é dado, face à natureza, ligar ou desligar (…)”.
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Simmel, Georg, La tragédie de la culture et autres essais. Paris: Petite Bibliothèque Rivages, 1988, p. 159, tradução minha.

Al-Qaeda, a Renamo global



Num artigo de opinião publicado no Tehran Times de 11 deste mês com o título “Al-Qaeda, the global Renamo”, Mostaque Ali compara a Al-Qaeda à nossa Renamo. Escreveu que a Al-Qaeda é mais “global”, mas que ambas as organizações assemelham-se em não possuírem um plano de governo e um programa de bem-estar para as comunidades que dizem representar.
Morte, destruição e desestabilização: os três pilares de ambas as organizações.
Sem dúvida que é uma tomada de posição forte perante uma Renamo que reclama em permanência ser a autora da democracia moçambicana.
E, claro, o semanário “Domingo” não perdeu a oportunidade para, uma vez mais, no seu “Bula Bula” de hoje (16/07/06, última página), ir à história do partido através do comentário de Mostaque Ali.
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http://www.tehrantimes.com/
http://83.138.167.98/en/NewsDetail.aspx?NewsID=351191

12 julho 2006

Estranhem o que não for estranho (Brecht2)

Estranhem o que não for estranho.
Tomem por inexplicável o habitual.
Sintam-se perplexos ante o quotidiano.
Tratem de achar um remédio para o abuso.
Mas não se esqueçam
de que o abuso é sempre a regra.

(Bertolt Brecht)

Desconfiem do mais trivial (Brecht1)

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de
hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem
sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.

(Bertolt Brecht)

08 julho 2006

As feiticeiras de Mazamba e a imputação causal


A localidade de Mazamba situa-se no distrito de Cheringoma, província de Sofala. Tem uma população de 3.144 pessoas. Apresenta, hoje ainda, os sinais da guerra civil: casas destruídas, ar de desgraça. As dificuldades locais são imensas e variadas.
O administrador de Cheringoma foi lá e reuniu-se com o povo local. Esperava ouvir falar das campanhas agrícolas, das dificuldades de escoamento da produção por falta de vias de acesso, das péssiams condições das escolas locais, da falta de água potável, de um mercado, de uma moageira, de uma loja, de sal (é necessário percorrer 42 quilómetros para se comprar sal em Inhaminga).
Todavia, os intervevientes na reunião centraram as suas atenções na feitiçaria e disseram ao administrador que todos os problemas locais eram provocados pelos feiticeiros, especialmente pelas mulheres idosas. Quem queria ter melhor padrão de vida ou quem o obtinha acabava por morrer doente devido ao feitiço. Antigos combatentes da luta de libertação nacional, que têm pensões mensais, alinharam pelo mesmo diapasão.
De acordo com o presidente da localidade, o problema foi discutido em duas sessões ordinárias, mas sem sucesso e sem solução.
Desesperado, o povo de Mazamba pediu ao administrador uma urgente intervenção governamental para acabar com o feitiço.
Entretanto, falando em nome das mulheres idosas locais, uma anciã disse que o problema estava a ser colocado de forma falsa, pois em todo o mundo as pessoas morrem por doença e isso nada tem a ver com o feitiço e muito menos com as mulheres, que se todos os que tinham bem-estar na zona estavam falidos as causas não eram as mulheres, elas de quem todos os homens tinham nascido e continuariam a nascer.
Mas de nada serviu a intervenção da anciã.
Face a semelhante estado de coisas, o administrador de Cheringoma pediu a cinco pastores de diferentes congregações religiosas presentes que organizassem uma oração para expurgar os feiticeiros. Pedido formulado, pedido realizado: todo o mundo rezou e entoou cânticos religiosos, incluindo o admistrador, que, no fim, pediu aos presentes para serem mais sensatos, mais racionalistas, para estudarem mais e dessa maneira verem as causas dos problemas de forma diferente. E acrescentou, profético e confiante, que “com esta oração que aqui acabamos de realizar, todos os feiticeiros de Mazamba vão morrer e, na próxima visita, queremos encontrar aqui barracas, casas de alvenaria, bicicletas, carros, moageiras, entre outros bens, tal como existem em outras localidades.”(“Notícias” de ontem, 07/07/06, p. 2, num excelente trabalho do jornalista Horácio João).
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O “Notícias” é um orgão vincadamente governamental, mas, se estivermos atentos, encontramos nele uma espantosa riqueza de informação que diz muitas vezes bem mais, no que diz e no que esconde, do que a que surge nos jornais ditos independentes. Um excelente laboratório que devia constar das leituras obrigatórias dos nossos cursos de sociologia.
Está ainda por fazer no país a sociologia da crença na feitiçaria não apenas como veículo popular terapêutico mas também - e especialmente - como veículo de crítica política, como testemunho de um mal-estar cujas manifestações nada têm a ver com o obscurantismo, com a irracionalidade e com o sempre-foi-assim que tantas análises ditas antropológicas tentam fazer passar como ciência erudita.

E, a terminar, repare-se na foto: mulheres sentadas no chão (com excepção de uma), homens sentados em cadeiras, um claro exemplo de assimetria social.

05 julho 2006

Fome no mundo

Vovô Quisse está zangado – diz povo do Zimpeto

Na Escola Secundária Quisse Mavota, no bairro do Zimpeto, cidade de Maputo, vários estudantes começaram a desmaiar desde que a direcção da escola reuniu com a comunidade estudantil para preparar a vinda do presidente da República, quando Guebuza visitava a cidade. Mais de dez alunos desmaiaram desde então.
A comunidade local e os guardas da escola pensam que os desmaios foram e são provocados pelo espírito do vovô Quisse, patrono da escola e último régulo da área, descontente por não terem sido correctamente feitas as cerimónias tradicionais de construção do edifício escolar e por não terem sido adequadamente removidas as campas de defuntos que se encontravam no recinto e que pertenciam à família Mavota.
O director alegou que a imputação causal é falsa, os alunos desmaiados também (argumentaram que já desmaiavam muito antes da preparação da visita do presidente), uma socorrista atribuiu o fenómeno à asma e a deficiências alimentares, mas a comunidade de Zimpeto e os guardas da escola estão firmes e dizem que o responsável pelo fenómeno é o zangado espírito do vovô Quisse (“Notícias” de hoje, p.15).
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A vida é sempre, afinal, um conflito de interpretações. Aqui está uma das mais fascinantes áreas de trabalho dos sociólogos.

04 julho 2006

O professor de sociologia

Em Março deste ano, duas estudantes universitárias escreveram ao coordenador de graduação do Departamento de Sociologia de uma universidade brasileira a carta que a seguir transcrevo, da qual apaguei os nomes da universidade, do professor e das estudantes subscritoras:
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…, 27 de março de 2006.

Ao Sr. Coordenador de Graduação,

Queremos dar conhecimento ao Departamento de Sociologia de alguns fatos ocorridos durante a aula de “Introdução à Metodologia em Ciências Sociais”, no horário de 16h às 18h, pelo Professor…, no dia 15 de fevereiro de 2006. Fomos alunas regulares do referido curso e todos os fatos abaixo listados correspondem à absoluta verdade. Em nossa opinião, o Professor… abordou o desenvolvimento sociopolítico do Brasil de uma maneira pouco condizente ao esperado de um Doutor de Sociologia.
Ao se referir às religiões africanas, o Professor… disse que elas seriam responsáveis pela irracionalidade predominante no Brasil, tendo sido essa irracionalidade o que prejudicou seriamente o desenvolvimento do país. Na mesma seqüência argumentativa, acrescentou que as magias africana e indígena foram responsáveis pelo cenário de subdesenvolvimento nacional, pois são crenças com um forte componente irracional, além de serem imediatistas. Esse caráter imediatista das crenças teria dificultado a construção de uma sociedade com projeto de futuro. Para o Professor, basta comparar o Brasil a outras sociedades capitalistas desenvolvidas e pautadas por valores protestantes racionais. Segundo o Professor, somente a mentalidade de uma religião dualista seria capaz de desenvolver uma nação, fato que não teria ocorrido no Brasil. A conclusão desse percurso sociológico pelas religiões africanas e indígenas foi a afirmação de que teria sido proveitoso para os africanos caso tivessem assimilado os valores morais dos países de religiões cristãs: essa conversão religiosa construiria bases mais sólidas para o desenvolvimento africano. Nas palavras do Professor…, “samba de crioulo não usa nem a metade das sete racionalidades encontradas na música clássica”.
Ao ser questionado sobre a política de cotas da Universidade de Brasília, o Professor agiu com sarcasmo, dirigindo-se aos alunos perguntando se realmente nós acreditávamos que “essa idéia daria certo”. Segundo a análise sociológica e política do Professor, a elite branca detém e sempre deterá os principais postos de hierarquia do poder, ou nas palavras literais dele, “quando a…estiver cheia de negros, os ricos dirão que ela… não presta, e o melhor será o…. E todos correrão para lá”... Acrescentou que as cotas não teriam sucesso, pois o que o Brasil precisa é de uma reforma de base na educação. O Professor não se deu ao trabalho de explicar ou mesmo apresentar fatos que comprovassem seu argumento pela reforma de base na educação em detrimento das cotas universitárias.
Ao tentar exemplificar porque não havia nadadores negros internacionalmente reconhecidos, seu argumento foi de que “os negros têm os ossos mais pesados e nunca ganhariam”. Foi no mesmo espírito sociológico que o Professor perguntou para uma aluna se ela colocaria um negro como maestro de uma orquestra sinfônica européia, argüindo que o negro não tem o padrão dos maestros desse nível. E para corroborar essa imagem vulgar do negro perguntou retoricamente: “vocês já viram preto ser bonito nesse país?”. Ao ser questionado pelos alunos como esse raciocínio poderia se fundamentar na teoria sociológica ou mesmo se seria justo para uma democracia racial, pois há muitas pessoas e grupos na…e no Brasil lutando para desconstruir essas idéias racistas, ele respondeu sem qualquer convencimento: “mas eu não sou racista, pelo contrário sou anti-racista”.
De posse desses fatos acima listados, solicitamos ao Departamento de Sociologia da Universidade de… que inicie uma averiguação, capaz de: 1. avaliar em que medida essas foram posições teóricas e analíticas esperadas de um professor de uma disciplina obrigatória para o curso de Ciências Sociais; 2. averiguar se houve ou não expressão de valores racistas travestidos de análises sociológicas rasteiras e vulgares sobre fatos e fenômenos da vida política e cultural brasileira e 3. emitir um pronunciamento público aos alunos sobre como o Departamento de Sociologia lida com fatos semelhantes.
Sendo o que se presta no momento, aceite nossas cordiais saudações,



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Dispenso qualquer tipo de comentário.

02 julho 2006

Povo pobre em ilhas de luxo

Como sugestivo título “Povo pobre em ilhas de luxo”, o jornalista Jorge Rungo do semanário “Domingo” mostrou como à volta dos luxuosos hotéis e lodges das quatro ilhas do arquipélago do Bazaruto, na província de Inhambane, cerca de 4.000 pessoas vivem na pobreza, pescando, bebendo cerveja (utxema) fabricada a partir de seiva da palmeira brava e, no caso dos homens, casando com o maior número possível de mulheres (violando-as mesmo, segundo o jornalista) para que elas e os filhos os auxiliem na faina pesqueira.
A essas pessoas falta muita coisa, de escolas a unidades sanitárias. E escreveu Jorge Rungo: “(…) no arquipélago do Bazaruto há mais pistas de aterragem do que escolas, hospitais e outras infra-estruturas sociais” (edição de hoje, p.2).
Enquanto isso, actores de cinema, gestores de multinacionais, vencedoras de concursos de beleza, políticos, etc., frequentam as unidades hoteleiras do arquipélago, banham-se, viajam em iates e deslocam-se em viaturas com tracção às quatro rodas (idem).