Pertenci a um tempo no qual, em certas zonas rurais do país, se fazia uso do telefone das cavilhas e da manivela: colocava-se a cavilha num número do quadro, dava-se à manivela e aguardava-se pacientemente que do outro lado da linha o destinatário atendesse. Por vezes, aqui e acolá, o tronco de árvore que sustentava o fio mágico do telefone ardia com alguma queimada feita pelos camponeses. Então, de nada valia dar à manivela. Hoje, como é mágico este pequeno aparelho sem fio, sem cavilhas, sem manivela, sem o problema do tronco queimado, cheio de coisas e funções fantásticas, havido por natural, instantâneo, ao qual chamamos celular e em cuja órbita nascemos e vivemos, sem nos apercebermos de quão longa é a história física, química e matemática que está à sua retaguarda, de quão social é o seu natural!
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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