02 fevereiro 2012

Kim Jong-il, multidões, desespero e problemas de análise (15)

Décimo quarto número da série, dedicada ao estudo das reacções populares à morte do presidente norte-coreano e, em particular, de certas reacções na imprensa ocidental sobre a autenticidade das primeiras. No número nove propus-vos mais quatro pontos destinados a orientar os textos seguintes. Prossigo no terceiro, a saber: 3. Identidade e reacção colectiva.
O chefe do programa asiático do centro de estudos Chatham House, de Londres, Kerry Brown, tem uma leitura bem cautelosa, eventualmente bem mais próxima da realidade. O choro convulsivo pode ser uma reacção natural, disse ele citado pela BBC. "Isto porque a morte do líder levanta entre os norte-coreanos questões a respeito de sua identidade, segurança e capacidade de sobrevivência. Para Brown, a Coreia do Norte é uma nação que se sente como se estivesse sempre em estado de guerra e sempre contando com a benevolência e a proteção de seu líder. Mas não sabemos mais a respeito dos sentimentos reais do povo norte-coreano do que sabemos sobre as lutas de poder na elite governante do país. "O controle de informação é tão grande que é possível que eles sintam um choque real. Então é histeria verdadeira, mas não sabemos se é o que nós, no Ocidente, chamamos de dor do luto", disse." Aqui e aqui.
Prossigo mais tarde.
Nota: confira o seguinte título disseminado por muitos portais: Cenas de desespero no funeral de Kim Jong-il; confira os 181 comentários a um texto de Carlos Vidal, aqui; estude este documento aqui. Imagem reproduzida daqui.
(continua)

4 comentários:

ricardo disse...

Idêntico fenómeno verificou-se na antiga URSS em 1953, aquando da morte de Stalin. E o motivo principal, era a ausência de informação contraditória que permitisse comparar e julgar individualmente. Tal como hoje na Coreia do Norte, em 1953 os habitantes dos Gulags tiveram que reaprender a viver com os que viviam "fora". Receberam 25 rublos cada e uma guia de marcha para viverem na cidade mais próxima. Eis porque razão se encontram tantos descendentes de russos, polacos, alemães, romenos e outros no Cazaquistão, Uzbequistão e Tadjiquistão.

Finalmente, quanto à dor. Eu também acredito que ela seja verdadeira, pois, ao contrário do sr. Professor, eu não desprezo o papel do comportamentalismo na formação de uma identidade colectiva. Ainda na antiga URSS, os mais fervorosos adeptos de Stalin era órfãos e crianças cujos pais haviam sidos desterrados para os Gulags. Elas eram separadas em pavilhões onde eram doutrinados para servirem a revolução e o seu grande líder (Stalin). Quando Stalin morreu, os comissários políticos dos campos de concentração disseram-lhes que a partir daquele momento tudo seria pior para eles e para o seu país. O choro foi convulsivo e expontâneo...

E para terminar, nós mesmos em Moçambique já estivemos perto de ser uma Coreia do Norte sobretudo no período 1976-81. Não foram poucas as vezes que ouvimos falar de filhos que denunciaram pais ao SNASP por terem ouvido "coisas de reaccionários". Eu mesmo ouvi ex-colonos brancos a dizerem que eram negros nos comícios da FRELIMO para se resguardarem de problemas com o poder. Assim é o comportamentalismo.

Salvador Langa disse...

Para mim o problema central está em saber o que de facto sabemos dos outros, repito, o problema central.

TaCuba disse...

Quando não sabemos usamos o gozo para escondermos. Pena não sermos coreanos...

Marta disse...

Gostamos de pensar que as nossas lágrimas são as únicas reais e que o resto são de crocodilo.