17 dezembro 2019

Para a psicologia dos rumores em Moçambique [147]

-Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações." (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p.6).
Número inaugural da série aqui. Número anterior aqui.
Prossigo a história do rumor da prisão da chuva no céu.
A propósito desse rumor, escrevi no número anterior ser fundamental recordar um extracto de um trabalho publicado pelo semanário "Domingo" a 8 de Março de 2009, trabalho que situa o fenómeno num conjunto de problemas sociais graves, a saber:
"De ressalvar que as reservas alimentares estão efectivamente a diminuir em grande parte das zonas atingidas pela onda de saques e mortes, problema que poderá agudizar-se durante os próximos dois meses. A região onde foram reportados tumultos por falta de chuvas tem a tradição de produzir arroz e coco. O coco debate-se com o problema do amarelecimento letal. Os coqueiros estão a morrer. As pessoas no momento em que as reservas alimentares se esgotavam recorriam ao coco. Levavam o coco, vendiam e compravam farinha ou peixe. Não havia nenhum problema, explica a administradora Sebastiana (de Nicoadala, C.S.) (...) Essa falta de alimentação não é de uma casa só. Se esses todos reclamam e vem alguém dizer olha vocês não estão a ver que quem está a comer é o fulano, o tal que esconde a chuva, as pessoas são facilmente enganadas, porque costuma-se dizer onde há fome todos ralham e ninguém tem razão, esclarece a administradora ." (p. 19)."
Nota: os rumores que estou a apresentar não seguem uma ordem cronológica.

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