14 março 2019

Horizonte e propósito

Num dos seus livros, o filósofo burundês Melchior Mbonimpa usou uma imagem - para mim excepcionalmente bela - a propósito do que chamou horizonte utópico: cada protagonista desse horizonte assemelha-se a alguém que, tendo atirado uma bola a um rio no sentido da foz, se lança à água para a apanhar, sem nunca a recuperar mas ao mesmo tempo sem nunca a perder de vista e sem nunca desesperar de a recuperar. Há nisso, ao mesmo tempo, um horizonte, porque o objecto se afasta sempre; e um propósito, porque o alvo, ainda que inacessível, resta visível e leva sempre mais longe o nadador que acredita poder um dia apanhar a bola para a qual projecta o seu desejo infinito. [Mbonimpa, Melchior, Idéologies de l’indépendance africaine. Paris: Harmattan, 1989, p.33]

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