Número inaugural aqui, número anterior aqui. Em todas as situações descritas houve notícia de penúria de bens de consumo, de agitação social, de anomia, de intriga, de mentalidade linchadora e, aqui e ali, de linchamentos de supostos chupa-sanguistas. As pessoas acreditavam sempre que o sangue lhes era extraído por seringas ou por extractores análogos. Os estereótipos vitimários podem ser demonstrados pelo facto de, anos atrás, em Nicoadala, na Zambézia, dois deputados de Assembleia da República e dois jornalistas terem sido tomados por «chupadores de sangue». Por outro lado, do ponto de vista dos crentes no rumor existia sempre uma associação entre a extracção de sangue e os funcionários governamentais ou partidários e os forasteiros. Do ponto de vista governamental, tudo se resumia a situações subversivas objectivamente criadas em meios onde a credulidade é grande e a pobreza campeia. Finalmente, havia evidências de ladrões tirando partido da situação para roubar nas casas abandonadas.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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