Outros elos pessoais

29 fevereiro 2008

Azagaia entrevistado por Dino Cross

O angolano Dino Cross entrevistou o rapper moçambicano Azagaia, de seu nome real Edson da Luz. Eis um extracto da entrevista:
"DC: Que Moçambique sonhas para os moçambicanos?
AZAGAIA: Um Moçambique onde os moçambicanos não sintam medo nem receio de contribuirem com as suas opiniões sob pena de perderem seus empregos ou regalias ou mesmo a sua vida ou dos seus, onde os moçambicanos possam contestar uma situação que lhes prejudique sem correrem o risco de serem violentados pela polícia, um Moçambique onde a justiça funcione para todos e não haja "intocáveis" acima da lei contra os quais não vale a pena fazer nenhuma acusação pois nunca serão condenados, um Moçambique onde os moçambicanos conheçam a sua verdadeira história um Moçambique onde as crianças tenham cada vez mais oportunidades de educação, uma educação que lhes permita ter espaço de criar e escolherem as suas verdadeiras vocações um Moçambique onde os jovens não tenham que se aliar a nenhum partido político para conseguir um emprego ou posição confortável na sociedade um Moçambique com uma governação transparente e verdadeiramente democrática" (confira também aqui).
Leia ou recorde a entrevista que Azagaia me concedeu aqui.

Excluídos e conquistas

O historiador brasileiro Caio Boschi esteve em Maputo e proferiu a aula de sapiência na Universidade Politécnica, por ocasião da abertura do ano académico. Eis um extracto do que ele disse, feito pelo jornalista Emídio Behula: "À lupa do historiador, a consciência que as classes desfavorecidas vão adquirindo da sua marginalização do cenário político é que lhes permite, gradativamente, tornar-se efectivos sujeitos e actores históricos. No seu entender, a História é o veículo para aquisição da consciência de direitos e deveres, o factor de formação para a cidadania. Formação, pois, segundo disse, cidadania, tal como a História, não é doação do Estado, mas uma conquista dos excluídos através da educação, do exercício político e das lutas e inconformismos sociais. Boschi precisou que os excluídos se educam, sobretudo, nas lutas de reivindicação e nas resistências. Na sua óptica, para se alcançar tal desiderato, é imperioso que os educadores façam da História a sua ferramenta privilegiada, por forma a anestesiar os esforços tendentes a controlar consciências e a impor conteúdos."

Odinga é primeiro-ministro no Quénia

"A reconstrução do país, reconciliação nacional e reforma agrária foram as prioridades estabelecidas para os próximos tempos pelo líder da oposição, e agora primeiro-ministro indigitado, Raila Odinga (na foto à esquerda)" - eis o que noticia a BBC hoje. Na foto, da BBC, Odinga, à esquerda, é cumprimentado pelo ex-secretário-geral das Nações Unidas (1997/2006), Kofi Annan, negociador da paz, estando o presidente Kibaki ao centro.
Comentário: Aqui está o epílogo aparente de uma parte do processo de paz política no Quénia: a partilha de poder, um governo de coligação. Eleições marcadas por irregularidades, protesto da oposição, manifestações populares, centenas de mortes, milhares de refugiados. Agora, a partilha do poder, com tudo o que isso representa de recursos de poder a nível dos postos governamentais. Tenho para mim que o Quénia representará, doravante, o protocolo de um efeito político mimético que - prevejo - repercutirá na cena política africana.
Entretanto, recorde o Quénia, neste diário, aqui, aqui e aqui.

T3 e a taxa do lixo

Do blogue do Jorge Saiete: "A STV no seu telejornal da terça-feira (ou segunda-feira?) mostrou imagens, quanto a mim, insólitas! As imagens mostravam moradores do bairro de T3 no município da Matola a amontoar lixo doméstico nas instalações da EDM. Segundo os entrevistados pela STV naquele local, a atitude dos moradores de T3 traduzia-se na demonstração da insatisfação popular com a EDM, pois segundo eles, a empresa cobra, sempre que alguém compre energia eléctrica, uma taxa de lixo mas que em suas casas nunca alguém foi tirar resíduo algum!"

A anormalidade tornou-se normal

O editorial do semanário "Savana" desta semana aborda a greve dos chapeiros do dia 25 com o título em epígrafe: "Mas a grande revelação deste episódio é que possivelmente a maior parte dos chapas que circulam por estas duas cidades nem sequer pagam impostos. Se não estão registados, como é que os irão pagar? Todos os dias vemos tantos agentes da Polícia de Trânsito e da Polícia Municipal à caça dos chapas para inspeccionar a sua documentação. Será que esta situação de ilegalidade nunca foi detectada? Não sejamos ingénuos para concluir que nunca foram detectados. O certo é que eles são detectados a toda a hora, todos os dias. O que acontece é que os chapas ilegais tornaram-se numa importante fonte de rendimento adicional para um sem número de agentes da polícia de trânsito e municipal que circulam pelas cidades de Maputo e Matola. Quanto mais chapas ilegais, possivelmente também conduzidos por motoristas não devidamente documentados, mais dinheiro para os polícias (p. 6)."
1.ª adenda às 17:01: confira, em inglês, com o jornalista Cédric Kalonji (várias vezes referido neste diário), os processos de acumulação da polícia em Kinshasa, Congo. Se quer ler em francês, o local é aqui. Se quer ler em português, use este tradutor aqui.
2.ª adenda às 17:23: no blogue do Jorge Saiete, a propósito da greve dos chapeiros do dia 25: "A Fematro que no dia 5 saiu em defesa de todos os chapeiros ontem tentou distanciar-se dos grevistas, alegando não serem seus membros, o que é caricato uma vez que os fiscais das associações de transportadores ligadas a Fematro cobram taxas diarias a todos os chapeiros sem distinção. Só ontem é que deixaram de ser seus associados? E porquê é que são exigidos taxas diárias? O que aconteceu ontem veio pôr a lume as incongruências da Fematro, as fragilidades da Polícia e ainda o poder detido pelos ilegais num país que se pretende de Direito."

Mais 2 linchados em Chimoio hoje

Mais dois indivíduos foram linchados esta manhã na cidade do Chimoio, segundo dois jornalistas, um da STV e outro da Rádio Moçambique, respectivamente Bordina Muala e Castigo Luís, com quem estive em contacto há momentos. Eleva-se assim para oito o número de linchados em Chimoio desde o dia 23 e para 20 o total nacional este ano.
Espero dar mais pormenores logo que puder (obrigado ao meu assistente Cremildo da Unidade de Diagnóstico Social por me ter alertado para o caso).
1. ª adenda às 14:01: oiça vários testemunhos, incluindo o meu, em português, sobre os linchamentos, em trabalho do jornalista Arão dava para a Deutsche Welle, aqui.

Sismos sociais também nos Camarões

Não foi só no Quénia, no Chade, em Moçambique e no Burkina Faso, por exemplo: foi e é, também, nos Camarões, onde violentos protestos sacudiram esta semana a capital dos Camarões, Yaoundé. Barricadas foram erguidas, os jovens lutaram com a polícia no porto. Enquanto o presidente Paul Bya afirma que se trata de uma manobra da oposição para o depôr, a oposição diz que as causas das revoltas residem nos preços da comida e do combustível.
Nota: obrigado ao António Teixeira por me ter chamado a atenção para o portal da BBC.

Por que não há Conselho de Estado?

Enquanto aguardamos pelas eleições no conturbado Zimbábuè onde a inflação ronda os 100 mil por cento, o presidente Mugabe vai tentar a reeleição aos 84 anos e o comandante da polícia já vê uma mão externa ocidental a incitar à violência local; enquanto no Quénia já morreram mais de mil pessoas e se espera que finalmente seja posto em prática um acordo de partilha de poder; enquanto isso, no nosso país tenta-se que as palavras piedosas tragam a paz sem que as condições sociais que asseguram essa paz sejam discutidas.
Existem múltiplas maneiras de nos interrogarmos sobre as condições da paz no nosso país, após os vários sismos sociais ocorridos desde 24 de Janeiro e estando nós muito próximos de vários tipos de eleições. E uma delas é esta: por que razão o chefe de Estado não convoca o Conselho de Estado, por que que razão não cria uma ponte de diálogo a esse nível, por que motivo esse Conselho de Estado está fantasmado e não opera?

Luisa Diogo demissionária?

O campo das hipóteses é sempre fascinante, como neste caso do jornal "O Autarca", que, após avançar a "demissão voluntária" da primeira-ministra Luisa Diogo, escreve: "Maputo (O Autarca) – Para já três nomes são insistentemente avançados pelos membros do Conselho do Estado para o Presidente da República dar luz verde, caso aconteça a demissão voluntária da Primeira Ministra, Luísa Diogo. São eles: Paulo Ivo Garrido, Médico de profissão e actual Ministro da Saúde; Lucas Jeremias Chomera, Técnico de Medicina e actualmente Ministro da Administração Estatal; e ainda o jovem Aiuba Cuereneia, Economista de profissão ocupando neste momento o posto de Ministro da Planificação e Desenvolvimento".
Nota: o meu obrigado ao Egídio Vaz pelo envio do jornal.
Adenda às 13:23: há dois dias que Luisa Diogo tem uma grande visibilidade na Rádio Moçambique, após o que parece ter sido sido um eclipse da sua imagem. A sua presença na província do Niassa tem sido o percutor da nova visibilidade. Isto por um lado. Por outro, não creio que Luisa se vá demitir do que quer que seja. Em Moçambique ninguém se demite: é demitido, quando é.

O feiticeiro precisa de ajuda interna


Numa entrevista para o programa "Economia e desenvolvimento" da Rádio Moçambique e hoje reproduzida pelo semanário "O País", o economista Castel-Branco analisou os 20 anos do Programa de reabilitação Económica no país. Em relação às imposições financeiras internacionais e ao nosso modelo de crescimento económico, Castel-Branco citou Samora Machel e afirmou que "o feiticeiro não entra numa casa sem alguém abrir a porta ou janela". Impuseram-nos coisas, sim, é verdade - argumentou -, mas também é verdade que "algumas dessas imposições estavam de acordo com os interesses de grupos específicos dentro de Moçambique" (p. 8).
A propósito, leia ou recorde este meu trabalho aqui.

Diagnóstico social


Essa a manchete do semanário "O País" de hoje, crescentemente agressivo face às desigualdades sociais reinantes em Moçambique (clique duas vezes com o lado esquerdo do rato sobre a imagem para a ampliar).

28 fevereiro 2008

La revuelta popular...

"A revolta popular na capital de Moçambique põe em causa o suposto progresso económico e social do país" - eis o título de um trabalho escrito em espanhol sobre o 5 de Fevereiro em Maputo, da autoria de Miquel Correia. Confira aqui. Se quer ler em português, use este tradutor aqui.

Um país extravagante

"É evidente que por maioria de razão não se pode tolerar que um representante nosso possua meios de produção ou explore o trabalho de outrem" (Samora Machel, 1974)
Depois de citar Samora Machel e tomando em contra a análise feita pelo Tribunal Administrativo à Conta Geral do Estado, o jornalista Jeremias Langa escreveu uma crónica que, claro, chocará o açucarismo analítico politicamente rentável e a psicologia analgésica de alguns querubins. Destaco o seguinte: "O que mais custa entender é assistir à passividade do nosso Estado ao enorme sofrimento do povo, às mãos dos “Chapas”, viajando em desconforto total, quando os nossos dirigentes viajam sozinhos dentro de viaturas topo de gama. O que se gasta em cada Mercedes Benz, para um único dirigente, é suficiente para trazer um autocarro de 35 lugares e amenizar o sofrimento de milhares de pessoas por este país fora. As sumptuosas compras dos nossos governantes são uma prova irrefutável e vergonhosa de que a riqueza continua a distribuir-se de forma desigual e que vão longe os tempos em que se governava para se servir o povo. Depois do que aconteceu a 5 de Fevereiro, a reportagem de capa de “O País” de hoje mostra que entre investir para satisfazer a população e os seus caprichos individuais, a escolha dos nossos dirigentes não deixa margem para dúvidas. Em primeiro lugar pensam neles, em segundo ...neles, em terceiro... neles, outra vez. As proféticas palavras de Samora Machel soam vãs, agora, nos seus companheiros..."

Este jovem escapou ao linchamento hoje


Jovem, 22 anos, já com um pneu no corpo, escapou ao linchamento no Bairro dos Pioneiros, cidade da Beira, graças a um telefonema de alguém para a polícia, que chegou, salvando-o in extremis. Eis a história contada pelo jornalista Arune Valy da Rádio Moçambique na Beira, autor também da foto:
"Mário Carlos tem 22 anos, seu irmão tem 12, vivem uma vida complicada, fazem negócios e estudam, mas dizem certas pessoas que também se dedicam ao furto. Hoje, por volta das 6 horas, o mais velho foi surpreendido num quintal do vizinho a correr, fugindo, alerta-se o povo e eis que o jovem vai nas mãos populares. Investiga-se ao nível local e todos já estavam a gritar 'vamos linchar'. Eu cheguei ali por acaso, ia em direcção ao serviço. A polícia chegou por um aviso de gente de bem.O jovem disse quer aos jornalistas como a polícia que não sabe de nada da máquina de soldar que estava em seu poder e que quem é ladrão é seu irmão mais novo. Eis mais um que escapou ao fogo do peneu que já estava em volta do pescoço."
O meu obrigado ao Arune Valy.
1.ª adenda às 18:50: o linchamento tornou-se endémico em Moçambique tal como em países como, por exemplo, o Brasil, a Guatemala e a Bolívia. Importa estudar em profundidade os coeficientes de violência em nós instalados, as suas causas, as suas modalidades, as condições sociais da sua reprodução, etc.
2.ª adenda às 21:27: o sexto linchamento em Chimoio aconteceu na madrugada de ontem, no Bairro Centro Hípico, periferia da cidade, enquanto mais dois indivíduos escaparam à fúria popular. Confira aqui. Esta manhã, a Rádio Moçambique reportou que cartas anónimas foram deixadas de noite em casas de certos cidadãos de Chimoio ameaçando com represálias por parte de amigos dos perseguidos e linchados (noticiário das 6:00).

18 linchamentos este ano (três mulheres linchadas em Chimoio)

Em reportagem assinada por André Catueia, o semanário "Savana" desta semana, já na rua, escreve que foram linchadas seis pessoas (e não três, como anunciei) no Chimoio, das quais três mulheres, quando da revolta do dia 23. Entre as mulheres, a primeira linchada foi Maria Sete, 40 anos, indiciada de dar abrigo a 12 malfeitores perseguidos por cerca de 20 mil moradores da cidade, que paralizaram o tráfego na cidade por cerca de dez horas. A vítima contraíu traumatismo poliforme (p. 3). Nunca na história do país independente, três mulheres forma linchadas num só dia.
Com este dado de seis linchados em Chimoio, temos, então, em todo o país, este ano, 18 linchamentos: oito na Beira, quatro em Maputo e seis no Chimoio.

Augusto Paulino


Essa a manchete de hoje do semanário "Zambeze", dedicada ao procurador-geral da República, Augusto Paulino. Leia ou recorde aqui, aqui e aqui.

Adenda a 29/02/08: entretanto e de acordo com o "Notícias" em sua primeira página de hoje, "O Tribunal Supremo ordenou o arquivo do processo-crime número 2/2007, instaurado contra Augusto Raul Paulino, indiciado de apropriação indevida de fundos do Estado no valor de 300 milhões de meticais da antiga família, e de cumplicidade no pagamento de outros 112 milhões de meticais a um beneficiário que não apresentou os respectivos justificativos."

Fenómeno curioso

No diário "Notícias", onde pontifica o pensamento oficial, cresce o número dos leitores que, a propósito das manifestações populares que têm ocorrido, escrevem cartas críticas sobre a situação do país em geral, tal como aqui tenho mostrado citando algumas dessas cartas. É, quanto a mim, um fenómeno curioso.
Adenda: entretanto, leia mais um texto do advogado Custódio Duma, texto que tem a seguinte passagem: "Quem vive no Maputo e não tem o costume de ir ao interior dos distritos, fica na ilusão de que Moçambique é todo brilhante, onde todas as crianças cantam e vivem alegremente, todos moçambicanos tem acesso aos 5 ou 6 canais livres de televisão e que todos sabem o que é um t-bone, um sorvete, um cinema ou um chapa para ir e vir."

Um curandeiro para cada ministro - propõe J. Lacitela

Enquanto alguns andam por aí em terríveis golpes de rins para mostrar que, afinal, nada se passa no país (salvo pontos de vista enfeitiçados por mãos invisíveis), outros, como o Sr. J. Lacitela, acham que sim, que há coisas que se passam no país: "O tecido económico no geral está degradado. O que estamos a assistir é um Governo que diz “vamos tentar resolver este assunto do chapa antes que os pobres se apercebam do real problema”. É este pobre que vive do carvão vegetal que de 350,00MT até à última subida de combustível passa agora a pagar 400,00MT porque o outro transportador desconhecido de carvão teve de agravar o preço de transporte, como exemplo. Quem vai subsidiar a este transportador de modo o carvão voltar ao preço anterior? (...) Esta é a verdadeira imagem dos nossos governantes no conjunto. São lhes dado grandes gabinetes, mordomias inimagináveis, etc, etc, e não arranjam sequer um minuto cada um no seu gabinete, para pôr a mão na cabeça e se lembrar porquê está ali sentado. (...) Acho chegada altura de os nossos prezados deputados esquecerem de perder tempo discutindo igualdade de género, homossexualidades, etc, coisas que não fazem parte de nós, e aprovar uma resolução de contratação para cada ministro de um curandeiro. Assim talvez podem trabalhar!"

27 fevereiro 2008

Feitiçaria e linchamentos

Enquanto prossegue até Setembro a produção de um relatório sobre os linchamentos urbanos em Moçambique, começa no próximo mês, também sob minha coordenação, a segunda etapa da pesquisa a cargo da Unidade de Diagnóstico Social do Centro de Estudos Africanos, a saber: os linchamentos rurais provocados por acusações de feitiçaria, uma actividade que deverá terminar em Dezembro e que dará origem a mais um relatório.

Valores morais

Organizada pela Frelimo, realizou-se hoje na cidade de Inhambane uma manifestação de pessoas destinada a protestar contra as manifestações violentas. Uma militante do partido disse que as manifestações violentas não faziam sentido, que era preciso educar o povo e especialmente os jovens, pois muitos não sabiam o que iam fazer às manifestações. Por sua vez, falando para mancebos que vão cumprir o serviço militar e a propósito das manifestações do dia 23, o governador da província de Manica, Maurício Vieira, disse hoje em Chimoio que era preciso resgatar os valores morais perdidos, pois era inconcebível que crianças de cinco anos andassem à procura de capim para queimar alguém, coisa que no seu tempo não acontecia, pois nesse tempo as crianças não podiam ver alguém morto (Rádio Moçambique, noticiário das 19:30).
Adenda: entretanto, leia o mais recente texto do advogado Custódio Duma, da Liga dos Direitos Humanos, com o título "Custo de vida: do baixo poder de aquisição aos protestos populares".

Maputo: mais 2 linchados (total: 15 este ano em Moçambique)

Surpreendidos a assaltar pessoas na via pública, mais dois indivíduos foram linchados por moradores no Bairro da Polana Caniço B, na cidade de Maputo. Uma das vítimas morreu a caminho do Hospital Central.
Eleva-se para 15 o número de linchados este ano em Moçambique, com oito na Beira (nesta cidade, quatro indivíduos escaparam ao linchamento no passado fim-de-semana), três em Chimoio e quatro em Maputo.
Recordo que este diário está pejado de múltiplas entradas sobre linchamentos e que, sob minha coordenação, está em curso a preparação de um relatório sobre o tema, por parte da Unidade de Diagnóstico Social do Centro de Estudos Africanos.
Dentro de alguns dias conto dar aqui conta do início de uma segunda fase de estudo dos linchamentos (na imagem, do "Noticias" de hoje, um linchamento a ser executado; repare-se na presença de jovens).
1.ª adenda às 7:22: vale a pena ler um trabalho do "Notícias" sobre a segurança pública em Chimoio (obrigado ao Jorge Matine por me ter alertado para este primeiro plano do jornal).
2. ª adenda às 7:26: "A insegurança é de facto deveras na cidade de Chimoio e um fenómeno novo que espanta a todos é o facto de os grupos de delinquentes integrarem mulheres e actuarem em grupos numerosos como se de uma força militar se tratasse, chegando a contar com 30 elementos em cada assalto." Este é um dado preocupante e hoje mesmo iremos tê-lo em conta na habitual reunião da Unidade de Diagnóstico Social. Teremos de nos interrogar sobre se não surgiram já em alguns pontos do país uma espécie de "unidades operativas informais".
3.ª adenda às 8:11: Sobre as manifestações de Chimoio: "Os manifestantes não queriam ver nenhum carro em movimento. As viaturas policiais, estas não deveriam se aproximar dos locais de maior concentração dos manifestantes. Eram recebidas com rajadas de pedras. As próprias balas, as granadas de gás lacrimogéneo e os jactos de água lançados pelos bombeiros, não foram suficientes para conter o ânimo dos insurrectos."
4.ª adenda. "Para além da finada Maria Sete, no Bairro 25 de Junho, considerado o covil dos referidos marginais, os bandos dos criminosos integram mulheres jovens, que são usadas como isca para acordar os donos de casa, para efeitos de assalto."
5.ª adenda às 10:18: leia este trabalho sobre os linchamentos no Bairro Luís Cabral aqui.

África: Estado perde legitimidade

O antropólogo moçambicano Fernando Florêncio coordena na Universidade de Coimbra uma pesquisa feita em quatro países africanos: "O Estado nos países africanos tende a perder protagonismo, porque não consegue corresponder aos anseios dos cidadãos, e é substituído por outros actores nas comunidades rurais, pela igreja, ONG, autoridades locais ou mesmo organizações sócio-profissionais." Confira aqui. Obrigado ao Agry pelo envio da referência.
Adenda: veja no blogue do antropólogo Paulo Granjo a referência à importante obra de Florêncio com o título "Ao Encontro dos Mambos - Autoridades tradicionais vaNdau e Estado em Moçambique".

26 fevereiro 2008

Egídio e o aniversário de Mugabe

O historiador Egídio Vaz mandou-me um email há dias, do qual reproduzo o seguinte: "Estou em Johannesburg a caminho de Londres. Pelos jornais leio notícias sobre o Zimbabwe. A inflação atingiu 100 000%. Um cigarro custa Z$500 000 (quinhentos mil dólares zimbabweanos). E Mugabe (na foto à esquerda) gastou para a festa do seu aniversário qualquer coisa como Z$3 000 000 000 000 (um trilião de dólares zimbabweanos) que, nos cálculos em rand, dá ZAR8 milhões (oito milhões de rands sul-africanos). Na sua festa, foram mortos centenas de bois, de cabritos e de outros animais quadrúpedes, tendo servido a ocasião para que os convidados, zimbabweanos, pudessem saborear a carne vermelha, que rareia nos supermercados. Mais, algumas crianças que nasceram na mesma data que Mugabe, foram seleccionadas nas dez províncias que compõem o Zimbabwe para passearem com o chefe da nação zimbabweana. O Embaixador Chinês em Harare ofereceu na ocasião um quadro ao Presidente Zimbabweano e disse"Vossa Excelência, o senhor é um grande revolucionário no Mundo, o melhor amigo dos chineses". Por outro lado, o secretário-chefe de Mugabe, Misheck Sibanda, disse na ocasião o seguinte: " [Mugabe é] um homem destemido e determinado; homem que luta e lutou para a libertação deste país e do seu povo do jugo colonial e neocolonial, imposto pelos países imperialistas e seus lacaios". Por seu turno, o jornal Herald, controlado pelo Estado, intitulou na manchete o seguinte: [Mugabe] Modelo de uma consistência magnânima!" Enquanto isso, a rádio pública ZBC não parou de entoar a canção revolucionária em honra de Mugabe: "Que Deus abençoe o residente Mugabe, nossa inspiração". Por seu turno, a Liga da Juventude da ZANU PF, discursando a propósito, disse: "Precisamos de dizer ao mundo que Zimbabwe está mais vibrante do que nunca, apesar do sofrimento do povo imposto pela Grã-Bretanha e seus aliados". As comemorações ocorreram sob o lema: "defendendo a nossa soberania através do reforço da juventude". Elas tiveram lugar na cidade de Beit Bridge, do lado zimbabweano do Rio Limpopo. O presidente Robert Mugabe fez 84 anos no dia 21 de Fevereiro. Notas tiradas do Saturday Star, jornal sul-africano."

Madeira: exploração desenfreada e exportação matam pequena indústria em Nampula

O representante da província de Nampula do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Indústria de Construção Civil, Madeira e Minas de Moçambique (SINTICIM), José Smela (não estou certo de ter registado correctamente o apelido), criticou severamente hoje a exploração desenfreada da madeira e a sua exportação não processada na província de Nampula, o que está a prejudicar cada vez mais a pequena indústria e as serrações locais, crescentemente sem matéria-prima. Segundo o representante do SINTICIM, muitas serrações estão a fechar (Rádio Moçambique, noticiário das 19:30).
Recordo que este diário possui múltiplas postagens sobre o saque da nossa madeira.

Sobre a conferência da lésbicas em Maputo

Realiza-se desde ontem em Maputo a Conferência Internacional de Lésbicas, com 86 mulheres oriundas de África, Estados Unidos da América e Europa. A sul-africana Bonguiwe Low defendeu em nome de todas as mulheres lésbicas que a vida que levam é normal. Um teste excelente para a nossa democracia, um teste para a latitude da nossa aceitação do diferente.
Entretanto, em duas estações televisivas do país, certos círculos religiosos manifestaram, já, a sua apreensão e o seu desagrado.
Um estudo divulgado em 2006 em Maputo pela Liga dos Direitos Humanos mostrou que 48% da população das quatro principais cidades moçambicanas "admite a hipótese de poder ser homossexual".
A 6 de de 2007, numa homilia realizada na Sé Catedral de Maputo, o arcebispo de Maputo, D. Francisco Chimoio, colocou o homossexualismo entre os males que ensombram a saúde moral do país.
A intervenção fez-me, na altura, lembrar o regime de Mugabe no Zimbábuè e a posição do cronista Gabriel Simbine, para quem o homossexualismo é um produto de exportação europeu.
A Bíblia, por exemplo, foi escrita num contexto patriarcal, culturalmente heterossexualista. Sei que quer no antigo quer novo testamento sempre podemos encontrar passagens que, directa ou indirectamente, se referem aos "maus" (transsexuais, por exemplo). Acho até que, em certa parte, se escreveu que os homossexuais não entrarão no reino de Deus.
Ora, de forma alguma o presente pode ser visto com os olhos do passado. Passado conservador, diga-se de passagem.
Não há absolutamente nenhuma evidência de que o homossexualismo inexistisse em África antes da chegada dos europeus. Ele é uma realidade globalizada antes da globalização permitir ao senhor arcebispo Chimoio usar celular, televisão e computador.
Tenho para mim que devemos esforçar-nos por admitir e respeitar as formas diferentes de amar e de ser amado. A intolerância nesse campo veda na alma a machamba da democracia.
Finalmente, sobre homossexualismo e estigma, confira aqui.

Conferência sobre violência na África Austral

A Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo Mondlane e o Instituto para Saúde e Ciências sociais da África do Sul organizam a 5.ª Conferência Regional sobre a Violência na África Austral, a realizar-se entre os dias 28 e 30 de Abril na cidade de Maputo. O meu obrigado à direcção da faculdade por me ter dado a honra de fazer parte do Comité Científico da organização (foto de um jovem linchado na cidade de Chimoio).
Adenda às 7:37 de 27/2/08: logo que possível, aqui darei a conhecer um portal especial que os organizadores da conferência estão a preparar. Amanhã reúno-me com o director da Faculdade de Medicina, Prof. Mamudo Ismail, e com outros médicos.

Sinais premonitórios

Quando vivemos problemas, há quem pense que a melhor solução consiste em esconder a cabeça como fazem as avestruzes em momento de perigo. Ou consiste em produzirmos discursos morais condenatórios. Mas também há outra maneira de proceder: consiste em estarmos atentos aos sinais premonitórios, em evitarmos que esses sinais se tornem realidade, em darmos ao futuro a moldura de uma sociedade mais justa, menos propensa à violência social, menos vergada ao que a Igreja Católica chamou "intolerância económica". Por exemplo, recebi hoje um email de Nampula do qual extraí a seguinte passagem: "Cá por Nampula, estamos à espera dos sismos, vamos lá a ver qual a face que levam. O diesel e a gasolina estão à volta dos 37,00MT, portanto pretexto não falta. A cidade capital está quase com meio milhão de habitantes, a maioria jovens desempregados. Ultimamente recrudesceram os assaltos às casas (incluída a minha na semana passada) e hijacks nas ruas. A PRM não aguenta a barra, não tem meios nem motivação. Tá-se mesmo a ver quem serão as vítimas preferidas, com os asiáticos a ostentarem tantos sinais exteriores de riqueza e os estrangeiros africanos, aos milhares, a seguirem-lhes o exemplo."
Adenda às 10:16 de 27/02/08: entretanto, leia este trabalho de Noé Nhantumbo aqui.

Continuamos mcelizados

Os utentes da provedora de telefonia móvel Mcel continuam a não poder carregar o pré-pago. Tentei há cinco minutos, mas debalde. A provedora alega que se trata de uma avaria sobrevinda no domingo e pede a paciência dos seus clientes. Alguns leitores deste diário interrogam-se sobre semelhante avaria logo quando acontecia a greve dos chapas em Maputo. O slogan da Mcel é este: "Tudo o que fazemos é para melhorar a tua vida!"

A crítica triangular da Igreja Católica

Os comunicados condenando a violência social e os manifestantes têm-se sucedido no país. Entre outros, foram os casos do partido Frelimo, da Organização dos Trabalhadores Moçambicanos em relação a Xinavane, da Procuradoria-Geral da República. O alvo tem sido o término do processo, o alvo está a jusante do processo, na foz. O problema está no rio violento.
Mas agora surgiu a Igreja Católica com uma crítica completamente diferente: condena não apenas a violência, mas, também, a intimidação policial e, especialmente, o que chamou "intolerância económica": "Na missiva os bispos destacam o agravamento da carestia de vida no país, situação que dizem não estar a ser compensada nem pelo rendimento familiar nem pelo salário do trabalhador, apelando às autoridades de direito no sentido de “inverter a situação de intolerância económica” de modo a evitar que o espectro da violência se generalize pelo país."
Por outras palavras: a Igreja Católica criticou o que está a montante do rio, criticou as margens que comprimem o rio, produziu uma leitura triangular do fenómeno. Afinal o problema tem três lados e não apenas um.
Uma posição rara esta a da Igreja Católica e, no actual contexto de caça às bruxas e da busca da mão invisível à retaguarda das manifestações, bem corajosa.

Ontem na greve dos chapas


Imagem colhida ontem quando da greve dos chapas. A Igreja Católica condenou a violência, sugeriu à polícia que não intimidasse e afirmou existir no país "intolerância económica".

Beira: 4 escapam a linchamento

Após os linchamentos de Chimoio, quatro indíviduos acusados de assaltos escaparam ao linchamento no passado fim-de-semana graças à intervenção da polícia em quatro bairros periféricos da cidade da Beira, tendo, porém, ficado com ferimentos graves.
Parece estarmos confrontados com uma onda linchatória.

25 fevereiro 2008

Amanhã já se poderá chapar

Segundo uma fonte sénior da Federação Moçambicana de Transportadores, amanhã os chapas deverão voltar a circular em Maputo e Matola, havendo - afirmou - garantia de que a polícia acompanhará o processo para evitar problemas sociais. Esta a manchete da Rádio Moçambique no seu noticiário das 19:30.
Por outro lado, em anúncio divulgado na Rádio Moçambique, a empresa de telefonia móvel Mcel deu a conhecer que uma avaria grave sobrevinda domingo tem impedido que os utentes possam recarregar os seus pré-pagos. Alguns leitores estranharam a dificuldade de recarga justamente hoje, em dia de greve de chapas.

Xenofobia contra Moçambicanos na África do Sul

Actos de xenofobia estão a atingir uma comunidade de 200 Moçambicanos que vivem e trabalham na zona de Lobium, leste da cidade de Pretória, África do Sul. Muitos dos nossos compatriotas vivem nessa zona há mais de 20 anos, tendo filhos ali nascidos e a estudar em universidades sul-africanas. As barracas deles foram atacadas semana passada, com o labelo desqualificante de pertencerem aos Machangane. As autoridades sul-africanas têm responsabilizado os estrangeiros pela criminalidade na zona (Rádio Moçambique, noticiário das 12:30, despacho de João de Sousa).

Greve de chapeiros?

Funcionários da Universidade Eduardo Mondlane acabaram de me informar que parece haver greve de chapeiros em algumas áreas da cidade de Maputo, que há gente privada de chapas em certas áreas. A informação foi confirmada por um dos meus assistentes e por um jornalista. Não tenho mais pormenores por agora.
1.ª adenda às 9:03: o ministro dos Transportes, António Munguambe, acaba de falar na Rádio Moçambique visivelmente aborrecido com a greve dos chapeiros e com as barricadas que já surgiram. Pediu aos chapeiros para se dirigirem aos locais adequados para levantarem as licenças de abastecimento. Interrogou-se mesmo sobre se o governo tinha dialogado com os verdadeiros porta-vozes dos transportadores. Disse ainda que não era com desordem que as coisas se resolveriam.
2.ª adenda às 9:05: face aos chapeiros licenciados, pode acontecer que os piratas estejam aborrecidos. Preciso confirmar isto.
3.ª adenda às 9:14: vi um autocarro dos TPM entrar esta manhã no campus da Universidade Eduardo Mondlane cerca das 7:50. Mas estava apenas com 7 utentes. Parece que estamos reféns dos chapeiros. Pode acontecer que os poucos autocarros dos TPM em circulação recolham à gare.
4.ª adenda às 9:21: um dos meus assistentes que mora em Inhagóia acaba de me dizer que os chapeiros estão a parquear as viaturas.
5.ª adenda às 9:24: um jornalista do semanário "Savana" acaba de me dizer que provavelmente quem está em greve são os chapeiros com chapas licenciados, enquanto os piratas tentam furar o sistema aqui e acolá carregando alguma gente.
6.ª às 9:27: um outro jornalista do "Savana" informou-me que um forte dispositivo policial controlou uma manifestação de pessoas que queimaram pneus na estrada internacional, em zona da Mozal, área de Malhapsene, para quem se dirige para a Matola.
7.ª adenda às 10:49: "O porta-voz da OTM-Central Sindical, Francisco Mazoio, disse durante uma entrevista ao «Canal Moçambique» que subsidiar os transportadores semi-colectivo de passageiros, mesmo a partir das gasolineiras, nos grandes centros urbanos não é resolver a situação das tarifas por eles praticadas. Para Mazoio, a solução desta grave situação que afecta a maioria dos trabalhadores passa por o Governo investir na compra de mais autocarros e alocá-los nas transportadoras públicas urbanas e garantir a sua permanente manutenção de forma a incentivar a oferta."
8.ª adenda às 10:58: "O Governo vai submeter em breve, à Assembleia da República (AR), uma proposta de orçamento rectificativo para acomodar as despesas com a compensação ao serviço de transporte urbano."
9.ª adenda às 11:34: um jornalista do semanário "Savana" acaba de me informar que há muita gente a andar a pé, que o nível de absentismo na função pública e no sector privado é elevado, que há gente a pensar sair mais cedo dos locais de trabalho.
10.ª adenda às 12:07: a Rádio Moçambique segue a greve dos chapeiros desde manhã cedo. No seu resumo noticioso das 12 horas, um locutor citou o ministro dos Transportes e Comunicações, António Munguambe, em como afirmou que a greve estava a ser protagonizada pelos chapeiros não licenciados.
11.ª adenda às 12:29: através da Rádio Moçambique, várias personalidades têem pedido aos chapeiros que retomem as suas actividades. Uma delas foi D. Dinis Sengulane, bispo dos Libombos.
12.ª adenda às 12.33: "crise de transportes", assim intitulou a Rádio Moçambique o que se passa nas cidade de Maputo e de Matola desde manhã cedo, no seu noticiário das 12:30. Os autocarros dos TPM não são suficientes para fazer face à procura, disse o locutor.
13.ª adenda às 12:35: o presidente da Federação Moçambicana dos Transportadores Rodoviários pediu aos associados que não cometam desacatos e que regressem às estradas. Em algumas artérias, chapeiros não licenciados barraram o acesso. Informação da Rádio Moçambique no seu noticiário das 12:30.
14.ª adenda às 18:04: A Rádio Moçambique não se referiu à greve dos chapeiros no seu noticiário das 18:00.
15.ª adenda às 18:29: um jornalista comunicou-me que já circulam alguns chapas na cidade, mas julga que ainda não para a Matola.
16.ª adenda às 18:46: "Estou aqui na cidade, são poucos os chapas que circulam, a Escola Secundária Josina Machel está completamente vazia, são muito poucos os alunos que conseguiram transporte de regresso" - eis o que disse um ex-estudante meu há momentos.
17.ª adenda às 19:32: segundo uma fonte sénior da Federação Moçambicana de Transportadores, amanhã os chapas deverão voltar a circular em Maputo e Matola, havendo - afirmou - garantia de que a polícia acompanhará o processo para evitar problemas sociais. Esta a manchete da Rádio Moçambique no seu noticiário das 19:30.
18.ª adenda às 19:34: em anúncio prévio ao noticiário da Rádio Moçambique das 19:30, a empresa de telefonia móvel Mcel deu a conhecer que uma avaria grave sobrevinda domingo tem impedido que os utentes possam recarregar os seus pré-pagos. Alguns leitores estranharam a dificuldade de recarga justamente hoje, em dia de greve de chapas.

24 fevereiro 2008

Graça Machel em 2001

"É de medo que tentam amordaçar a verdade e as instituições feitas para servir a causa do Povo" (Graça Machel).
Em 2001, Graça Machel disse o seguinte, em homenagem à memória de Samora Machel, Carlos Cardoso e António Siba-Siba Macuácua, com texto registado no ex-jornal metical (n.º 1057 de 22 de Agosto):
"BAYETE COMANDANTES DA VERDADE E DA JUSTIÇA!
Samora, Cardoso e Siba Siba
Três homens de gerações diferentes
Três homens em trincheiras diferentes
Empunhando ferramentas diferentes
Porém o mesmo ideal: a Pátria e o Povo.
A mesma postura e a integridade, a honestidade, a entrega total e abnegada
E sobretudo a CORAGEM!
Batendo-se de peito aberto
Com as mãos limpas!
A mesma morte: instantânea, brutal, mas uma morte que vos eterniza no pedestal de honra e glória que eu construí para Homens como vós, no imaginário do meu universo de sonho.
Vejo-vos irmanados nessa capacidade de se superarem como indivíduos, ao saberem conquistar e ganhar a dimensão de símbolos que não cabem no tempo e no espaço; mais importante ainda, símbolos a que o Povo se refere quando reafirma os valores que quer ver a guiar os destinos da nação.
Pudera alguns de nós ter metade da vossa Coragem!
Mas aqui e agora vos asseguro: a revolta é tão grande que já não cabe na concha do nosso silêncio deliberadamente preservado como de ouro.
E sei, vejo e ouço centenas de milhares de vozes a exprimirem a mesma revolta.
Estamos a romper a timidez que nos tentaram impôr. Finalmente!
Sabem uma coisa?
O meu instinto diz-me que os vossos assassinos morais tem mais medo de nós do que nós deles. Os vossos assassinos morrem diáriamente uma morte lenta na indignidade e infâmia das opções que fizeram.
É de medo que tentam amordaçar a verdade e as instituições feitas para servir a causa do Povo.
Quão "gatos escondidos com o rabo de fora". É ou não é, Samora?
Já estão encurralados. Por isso não hesitam em abater quem de forma tão vertical lhes recorda quão contados são os seus dias. Por isso tanta sanha na forma como alvejam aqueles que expõem o quanto traíram o Povo que haviam jurado servir.
Não vai tardar que eles se afoguem nas ondas da ira popular.
Bayete, comandantes da verdade e da justiça!O sacrifício das vossas vidas não é, de modo algum, em vão!
O exército do Povo está a reeguer-se.
Eu vos saúdo, com admiração!"

Manifestações e mão invisível: posição de João Castande

Em carta de leitor, o jurista João Baptista André Castande resolveu reflectir sobre as manifestações populares em Moçambique. Pegou num dos lados do poliedro causal, o das instituições da nossa justiça.
Começou por citar Graça Machel : “(...) Mas aqui e agora vos asseguro: a revolta é tão grande que não cabe na concha do nosso silêncio deliberadamente preservado como de ouro. E sei, vejo e ouço centenas de milhares de vozes a exprimir a mesma revolta. Estamos a romper a timidez, que nos tentaram impor. Finalmente!(...) É de medo que tentam amordaçar a verdade e as instituições feitas para servir a causa do Povo. Quão gatos escondidos com o rabo de fora. (...) Não vai tardar que eles se afoguem nas ondas da ira popular. O exército do Povo está a reerguer-se!” – Graça Machel, in Metical, edição de 23-08-2001 (nota minha, C.S.: recorde o texto completo aqui, quando Graça homenageou Samora Machel, Carlos Cardoso e António Siba Siba Macuácua em 2001).
Depois escreveu o seguinte: "A minha intervenção neste contexto surge do facto de, durante estes trinta e dois anos da independência nacional, ter aprendido que em qualquer meio social a melhor solução é aquela que resulta da extirpação da causa dos problemas e não apenas do combate aos respectivos sintomas."
A seguir: "Explicando-me melhor, devo dizer que na verdade e concordando com o jovem político e compatriota Edson Macuácua, “temos no nosso país mecanismos convencionais, formais e informais, ao nível social, jurídico e institucional que são o meio adequado para a resolução de conflitos”. Mas perante os problemas concretos que agora se nos colocam, talvez seja aconselhável fazermos um exame de consciência e interrogarmo-nos se os mecanismos em referência funcionam a contento do povo? Ou, antes pelo contrário, estão amordaçados pelas forças hostis, como outrora corajosamente denunciou a compatriota Graça Machel? O que é que falta, afinal, para que tais mecanismos de resolução de conflitos funcionem de forma aceitável?"
E finalmente: "Desta feita, a par da destruição de objectos económicos e sociais que todos nós temos razão de lamentar profundamente, é preciso que não menosprezamos a quantidade de homens que são espiritualmente destruídos pelos desvarios e desvios comportamentais de um grupelho de pessoas beneficiárias da impunidade instalada."
Adenda às 23:42: a segunda parte do trabalho de Castande é ainda mais incisiva, publicada no "Notícias" de amanhã, mas já disponível em versão online. Extracto: "Mão externa? Não é elegante que depois de declararmos “guerra” sem quartel ao burocratismo, ao espírito de deixa andar e à corrupção, por serem reconhecidamente considerados obstáculos ao desenvolvimento económico e social, chamemos de mão externa aos efeitos próprios de percurso, para justificar a nossa fraqueza e/ou incapacidade combativa. Aliás, sendo a guerra um confronto entre duas forças, o mais importante é que cada uma das partes se prepare da melhor forma para fazer face aos truques mais requintados da parte contrária. A menos que tenhamos a coragem de desmascarar o rosto da dita mão externa! Por isso, o governante tem que ser amigo e praticante consequente da justiça na sua acção quotidiana. Sugiro, assim, que no nosso país temos que começar agir contra a acumulação de muitos cargos ou postos de emprego pelo mesmo grupo de pessoas, para dar emprego a cidadãos mais necessitados e carentes. Temos que abandonar o mau hábito de sentirmo-nos bem perante o sofrimento do nosso semelhante, porquanto ordena a lei aplicável aos governantes que “o exercício de cargos governativos implica o estrito respeito da Constituição e da lei, bem como das normas de ética profissional que garantem a transparência, o prestígio e a dignidade das funções exercidas e dos respectivos titulares”. Há que deixarmos, por conseguinte, de temer e marginalizar os concidadãos que pensam, sabem, são capazes e podem, para que a nossa Pátria amada possa avançar.

Manifestações contra custo de vida no Burkina Faso

Manifestações contra o custo de vida e os preços da comida, do vestuário e do petróleo encheram três grandes cidades do Burkina Faso esta semana. "A miséria não espera e você vê o povo assistindo todos os dias ao aumento dos preços e sem saber o que fazer. A situação é como ter fósforos perto de algodão que pode pegar fogo a qualquer momento" - disse Laurent Ouédrago, secretário-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Burquina. Confira aqui. Se quer ler em português, use este tradutor. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência do portal.

24 de Janeiro/23 de Fevereiro: zona sismológica social


A história de Moçambique não é a mesma desde 24 de Janeiro. Com efeito, entre Manhiça de 24 de Janeiro (quando camponeses exigiram pacificamente a tomada de "medidas imediatas para travar acções de pessoas e empresas que, tendo como interesse central, o lucro e a riqueza, exploram os camponeses associados" e sobre eles caiu a repressão policial ) e Chimoio de 23 de Fevereiro (quando os habitantes da cidade quiseram linchar 12 supostos assaltantes, tendo morto dois homens e uma mulher) - passando por Maputo, Marracuene, Chókuè, Chibuto, Jangamo e Bobole -, um enorme cortejo de fenómenos fez a sua entrada no rol das nossas preocupações.
Esses fenómenos ostentam uma morfologia diversa, dá a impressão de que estamos confrontados com coisas diferentes, de um lado protestos contra a usurpação de terras e a carestia de vida, do outro linchamentos como protesto contra a criminalidade e a ineficiência dos aparelhos estatais de prevenção e resolução de conflitos.
Na realidade, estamos diante de fenómenos diferentes.
Todavia, esses fenómenos diferentes são irrigados e federados por uma mesma fonte, pelo mesmo fio de Ariadne: a saturação popular em meio urbano perante situações que magoam, que ferem, que geram revolta, que rebentam as costuras da resignação e do fatalismo, que subvertem o optimismo dos discursos oficiais, das estatísticas, da saúde macro-económica, que agem com a lógica do efeito dominó, que geram um comportamento violento, que são o rio possesso depois que as margens o comprimiram em demasia.
A usurpação de terra, os preços do pão e dos chapas, os linchamentos, etc., são fusíveis que saltaram, são coágulos de relações sociais assimétricas que se tornaram visíveis em toda a sua crueza e que permitiram a consciência plena das injustiças sociais, são maneiras de avaliar a vida em toda a sua complexidade, são partes de um texto delicado que alguns tentam, desesperadamente, reescrever de maneiras diversas - com recurso à dança dos conceitos, à psicologização de situações e actores, à indigência analítica, à hermenêutica farisaica, ao genuflexismo político, à cobardia, ao jeito bufo, às ferramentas criminalizantes da mão invisível, dos marginais, dos provocadores -, como se o palimpsesto pudesse servir de solução à moda do Barão de Münchhausen, que, caído num pântano, teve a ideia de se puxar a si mesmo pelos cabelos, até conseguir sair, juntamente com o cavalo.
Na realidade, estamos hoje num país onde desde 24 de Janeiro existe uma zona sismológica social que não pode ser nem subestimada nem exorcizada, uma zona sismológica social que pode tornar-se maior.
Estamos confrontados com a desobediência civil? Estamos sim senhor. E de forma feia. Mas também estamos confrontados com a exigência de um Estado mais redistribuidor da riqueza social, mais obediente à justiça social.
Estamos confrontados com a desordem social? Estamos sim senhor. E de forma destruidora. Mas também estamos confrontados com a exigência de uma ordem social diferente, com a busca de uma sociedade menos criminalizada, menos segregadora de criminalidade.
Estamos confrontados com uma rebelião contra o Estado? Não senhor. Estamos, sim, confrontados com uma rebelião contra um Estado distante, sentido como não protector dos excluídos.
Finalmente, uma das perguntas fundamentais que os dirigentes do Estado deverão fazer-se é a seguinte: por que razão as pessoas não confiam nos órgãos formais de prevenção e resolução de conflitos? Por outras palavras: qual a razão por que nos atemos exclusivamente às consequências das manifestações e não analisamos as suas causas? Por que é tão importante o rio a juzante e não a montante (leiam, por favor, a postagem mais acima sobre a posição de João Castande)?
Nota: camponesas da Manhiça, foto de Inácio Pereira, inserta na edição de 13 de Fevereiro do semanário "Magazine Independente", p. 16.

Chimoio ontem: 5 mortos (3 linchados), 22 feridos e 33 detidos


Cinco mortos (três dos quais linchados no Bairro Vila), 22 feridos entre ligeiros e graves (incluindo uma criança atropelada por uma carro da polícia) e 33 detidos - eis o balanço das manifestações de ontem na cidade de Chimoio, depois que, a partir das 5 horas da manhã, moradores de quase todos os bairros da cidade quiseram linchar 12 indivíduos acusados de praticarem assaltos com recurso a catanas. Entre os linchados figura uma senhora, doméstica, catanada em sua casa, suspeita de dar guarrida aos 12 suspeitos e de ser irmã de um deles (aguardo que o jornalista Castigo Luís da Rádio Moçambique em Chimoio me dê mais pormenores hoje). Pela primeira vez em manifestações deste tipo, os bombeiros foram chamados a intervir - reporta o semanário "Domingo" de hoje - usando uma viatura para lançar jactos de água sobre os moradores, mas acontece que não só isso não impressionou os manifestantes quanto, pouco depois, a viatura ficou imobilizada por falta de combustível (p. 24). Em comunicado governamental, o governador da província, Maurício Vieira, apelou à calma e condenou violência desencadeada. O governador tratou os manifestantes por "populares", por "população" e "por população enfurecida". Mas não falou nem em "mão invisível" nem em "marginais".
Nota: foto de um linchado enviada por Anilda Manjate da STV.
Adenda: um colega antropólogo - a quem agradeço a referência - acabou de me dizer que em Dezembro do ano passado também houve manifestações do mesmo tipo em Gondola, com moradores protestando contra a "lassidão policial-jurídica".

23 fevereiro 2008

Tiros em Chimoio: moradores quererem linchar onze homens (outros dois foram já linchados)




(19:17: fotos colhidas hoje em Chimoio e enviadas por Bordina Muala e Anilda Manjate da STV, a primeira e terceira, a contar de cima, são de linchados. Muito obrigado a ambas)
Duas pessoas linchadas, dois polícias feridos, nove feridos entre os moradores, a destruição parcial da 3.ª Esquadra da Polícia e de uma residência - eis o rescaldo de uma conturbada situação social na cidade de Chimoio neste momento, onde há minutos atrás a polícia disparava para o ar tentando conter uma multidão furiosa que quer linchar 11 homens acusados de assaltos com recurso a catanas. Mas outras duas pessoas foram entretanto linchadas, acusadas também de assaltos. O jornalista Castigo Luís da Rádio Moçambique acabou de me informar por via telefónica que habitantes de Chimoio interceptaram os 11 homens, posteriormente detidos pela polícia. Entretanto, uma multidão furiosa, que arremessa pedras, quer libertar os acusados para os linchar. Uma situação muito delicada (obrigado também ao Carmona do "Savana" e ao Arune Valy da Rádio Moçambique na Beira pela informação prestada).
1.ª adenda 10:oo: estou a escrever em computador de pessoa amiga, dado que estou a sofrer restrições de fornecimento de net por parte da minha provedora que me disse há momentos haver um "problema local". Espero que possa ter net nas próximas notas. Este texto sai, portanto, sem o cuidado imagético que costumo usar.
2.ª adenda às 11:oo: esta a situação mais grave vivida até agora numa cidade moçambicana por causa das acusações de roubo e da tentativa sumária de execução dos supostos culpados. Deverei falar sobre linchamentos logo à noite na TVM, cerca das 19:50.
3.ª adenda às 11:05: jornalistas estão em contacto permanente comigo.
4.ª adenda 11:36: net restabelecida no meu computador, após 3 dias de restrições severas.
5.ª adenda às 11:40: a polícia está em dificuldades pois moradores tentam libertar os onze detidos. Há informações sobre mais vítimas, mas preciso ainda de as confirmar.
6.ª adenda às 11:45: parece estarmos em Maputo, Beira e Chimoio perante uma necessidade popular de purificação total da vida através do linchamento de ladrões ou de suspeitos de roubo.
7.ª adenda às 12:06: as manifestações começaram cerca das 5 horas, de acordo com o jornalista Castigo Luís.
8.ª adenda às 12:08: há alguns dias atrás, coloquei nesta diário - mas também em intervenção na estação televisiva STV - a hipótese de que as manifestações de 5 de Fevereiro eram apenas a ponta do iceberg. Coloquei, igualmente, a hipótese de se poder cruzar as manifestações populares com os linchamentos. O que se está a passar na cidade de Chimoio é, por hipótese, o prosseguimento das manifestações de 5 de Fevereiro sob uma roupagem aparentemente diferente. Mas o fundo parece ser comum: uma grande insatisfação popular, um grande cansaço, uma grande necessidade de despoluir a vida.
9.ª adenda às 12:34: o que se passa em Chimoio não consta dos destaques do noticiário da Rádio Moçambique às 12:30.
10.ª adenda às 13:37: de acordo com as últimas informações do jornalista Castigo Luís, uma senhora foi linchada, acusada de albergar os supostos ladrões, que são 12 e não 11 como inicialmente me foi informado. Há 13 feridos, cinco dos quais polícias, estando detidas 29 pessoas acusadas de promover a manifestação. A cidade está agora calma.
11.ª adenda às 13:59: o que se passou em Chimoio foi uma espécie de Luís Cabral ampliado. E o que se passou em Chimoio não ocorreu na periferia, mas na prória cidade.
12.ª adenda às 14:04: com três linchamentos em Chimoio hoje, eleva-se para 13 o números de linchamentos publicamente reportados este ano em Moçambique (oito na Beira e dois em Maputo).
13.ª adenda às 16:15: o Castigo Luís acaba de me informar que a situação está calma agora em Chimoio.
14.ª adenda às 16:28: o jurista Custódio Duma, da Liga dos Direitos Humanos, também se refere à manifestações de Chimoio no seu blogue. Confira aqui.
15.ª adenda às 16:43: recordo que a presidente da Liga do Direitos Humanos, Alice Mabota, faz uma intervenção na próxima quarta-feira, dia 27, sobre o tema "Custo de vida: do baixo poder de aquisição aos protestos populares". O evento realiza-se às 14 horas, Maputo, salão da LDH. Leia ou recorde aqui.
16.ª adenda às 17:53: num inquérito realizado pela Direcção de Investigação e Extensão da Academia de Ciências Policiais na província de Maputo em Dezembro de 2006, 54% dos inquiridos de uma amostra de 398 indivíduos afirmaram que os linchamentos tinham por base a ausência de confiança na polícia. Fonte: ACIPOL, Relatório final 1.ª fase - Avaliação da implementação do Policiamento Comunitário em Moçambique (2001-2006). Maputo: Direcção de Investigação e Extensão, 2007, pp. 23-24.
17.ª adenda às 18:49: a cidade ficou literalmente paralizada hoje, tendo o comércio fechado. Moradores de todos os bairros estavam profundamente irritados com as acções dos criminosos. Uma criança foi mortalmente atropelada em circunstâncias que ainda não apurei. Agora a situação está calma e a polícia camarária remove as barricadas colocadas nas estradas. Isto é parte do que um ciadão de Chimoio acabou de me dizer telefonicamente.
18.ª adenda às 20;42: subiu para cinco o número de vítimas mortais das manifestações hoje em Cimoio, enquanto os feridos são 21, sete em estado grave, incluindo uma criança atropelada por um carro da polícia. Um jornalista, Luís Magama (não sei se escrevo correctamente o apelido), foi agredido pela polícia quando filmava (noticiário da TVM das 20 horas, no qual estive presente).
19.ª adenda às 22:52: uma diferença notável hoje entre duas empresas públicas de informação: enquanto a Rádio Moçambique abriu o seu noticiário das 12:30 com a iniciativa presidencial de apoio à mulher, a Televisão de Moçambique abriu o telejornal das 20:00 com as manifestações populares de Chimoio.
20.ª adenda às 00:05 de 24/02/08: à meia-noite, no noticiário da Rádio Moçambique, o governador de Manica, Maurício Vieira, leu um comunicado governamental, narrando os acontecimentos e condenando a violência desencadeada. O governador tratou os manifestantes por "populares", por "população" e "por população enfurecida". Mas não falou nem em "mão invisível" nem em "marginais". Reportou a existência de 22 feridos.
21.ª adenda às 00:30 de 24/02/08: saldo de linchamentos em Moçambique este ano: 14 (oito na Beira, dois em Maputo e quatro em Chimoio).