Outros elos pessoais

28 fevereiro 2008

Este jovem escapou ao linchamento hoje


Jovem, 22 anos, já com um pneu no corpo, escapou ao linchamento no Bairro dos Pioneiros, cidade da Beira, graças a um telefonema de alguém para a polícia, que chegou, salvando-o in extremis. Eis a história contada pelo jornalista Arune Valy da Rádio Moçambique na Beira, autor também da foto:
"Mário Carlos tem 22 anos, seu irmão tem 12, vivem uma vida complicada, fazem negócios e estudam, mas dizem certas pessoas que também se dedicam ao furto. Hoje, por volta das 6 horas, o mais velho foi surpreendido num quintal do vizinho a correr, fugindo, alerta-se o povo e eis que o jovem vai nas mãos populares. Investiga-se ao nível local e todos já estavam a gritar 'vamos linchar'. Eu cheguei ali por acaso, ia em direcção ao serviço. A polícia chegou por um aviso de gente de bem.O jovem disse quer aos jornalistas como a polícia que não sabe de nada da máquina de soldar que estava em seu poder e que quem é ladrão é seu irmão mais novo. Eis mais um que escapou ao fogo do peneu que já estava em volta do pescoço."
O meu obrigado ao Arune Valy.
1.ª adenda às 18:50: o linchamento tornou-se endémico em Moçambique tal como em países como, por exemplo, o Brasil, a Guatemala e a Bolívia. Importa estudar em profundidade os coeficientes de violência em nós instalados, as suas causas, as suas modalidades, as condições sociais da sua reprodução, etc.
2.ª adenda às 21:27: o sexto linchamento em Chimoio aconteceu na madrugada de ontem, no Bairro Centro Hípico, periferia da cidade, enquanto mais dois indivíduos escaparam à fúria popular. Confira aqui. Esta manhã, a Rádio Moçambique reportou que cartas anónimas foram deixadas de noite em casas de certos cidadãos de Chimoio ameaçando com represálias por parte de amigos dos perseguidos e linchados (noticiário das 6:00).

19 comentários:

  1. Os linchamento e manifestacoes que tem vindo a acontecer no pais tem sido de facto uma saturacao do povo. E em Quelimane, mesmo nao terem chegado estes casos, o governador veio pedir socorro a imprensa local, dizendo que estes devem escrever algo pars desencorajar as populacoes a estas praticas. Facto curioso 'e que ele diz que ha pessoas que estao a usar as criancas para as minifestacoes.
    Mas eu acho que para Zambezia, nao falta pouco.

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  2. Quando escreveu o comentário, não estava aqui a foto. Não dá dor?

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  3. Esta foto Prof. mais do que um apelo a uma resposta imediata, mais do que uma imagem de revolta...cria peso, perguntas, dor e revolta também.
    Será que não há como parar esta onda?
    O pior é continuarmos a pensar que trata-se de só uma fase que cedo vai passar. E a vida? E a Indignação

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  4. Teremos de analisar este potencial de violência, Custódio.

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  5. Nao sei como e possivel esta barbarie...onde se diz que o povo e sereno e pacifico!!!!que indignaçao!!!

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  6. Horrível! Revoltante! e é só um menino. É preciso dizer basta. É urgente fazer-se algo.

    Quando serão tomadas as medidas necessárias para acabar com esta necessidade do roubo? Para quando condições sócio-económicas condignas para os mais carentes?

    Até onde mais desceremos como seres humanos?

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  7. um horror! mas volto a insistir que estudar os linchados pode ser interessante tentativa para compreender-mos este fenomeno. O perfil dos linchados pode nos conduzir para varias perguntas e respostas. no hospital onde trabalho, com uma equipe multidisciplinar estadamos a estudar as vitimas de "tentativa de homicidio" e vitimas de violencia urbana, na sua maioria jovens consumidores e envolvidos no trafico de drogas. a identificacao do perfil social do linchado permitiu desenvolver com a policia local um programa de prevencao. nao posso comparar com o contexto mocambicano. mas acho que em mocambique precisamos deste tipo de estudos.

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  8. Sim, é chocante. Tentarei, com essa foto, criar um ângulo de análise especial na obra que estamos a escrever.

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  9. Sim, tem completamente razão, Jorge. Vou comunicar isto à pré-unidade de trauma da Faculdade de Medicina da UEM.

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  10. Jorge, seria importante mutualizaremos experiência nesse campo. Acabo de comunicar isto àá Dra. Delmira da UEM, ela é uma das médicas que trabalha na criação da unidade de trauma.

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  11. Com o devido respeito, meus Senhores.

    Repito, com o devido respeito.

    A turba tem que ser contida, doa a quem doer.
    O poder não pode, nem deve caír na rua.
    Por muitas razões que o Povo tenha, que efectivamente tem, não pode, não é admissível um regresso à barbárie.

    Isto revela a falência do Estado, a fraqueza da sociedade civil, a incompetência do Governo, a inépcia da Polícia.

    Moçambique está a ficar fora de controlo.

    A selvajaria cresce todos os dias.

    Deixemo-nos de paninhos quentes.

    Elevar o nível de vida das pessoas, acabar com as necessidades de roubos, criar empregos...

    Toda a gente sabe, ou deve saber, que isto não é possível de um ano para os outros.
    Reparem que eu digo ANO, não dia.

    Qualquer que seja o Governo.
    Não gosto da Frelimo.
    É publico. Assumido.

    Mas sejamos realistas.

    Entretanto há que ter mão nos acontecimentos, sob pena de...

    É tempo do Sr. Guebuza reunir o Concelho de Estado.

    Pacto de Regime é Urgente.

    JÁ.

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  12. professor! a unidade de pre-trauma pode dar uma mao no estudos destes fenomenos. e mocambique tem uma experiencia no estudo de "vitimas", lembro-me de alguns estudos feitos sobre a crianca soldado e as vitimas de violencia domestica, como outros estudos ligados a vitimas do aborto clandestino e o fenomeno chupa sangue.

    este fenomeno de linchamentos nao e novo. acho que muita gente lembra-se dos ninjas, o jornal noticias tem multiplas reportagens sobre a actuacao e o linchamento de ninjas nos bairros de maputo no inicio da decada 90, por muito tempo este fenomeno andou associado ao regresso dos madjermanes e a desmobilizacao dos jovens do exercito e da guerillha da renamo. segundo alguns dados que vou recolhendo junto de familiares mais velhos, nos anos 70 e 80 estes fenomenos tambem existiam, mas estavam ligados a disputas entre familiares, ajustes de contas em relacao a disputas de heranca, adulterios, nao aceitacao de gravidez, preservacao da honra, mas estes linchamento eram conduzidos por individuos da mesma familia, e nao por pessoas da mesma vizinhanca como acontece agora. os mais velhos falam de um fenomeno interessante: eles dizem que nos anos 80 o ladrao era apanhado (pelos grupos de viginlancia ou pela vitima) e conduzido ai circulo do bairro, isto e, entregue ao miliciano e ao secretario do bairro, mas antes disso ele levava uma "licao" com a populacao e as vezes culminava com chambocos no circulo com a presenca da populacao que em unisono contavam as chambocadas do milicino no "ladrao".

    o mais tragico, contam-me que o ladrao que teimava em continuar a roubar, mesmo depois dos chambocos e cadeia, quando era apanhado era amarado com arrame e esfregado com piri piri nos olhos ou queimado nos dedos. aqui era preciso deixar marcas para ele nunca mais roubar, dizem. esta coisa do piri piri, talvez pudesse estar a substituir o peneu.

    professor! acho q o esforco da CIPOL em estudar (segundo o relatorio de 2006) deve expandir-se. mas uma colaboracao entre a unidade de diagnostico social, o MINT, a CIPOL, o Centro de formacao Juridico judicial (CFJJ), faculdade de medicina pode produzir um estudo relevante para a prevencao destes fenomenos.

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  13. Sim, um colega meu estudou o fenómeno dos ninjas justamente no "Notícias". Tal como na África do Sul, quase na mesma altura, o "ninjismo" começa em 1990/91. A ACIPOL fez uma radiografia pequena, insuficiente. O nosso trabalho mostrará facetas mais amplas.

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  14. Faltou acrescentar que li muito os estudos do Bóia Júnior.

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  15. Sem dúvida essa foto é chocante. E reitero o dito por Umbhalane.

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  16. professor! acho o estudo que esta sendo conduzido pelo professor como de grande importancia para estudar estes fenomenos. tambem li os estudos do boia junior, e outros. mas havia no recinto do hospital central uma unidade de pesquisa a fenomenos de violencia domestica, li alguns pequenos estudos e relatorios produzidos na altura, quando pesquisava sobre os abortos em adolescentes.

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  17. Basta!
    Já chega de tanta intolerância.
    Terá que existir uma melhor forma de descarregarmos as nossas frustrações.

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  18. Sem dúvida que basta. Mas uma coisa é o que desejamos, outra o que se faz na realidade.

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