Outros elos pessoais

Postagens na forja

Eis alguns dos temas de postagens que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
* Genéricos: Dossier "Savana"(2)
* Séries: Dominação e direcção: luta política na Beira (5); Indicadores suspeitos e comoção popular (9); Racismo, etnicismo e xenofobismo (16); Vassalagem (4); Cientistas sociais são "sacerdotes"? (6); É nas cidades do país (9); Ciências sociais e verdade (9); Já nos descolonizámos? (10); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (12); Moçambique dentro de 30 anos (série) (6) (recordar aqui e aqui)

EUA: demasiadas leis, demasiados prisioneiros

No The Economist, com indicação do custo anual dos prisioneiros, aqui. Obrigado ao Ricardo de Paris pelo envio da referência. Tradução: Free Translation

Dominação e direcção: luta política na Beira (4)

Em 2008, o Município da Beira (então sob controlo da coligação Renamo/União Eleitoral e presidência de Deviz Simango) ofereceu uma ambulância ao Centro de Saúde da Munhava e cinco balneários públicos a outros tantos bairros. Escrevi nesse ano, numa série de três números intitulada A guerra dos dons e dos créditos, o seguinte:
(continua)

Indicadores suspeitos e comoção popular (8)

Acima um extracto de uma notícia inserta no "Diário de Notícias" e no "Notícias", respectivamente aqui e aqui.
Mais um pouco desta série.
Como já escrevi, a inquietação social suscitada pelo tráfico e/ou pela sua ameaça dá, de imediato, origem a vários tipos de fenómenos. Sugeri dois no número anterior, sugiro mais dois agora:
3. Essencialização. Todo aquele que, em meio pobre, tiver uma casa considerada luxuosa, de muros altos, todo aquele que use viaturas de luxo, especialmente com vidros fumados, é sem qualquer dúvida raptor de seres humanos. No imaginário popular, a essência da riqueza advém dos negócios obscuros e de práticas mágicas.
4. Padronização psicologizante. O raptor é um um ser bem vestido, de fala persuasiva, de maneiras convincentes.
(continua)
Nota: o quadro analítico aqui proposto pode também ser usado em fenómenos como o racismo, o etnicismo e o xenofobismo.

Ritualizados e expositivos

Os casamentos em Maputo estão cada vez mais ritualizados e expositivos. Não basta a união entre dois seres e duas famílias: urge igualmente o casamento com pompa, com extrema visibilidade exterior e sónica, com grande dispêndio de coisas materiais e simbólicas. Para servir as classes mais abastadas do 4x4, existe agora uma frota em crescimento de limusines de várias cores. Tornou-se fundamental exibir sinais extermos de riqueza e/ou de êxito. As classes menos favorecidas - as do ntxopelo, do chapa e do autocarro do Estado - lutam para serem, elas também, empreendedoras, limusinadas. Enquanto não sobem a rampa elitária do céu terreno, vão-se fotografando ao lado das limusines.

Emparelhado

O António Eduardo chegou a uma conclusão: "O mundo anda sempre emparelhado de forma oposta". Aqui.

Profundos

Presidente de um partido sem qualquer relevo político no país, o Partido Trabalhista, mas assíduo frequentador do "Notícias", o Sr. Miguel Mabote continua a produzir reflexão política de inegável originalidade. Agora chegou à conclusão de que "é chegado o momento de os moçambicanos se confiarem uns nos outros". Nesta cruzada pela profundidade analítica, é acompanhado por um proeminente colega, Neves Serrano, do Partido do Progresso Liberal de Moçambique, que conseguiu quatro parágrafos contra um de Mabote no jornal online acima referido e propôs uma nova lei eleitoral que evite "tensões pós-políticas". Aqui. E recorde uma postagem minha sobre partidos políticos, aqui.

Dossier (1)

Queira consultar a primeira parte de um dossier com peças do semanário "Savana" de 30/07/2010, aqui.
(continua)

30 julho 2010

As bichas do Zimpeto

O leitor Ricardo tirou a foto em epígrafe esta manhã no Zimpeto, periferia da cidade de Maputo: longas bichas de viaturas, com os automobilistas à espera de serem atendidos na inspecção obrigatória de veículos. O prazo termina a amanhã, segundo o "Notícias" as autoridades do pelouro descartaram  a prorrogação do prazo, mas alguém me informou esta tarde que o prazo foi, afinal, prorrogado, do que, porém, não estou certo. Se for verdade que o prazo foi prerrogado, é muito provável que o ritmo de afluxo reduza drasticamente, para aumentar quando o novo suposto prazo estiver a terminar. O nosso ritmo é, quase sempre, antropológico, ao sabor do não há crise.
Nota: os leitores brasileiros devem entender bicha enquanto sinónimo local de fila: bicha de carros, fila de carros.
Adenda às 20 horas: o prazo foi prorrogado por tempo indeterminado dado - assegurou à STV o director nacional adjunto do Instituto Nacional de Viação, Sr. Jorge Miambo - não estarem ainda reunidas as condições a nível nacional. Por outras palavras: antes havia e agora não há. Nem Heráclito faria melhor.

Postagens na forja

Eis alguns dos temas de postagens que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
* Genéricos: Dossier "Savana"(1)
* Séries: Dominação e direcção: luta política na Beira (4); Indicadores suspeitos e comoção popular (8); Racismo, etnicismo e xenofobismo (16); Vassalagem (4); Cientistas sociais são "sacerdotes"? (6); É nas cidades do país (9); Ciências sociais e verdade (9); Já nos descolonizámos? (10); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (12); Moçambique dentro de 30 anos (série) (6) (recordar aqui e aqui)

Após o mundial: cartun de Zapiro

Pois é, após o mundial e as vuvuzelas, de volta à realidade...Aqui.

As estradas da democracia mundial

Argumentando que o direito internacional não contempla o tema, mais de 40 países abstiveram-se no tocante a uma resolução, proposta pela Bolívia e ontem aprovada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, afirmando o direito universal à água e ao saneamento. Segundo  a Folha.com: "Cerca de 884 milhões de pessoas carecem de acesso à água potável no planeta, mais de 2,6 bilhões não têm saneamento básico, e cerca de 1,5 milhão de crianças menores de 5 anos morrem a cada ano por causa de doenças vinculadas à água e ao saneamento, segundo países patrocinadores da resolução."

Quivala e o homem com base no próprio homem

"Como Partido Humanista de Moçambique, surgimos especialmente virados para prosseguir a satisfação de interesses do homem com base no próprio homem, diferentemente daquilo que vem sendo a abordagem das formações políticas que nos antecederam." - missionárias palavras de Cornélio Quivala, presidente do Partido Pahumo sediado em Nampula e antigo parlamentar do Partido Renamo. O Sr. Quivala também disse que não haveria ajuntamentos com outros partidos pois isso seria "agressão ideológica" (jornal "Zambeze" de 29/07/2010, em trabalho de Moisés Cuambe, p. 13). Citado o mês passado pelo "O País", o Sr. Quivala garantiu (certamente não pestanejou) que o partido já tinha 900 mil militantes de Cabo Delgado.

Segundo DN

No "Diário de Notícias" de hoje, aqui. Recorde aqui. Siga uma série minha com o título Dominação e direcção: luta política na Beira, aqui.

A "hora do fecho" no "Savana"

Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de saudável ironia que se chama "A hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Deliciem-se com "A hora do fecho" desta semana, da qual ofereço, desde já, um aperitivo:

Indicadores suspeitos e comoção popular (7)

Acima um extracto de uma notícia inserta no "Diário de Notícias" e no "Notícias", respectivamente aqui e aqui.
Mais um pouco desta série.
No número anterior propus-vos que o fenómeno fosse analisado a partir de três vectores: 1. O vector da inquietação social provocada pelo tráfico e, especialmente, pelo rumor sistemático; 2. O vector da compensação simbólica através da transferência de causalidade; 3. O vector do oportunismo.
A inquietação social suscitada pelo tráfico e/ou pela sua ameaça dá, de imediato, origem a vários tipos de fenómenos agindo de per si ou agrupados.
1. Generalização por informação incompleta. Se houve efectivamente um rapto, é porque o rapto existe de forma generalizada e não importa onde. Ou antes ou depois, o simples desaparecimento (temporário ou definitivo) de uma criança é suficiente para fazer nascer o rapto no imaginário popular.
2. Falsa identificação. Se alguém vive de forma abastada é porque vive do rapto, do sangue dos outros. A nível campesino, existe uma secular tese, a saber: quem produz mais do que os outros, só o pode fazer à custa desses outros através de mecanismos mágicos.
Prossigo no próximo número.
(continua)

Dominação e direcção: luta política na Beira (3)

Mais um pouco desta nova série.
Na edição de 28 do corrente do "Magazine Independente", em trabalho já referenciado neste blogue, o jornalista Nelo Cossa escreveu que "Daviz Simango entregou, na manhã de sexta-feira, do dia 23, às oficinas e postos administrativos, quatro viaturas para apoios a serviços, dois camiões portacontentores, três compactadores, 22 contentores de lixo e mais 16 que chegarão em breve" (p. 10).
(continua)

29 julho 2010

Capa da edição com data de amanhã

Nota: como é habitual neste diário, proximamente farei entrar o Dossier "Savana", com peças por mim seleccionadas da edição de 30/07/2010.

Postagens na forja

Eis alguns dos temas de postagens que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
* Genéricos: A "hora do fecho" no "Savana"
* Séries: Dominação e direcção: luta política na Beira (2); Indicadores suspeitos e comoção popular (7); Racismo, etnicismo e xenofobismo (16); Vassalagem (4); Cientistas sociais são "sacerdotes"? (6); É nas cidades do país (9); Ciências sociais e verdade (9); Já nos descolonizámos? (10); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (12); Moçambique dentro de 30 anos (série) (6) (recordar aqui e aqui)

No MF

No "Mediafax" de hoje, aqui. Recorde as minhas séries com os títulos Os riscos do efeito borboleta social na África Austral e   Racismo, etnicismo e xenofobismo, respectivamente aqui e aqui.

Dominação e direcção: luta política na Beira (2)

Vamos ao segundo número da série, com uma breve introdução teórica.
A gestão política pode fazer-se através de dois tipos de capital: o capital de dominação e o capital directivo.
O que entendo por capital de dominação? É  o conjunto de procedimentos que concernem à coerção física directa.
O que entendo por capital directivo? É o conjunto de procedimentos destinados a obter a adesão e/ou o amorfismo político dos cidadãos.
Quanto maior for o investimento nos aparelhos repressivos e na repressão, mais alta será a a composição orgânica da política e menor, portanto, a taxa de lucro político, quer dizer, menor a legitimidade de quem gere o Estado ou aspira a fazê-lo.
(continua)

Racismo, etnicismo e xenofobismo (15)

O penúltimo número desta série, com um quarto exemplo de intolerância local:
4. Este ano, registaram-se ataques a lojas de estrangeiros no Xiquelene, periferia da cidade de Maputo.
Apresentei-vos quatro exemplos de fusíveis sociais sobre os quais importa reflectir com profundidade.
(continua)

Dominação e direcção: luta política na Beira (1)

Este é o início de uma série com o título em epígrafe.
Adenda: no "Magazine Independente" com data de hoje há dois trabalhos que destaco: o editorial de Salomão Moyana com o título "Má imagem da Frelimo na Beira" (p. 7) e, assinada por Nelo Cossa, uma reportagem com a seguinte identificação: antetítulo "Cantando "Que venham" com gasolina e pneus na mão", título "Munícipes da Beira inviabilizam execução de uma sentença" e subtítulo "Uma sentença política incendiária e irresponsável, com arranjos judiciais, põe a Beira em alvoroço" (p. 10). Recorde aqui.
(continua)

Postagens na forja

Eis alguns dos temas de postagens que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
* Genéricos: Diversos
* Séries: Dominação e direcção: luta política na Beira (1); Indicadores suspeitos e comoção popular (7); Racismo, etnicismo e xenofobismo (15); Vassalagem (4); Cientistas sociais são "sacerdotes"? (6); É nas cidades do país (9); Ciências sociais e verdade (9); Já nos descolonizámos? (10); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (12); Moçambique dentro de 30 anos (série) (6) (recordar aqui e aqui)

Índice de pobreza multidimensional

Este mês, Sabine Akire e Maria Emma Santos apresentaram um texto contendo um novo método de medir e comparar a pobreza em 104 países (entre os quais o nosso, considerado um dos 26 mais pobres países de África): o índice de pobreza multidimensional, um compósito de três dimensões contendo dez indicadores. Confira aqui. Para ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato. Tradução:Free Translation

Samora e Rebelo (2)

Depois de no número inaugural ter recordado Samora Machel, é agora a vez de vos revelar um poema de Jorge Rebelo intitulado "A dualidade do ser":
Costumo assistir, nunca falto a estas cerimónias
(quando me convidam).
A de ontem então foi empolgante:
Muito faustosa, muitas figuras,
ouvimos discursos laudatórios,
patrióticos, exalando saber e rectidão.
Adorei.
Prossigam a leitura aqui.
(fim)
Adenda às 10:33: um leitor escreveu-me dizendo que os excertos que fiz da obra de Samora Machel encimam o poema de Jorge Rebelo, não devendo ser separados. Tem razão. Eis, então, o texto completo, abrindo com a frase “Poesia de combate”, aqui.

Samora e Rebelo (1)

Vou primeiro lembrar Samora Machel, para depois apresentar um poema de Jorge Rebelo:
"(...)... O transformar-se a disciplina numa obediência cega às ordens do escalão superior, o querer fazer-se dos militantes e combatentes executores autómatos do comando, é uma insuficiência muito grave. (...) Os ambiciosos recorrem à corrupção e suborno de camaradas para os utilizarem nas suas manobras pérfidas" (Machel, Samora Moisés, 1973, Impermeabilizemo-nos contra as manobras subversivas intensificando a ofensiva ideológica e organizacional no seio dos combatentes e massas. [Moçambique] : Imprensa Nacional, 1975. 31 pp.)
(continua)

Racismo, etnicismo e xenofobismo (14)

Mais um pouco desta série, com mais dois exemplos de intolerância local:
2. Em Março de 2007 foram reportados casos de ataques a bens de cidadãos burundeses e congoleses em Nampula .
3. Em Outubro ainda de 2007, correu em Morrumbene, província de Inhambane, provocando pânico, o boato de que Chineses estavam a sequestrar crianças do ensino primário .
(continua)

Proximamente: Samora e Rebelo

A partir da meia-noite local, surgirão neste blogue duas coisas, para as quais desde já chamo a vossa atenção:
1. Um excerto de Samora Machel
2. Um poema de Jorge Rebelo

Postagens na forja

Eis alguns dos temas de postagens que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
* Genéricos: Diversos
* Séries: Indicadores suspeitos e comoção popular (7); Racismo, etnicismo e xenofobismo (14); Vassalagem (4); Cientistas sociais são "sacerdotes"? (6); É nas cidades do país (9); Ciências sociais e verdade (9); Já nos descolonizámos? (10); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (12); Moçambique dentro de 30 anos (série) (6) (recordar aqui e aqui)

DZ e WF

Os jornais "Diário da Zambézia" e "Wamphula Fax" não têm sido divulgados neste diário devido a uma avaria num cabo submarino que, entre outros problemas, impede o uso da internet.
Adenda às 17:13: internet restabelecida hoje, informação há momentos de uma fonte do DZ.

Armas de fogo

No seu noticiário das 12:30, a Rádio Moçambique noticiou que homens munidos de armas de fogo assaltaram um posto da Electricidade de Moçambique situado no Infulene, periferia da cidade de Maputo, roubando o dinheiro colectado aos contribuintes. O assalto soma-se aos dois noticiados hoje neste blogue e ao ocorrido em Tete. Tudo leva a crer que estamos diante de um sismo de grande criminalidade. Interrogo-me sobre a origem da armas de fogo, pistolas e metralhadoras. Este é um tema raramente abordado.

Criminalidade e prismas

Aqui. E em primeira página aqui. Em Fevereiro deste ano escrevi neste diário o seguinte texto: "A grande criminalidade no país, especialmente a grande criminalidade na cidade de Maputo, desperta invariavelmente uma grande comoção. Os jornais reportam-na em grandes parangonas. Um assalto a um banco, por exemplo, merece imediatamente uma primeira página nos jornais, uma destacada manchete na televisão. Mas lá nos bairros periféricos das nossas cidades, por exemplo, o que é grande criminalidade? Aí, a grande criminalidade é o pequeno assalto, a intrusão do ratoneiro de esquina, o gang de subúrbio, um assassinato por desconhecidos, um corpo sem vida numa ruela, a insegurança amarrada à sobrevivência do dia-a-dia, coisas que aparecem normalmente diluídas na secção de ocorrências do "Notícias", juntamente com informaçcões sobre os asmáticos que procuram os serviços hospitalares. Nas zonas rurais, a grande criminalidade é, também, o roubo furtivo, mas também o mau olhado, o efeito malévolo do feiticeiro traduzido - acredita-se - na morte de alguém de cuja malária ninguém quer saber. Afinal, a vida parece ser como assim: a intensidade de um prisma."

Dupla administração

Informa o "Notícias" online de hoje que deverá ficar pronto este ano o novo edifício-sede do governo da cidade de Maputo. Aqui. Temos, então, um Estado tentacular, oneroso, a ampliar a sua rede de acção ante o Conselho Municipal da cidade. Em Maputo e em todas as capitais provinciais do país. Em Abril de 2008, o então edil da cidade de Maputo, Eneas Comiche, teve a coragem de afirmar que a dupla administração "dilui as responsabilidades, tanto da edilidade como do Governo da cidade, podendo futuramente prejudicar o desenvolvimento harmonioso e integrado da urbe como um todo." Aqui.

Racismo, etnicismo e xenofobismo (13)

Mais um pouco desta série.
A conjunção dos dois fenómenos sugeridos no número anterior – tendo como diagonal digamos que a sul-africanização dos nossos potenciais xenofobistas - pode ampliar a consciência, real ou imaginada, da penúria, pode ampliar a intensidade e o impacto de fenómenos de intolerância como os que se seguem:
1. Em Agosto de 2006, residentes dos bairro T3 na Matola chamaram curandeiros para descobrirem os assassinos que supostamente aterrorizavam o bairro, face à crença na ineficiência da polícia. Aos curandeiros foi dado um prazo de 15 dias para encontrarem uma solução e revelaram a identidade dos criminosos. O dedo acusador foi apontado aos estrangeiros do Zimbabwe e dos Grandes Lagos, capazes, segundo os residentes de T3, de se transformarem em gatos, ratos e cobras para violarem mulheres na calada da noite e matarem cidadãos com o fito de lhes extrair sangue para operações mágicas.
(continua)

Indicadores suspeitos e comoção popular (6)

Acima um extracto de uma notícia inserta no "Diário de Notícias" e no "Notícias", respectivamente aqui e aqui.
Mais um pouco desta série.
No número anterior propus-vos que o fenómeno fosse analisado a partir de três vectores: 1. O vector da inquietação social provocada pelo tráfico e, especialmente, pelo rumor sistemático; 2. O vector da compensação simbólica através da transferência de causalidade; 3. O vector do oportunismo.
O tráfico de seres humanos é uma realidade no país, realidade que, com uma equipa, mostrei no livro Tatá papá tatá mamã.
O tráfico tem provocado comoção social, medo e desejo de vingança. Comoção, medo e desejo de vingança podem dar origem a outros tipos de fenómenos reactivos, entre os quais proponho quatro: generalização, falsa identificação, essencialização e projecção retrospectiva. Esses quatro fenómenos desencadeiam o que chamo compensação simbólica através de transferência causal.
Disso falarei proximamente.
(continua)

Técnica

X é problema delicado, Y o indiciado de ser o responsável. Se o problema for alargado no sentido X...n, mostrando-se que X não é o único problema pois que há problemas n do mesmo tipo e, até, bem mais graves; e se se ampliar a extensão da responsabilidade no sentido Y...n, mostrando-se que existem n causadores de problemas do tipo X, especialmente de âmbito internacional, com consequências bem mais dramáticas, então consegue-se disfarçar o incómodo de X e a responsabilidade de Y. Se há X...n problemas e Y..n responsáveis, por que razão se haveria de singularizar o X e o Y em causa? Telhados de vidro há em todo lado, é problema global. Por aí caminham os técnicos da despistagem social, bons estudantes de Nietzsche, que um dia disse isto: "Não há factos, mas somente interpretações". Essa técnica pode tornar-se ainda mais sofisticada quando em lugar de  se admitir uma culpabilidade caseira, pura e simplesmente se defende a inexistência de X e, portanto, a inocência de Y.

Sobre os fumos da Mozal (4)

Último número desta série.
Procurei, de forma breve, mostrar-vos alguns primas a propósito da Mozal.
Agora, a nível global: é frequente a concepção de que os ambientalistas são seres tenebrosos que, porque ao serviço de interesses obscuros, tudo fazem para impedir o desenvolvimento nacional. Esse é um prisma que podemos encontrar a vários níveis. A ideia central parece ser a de que o desenvolvimento merece que certas coisas sejam sacrificadas. Colada a essa ideia, parece haver uma outra, a de que os ambientalistas são promotores de um utópico regresso às origens.
Talvez um dia eu me decida a analisar os prismas em torno do ambiente.
(fim)

Postagens da forja

Eis alguns dos temas de postagens que, progressivamente, deverão entrar neste diário a partir da meia-noite local:
* Genéricos: Diversos
* Séries: Sobre os fumos da Mozal (4); Indicadores suspeitos e comoção popular (6); Racismo, etnicismo e xenofobismo (13); Vassalagem (4); Cientistas sociais são "sacerdotes"? (6); É nas cidades do país (9); Ciências sociais e verdade (9); Já nos descolonizámos? (10); O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (12); Moçambique dentro de 30 anos (série) (6) (recordar aqui e aqui)

Cartun de Zapiro

Aqui. Sobre Zapiro, aqui.
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