Outros elos pessoais

31 março 2008

Manifestações populares no Senegal e na Costa do Marfim devido à carestia de vida

Manifestações populares devido ao preço dos alimentos no Senegal e na Costa do Marfim (aqui, os protestos abrangem os preços do óleo e do sabão). A imagem é de Dakar, capital do Senegal. Obrigado ao Egídio Vaz por me ter chamado a atenção para a situação no Senegal.
Recordo que manifestações do mesmo tipo realizaram-se recentemente nos Camarões, no Burkina Faso e no nosso país.
Prevejo que o fenómeno se vai generalizar no nosso continente.

Situação no Zimbábuè

O Mail&Guardianonline já fala em derrota clara de Robert Mugabe, enquanto Morgan Tsvangirai não aparece em público. O presidente estaria a tentar protelar a saída dos resultados oficiais. O seu porta-voz, George Charamba, avisou Tsvangirai para não se declarar presidente, pois isso equivaleria a uma tentativa de golpe de Estado (obrigado ao FL por me ter enviado a referência do portal. Obrigado também ao Agry pelo que me está a enviar). Leia ou recorde os três cenários pós-eleitorais que previ na minha postagem de ontem com o título Eleições no Zimbábuè também são nossas (6) (fim). E siga os resultados não oficiais das eleições aqui. Se quer ler em português, use este tradutor.
1.ª adenda às 18:58: leia a posição do Departamento de Estado norte-americano aqui.
2.ª adenda às 19:02: desde manhã que não consigo entrar no portal do jornal pró-governamental zimbábuèano Herald. Alguém consegue?
3.ª adenda às 19:05: se quer ler em português, faça-o aqui através de um despacho de hoje do jornal português Público.
4.ª adenda às 19:15: uma fonte afirma que Robert Mugabe e a ZANU-PF se preparam para anunciar a vitória nas presidenciais e nas parlamentares.
5.ª adenda às 20:34: quase 48 horas passadas após o encerramento da votação, somente 52 dos 210 assentos parlamentares foram declarados, mostrando a ZANU-PF um assento à frente do MDC.
6.ª adenda às 7:30 de 1/04/08: leia o Telegraph aqui e o nosso Notícias aqui.

Xigono analisa as "pitas" da cidade de Maputo

Depois de afirmar que o hip hop nacional está "uma desgraça, esses mc´s não escrevem nada, é como diz o mano Xaminé: os clips são bundas, os álbuns são bundas, é tudo por aí....", o rapper moçambicano Xigono analisa as pitas da cidade de Maputo da seguinte maneira: "Muita gente acredita que não existam motivos para abordar-se o sexo feminino da forma que o faço, mas, se manteres os teus olhos abertos e andares pelas ruas da cidade de Maputo hás-de ver que as nossas irmãs são umas pervertidas, e isso é talvez algo que nos ajuda em parte pois satisfazemos as nossas necssidades sexuais, mas vivemos num mundo em que já não há nada de relação emocional e sentimental, vamos lá analisar uma cena juntos: as pitas vivem em função duma única cena, que é instrumentalizar seus corpos para ganhar dividendos, eu cá fico triste com essa cena apesar de meter-me com essas pitas desse mesmo estilo pois é uma necessidade biológica, mas veja esta cena, elas são maningue emocionadas e aluadas, não percebem muita cena, e se percebessem talvez teríamos um mundo melhor, sem putos para aí abandonados e um baixo índice de abortos." - in O Túnel, p. 8.
Observação: tenho a suspeita de que Xigono toca num tema susceptível de debate.

O Túnel


Cá está uma coisa agradável, a bela revista a cores com o título em epígrafe, cujo lançamento público foi efectuado anteontem na cidade de Maputo. Obrigado ao Agnélio Jossias, chefe de redacção, pela oferta hoje do número inaugural com 60 páginas.

Hospital português tem mais médicos do que Moçambique

A Rádio Televisão Portuguesa tem hoje a seguinte notícia: "O Hospital de Santa Maria, em Portugal, tem mais médicos do que Moçambique, disse hoje o ministro da Saúde moçambicano, Ivo Garrido, para dar uma dimensão dos problemas do sector existentes no país."
Adenda às 17:16: sugiro que consultem o portal a seguir (Banco Mundial) e, especialmente, a rubrica "Squilled Emigration 2000" (obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência). Não tenho por agora possibilidade de pedir a alguém do MISAU que confronte os dados. Se quer ler em português, use este tradutor aqui.

Sobre a música que consumimos

O Ali Cossing escreveu para o jornal "Notícias" de hoje mostrando o seu profundo desagrado com a música em curso na praça: "Senão vejamos: as temáticas das músicas jovens moçambicanas são basicamente de curtição (bebedeira) e mulheres. Os nossos rappers quando têm que falar de mulheres fazem-no somente numa perspectiva das mais depreciativas possíveis (prostituta para li, catorzinha para aqui, dou-te dali, etc), quando têm que falar deles próprios fazem-nos do tipo “eu sou melhor (curtidor) que tu, a coroa é nossa, vocês não são de nada, eu tenho aquele(s) carro, aquela(s) dama(s), inclusive a tua, enfim somos os tais”. As músicas de alguns dos nossos rap, não passam disso." Mas então o que fazer, que música produzir e ouvir? Resposta do autor da carta: "Escrevam jovens raps e pandzista mas escrevam coisas produtivas e contribuam (e vocês têm potencial e alguns até formação para isso) com o vosso som para desenvolvimento deste país cantando músicas como, “O país da Marrabenta” (Gpro Fam) embora ache que estas músicas tenham caído de pára-quedas para estes jovens, que para além destas músicas continuam iguais aos outros gritam e nada dizem senão aquela promiscuidade, escrevam como Azagaia (força pela coragem). Escrevo este artigo antes de ter o feedback do resultado da sondagem da STV, mas adianto a resposta (Não)."
Entretanto, pode ler ou recordar a minha série, ainda não terminada, com o título Existe o zicoísmo?

30 março 2008

Eleições no Zimbábuè também são nossas (6) (fim)


Vou terminar esta série, quando muitas agências noticiosas internacionais dão conta de que Morgan Tsvangirai e o MDC clamam por vitória esmagadora nas eleições realizadas ontem, quadro que Robert Mugabe e a ZANU-PF acham sem sentido, pois estão convictos de que venceram folgadamente. A Comissão Nacional de Eleições do Zimbábué pode começar a divulgar os resultados ainda hoje. Entretanto, é possível considerar, entre outros, três cenários pós-eleitorais, com possibilidades, a saber:
1. A Comissão Nacional de Eleições declara Mugabe e a ZANU-PF como vencedores (hipótese mais do que provável). Pode, inclusivamente, colocar Mugabe com uma margem de votos confortavelmente acima dos 51%. Quatro possibilidades: 1.1. Começam manifestações populares, com múltiplos efeitos imprevisíveis; 1.2. Face ao forte aparato militar e policial, as manifestações são proteladas ou evitadas, mas a situação social deteriora-se; 1.3. A deterioração da situação social gera, a médio prazo, um golpe de Estado palaciano, Mugabe é suavemente afastado (motivo oficial: doença, por exemplo) e substituído por um reformador, a situação melhora; 1.4. O agravamento da situação gera uma partilha de poder à Quénia, um negociador do tipo Kofi Annan (que jogou um papel crucial a esse nível no Quénia) entra em cena.
2. A Comissão Nacional de Eleições proclama Morgan Tsvangirai e o MDC como vencedores (hipótese remota). As lideranças do exército e da polícia fazem um golpe de Estado e o país entra em estado de sítio com um regime militar declarado. Três possibilidades: 2.1. Mugabe é mantido, o regime endurece, a situação social agrava-se; 2.2. A médio prazo, Mugabe é substituído por um reformador projectado pelos comandantes militares e policiais com o apoio da ala moderada e tecnocrática da ZANU-PF; 2.3. Partilha de poder à Quénia, com um negociador tipo Kofi Annan também presente, tal como no primeiro cenário.
3. A vitória de Morgan Tsvangirai e do MDC é considerada finalmente razoável e as forças-chave estrategicamente caladas da ZANU-PF aceitam a realidade (hipótese quase apórica). Os vencedores fazem acertos de partilha governamental com a ZANU-PF.
Mas seja qual for o cenário, seja qual for a possibilidade - sem dúvida que mais alguns cenários e possibilidades podem ser considerados -, tendo especialmente em conta a situação gerada no Quénia, creio que as eleições no Zimbábuè colocam definitivamente para discussão em África (como veículo de ou entrave à democracia) quer os nossos modelos eleitorais quer a sua monitoria.
Não podemos, de forma alguma, desdenhar dos efeitos das eleições no Quénia e no Zimbabuè nas nossas próximas eleições, especialmente nas presidenciais e legislativas.
Nota: foto reproduzida daqui.
Adenda: em qualquer altura posso modificar o que aqui escrevi, face ao que vou estudando, colocando a vermelho as emendas e/ou os acréscimos. Gostaria que os leitores pudessem comentar os cenários e as possibilidades apresentadas.
1.ª adenda às 18:03: os primeiros resultados eleitorais em meios urbanos dão vantagem a Morgan Tsvangirai e ao MDC (Rádio Moçambique, noticiário das 18 horas).
2.ª adenda às 19:35: o docente Ali Jamal, do Instituto Superior de Relações Internacionais, está na Rádio Moçambique neste momento, registei dele o seguinte: são eleições acompanhadas de muita intimidação, de muita ameaça por parte das forças de segurança. O Estado não está a garantir a isenção, não é um Estado de direito, há sistemática intervenção dos ramos militar e paramilitar. O governo é causador dos problemas que o povo do país está a enfrentar. Não acredito que o povo do Zimbábuè vá votar em Robert Mugabe. Há uma grande força de mudança ligada à oposição. Mesmo nas zonas rurais existe muita contestação a Mugabe. Temos de esperar um cenário de desobediência civil, que pode caminhar para uma confrontação com as forças da ordem. Não sei se teremos uma situação parecida com o Quénia, mas teremos desobediência. As forças da ordem estão preparadas para reprimir a favor do regime no poder. Corajoso docente, este (Rádio Moçambique, noticiário das 19:30).
3.ª adenda às 21:45: dois observadores da SADC recusaram-se a assinar um relatório preliminar da organização que afirma terem sido "pacíficas e credíveis" as eleições realizadas sábado no Zimbábuè. Confira aqui.
4.ª adenda às 23:00: agências noticiosas começam a divulgar que foi declarado o estado de emergência no Zimbábuè. Confira por exemplo aqui.
5.ª adenda à meia-noite e cinco de 31/2/08: aludindo à tensão que se vive especialmente em Harare na expectativa dos resultados eleitorais, o jornalista do "Notícias", Lázaro Manhiça, apresenta hoje um relato do que entende passar-se no Zimbábuè. Confira aqui.
6.ª adenda às 9:29 de 31/2/08: cerca de 490 mil quadros qualificados abandonaram o Zimbábuè desde 1980. Confira aqui. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, por me ter enviado a referência do portal.
7.ª adenda às 10:06 de 31/2/08: siga os resultados não oficiais das eleições no Zimbábuè através deste portal aqui.

O aviso das Forças de Segurança no Zimbábuè

O jornal pró-governamental Herald do Zimbábuè ainda não tem hoje - até ao momento em que escrevo esta postagem - nenhuma referência aos resultados eleitorais. Uma das poucas que tem no noticiário, além de um apelo de ontem da Comissão Nacional de Eleições, é, em grande destaque, também datado de ontem, um sombrio aviso das forças policiais e militares - fiéis ao partido no poder, ZANU-PF - a todos aqueles que, face a "eleições harmonizadas" (singular expressão) quisessem aplicar no país a receita do Quénia. O comandante geral da polícia, Augustine Chihuri, disse, a esse propósito, que a violência é uma substituta pobre da inteligência e um monstro que pode devorar o seu criador porque este é cego e não selectivo por natureza.
Se quer ler em português, use este tradutor aqui.
Adenda: dentro de algum tempo finalizo aqui a série Eleições no Zimbábuè também são nossas, na qual ensaiarei alguns cenários do que poderá passar-se doravante no Zimbábuè.

Zimbábuè: oposição afirma que ganhou as eleições de forma esmagadora

De acordo com o Guardian online de hoje, os resultados oficiais das eleições de ontem no Zimbábuè ainda não começaram a ser divulgados, mas Morgan Tsvangirai e o MDC (da oposição) disseram que obtiveram uma vitória esmagadora sobre Robert Mugabe e a ZANU-PF, mesmo em zonas rurais, de acordo com a contagem feita pelos seus agentes. Entretanto, a polícia proibiu a oposição de declarar publicamente a vitória. O secretário-geral do MDC, Tendai Biti, afirmou que o MDC ficaria dentro da lei, mas que não podia falar do que o povo faria caso os resultados oficiais mostrassem números diferentes. O jornal governamental Herald escreveu que Robert Mugabe ganharia por 57% dos votos.
Foto reproduzida daqui.
Adenda: dentro de algum tempo finalizo aqui a série Eleições no Zimbábuè também são nossas, na qual ensaiarei alguns cenários do que poderá passar-se doravante no Zimbábuè.

29 março 2008

Evidências de fraude nas eleições do Zimbábuè

De acordo com a Reuters, observadores africanos afirmaram ter descoberto evidências de fraude nas eleições do Zimbábuè hoje realizadas. Se quer ler em português, use este tradutor aqui.

Eleições no Zimbábuè também são nossas (5) (prossegue)

Tanto quanto se pode perceber pelos relatos que surgem sobre o Zimbábuè, as eleições (presidenciais, parlamentares e municipais) têm decorrido de forma geralmente pacífica, ainda que haja problemas logísticos sérios e queixas de falta de mesas de voto suficientes em áreas urbanas. As forças de segurança estão em peso por todo o lado. Há tanques nas ruas e aviões militares sobrevoam o país.
Quer Mugabe quer Tsvangirai estão convencidos de que vão ganhar. Todavia, creio que Mugabe e a ZANU-PF serão declarados vencedores, com alguns ganhos de Tsvangirai e do MDC em alguns círculos, especialmente urbanos e designadamente em Harare.
Uma sondagem conduzida pelo Departamento de Ciência Política e Administração da Universidade do Zimbábuè, sob direcção de Joseph Kurebwa - com uma amostra de dez mil pessoas em todo o país - , prevê 56% de votos presidenciais para Mugabe, 26% para Tsvangirai e 13% para Makoni. O partido ZANU-PF é também suposto ganhar, assegurando 41 assentos no Senado e 137 assentos parlamentares.
A Rádio Moçambique tem reportado o evento de forma muito breve nos seus noticiários, sem qualquer esforço analítico.
Se quer ler em português o material acima, use este tradutor aqui.
Nota: foto reproduzida daqui.

Zimbábuè: o que Moyo prevê


O Professor Jonathan Moyo prevê um caos sem precedentes no Zimbábuè. Confira aqui. Espero bem que se engane. Se quer ler em português, use este tradutor.
Adenda às 17:01: siga as mais recentes notícias aqui.

Zimbábuè a seguir

A postagem a seguir será sobre o Zimbábuè, onde neste momento decorrem as eleições presidenciais, legislativas e municipais. Siga-as pelos mapas da Google aqui. Aguarde.

Coisas e negócios em Moçambique

Se quer saber um pouco das coisas e dos negócios em Moçambique, espreite os cabeçalhos das notícias do Africa Intelligence a partir da primeira notícia no canto superior esquerdo do dia de hoje, onde se fala de Thandai Mavhunga e de Miguel Nhaca Guebuza.
Infelizmente, a leitura completa das notícias só é possível com uma assinatura paga.
Se quer ler em português, use este tradutor aqui.

Mais um linchamento na periferia de Maputo (26 casos este ano no país)

Parecia haver um aparente eclipse da cidade de Maputo no tocante aos linchamentos, face à grande visibilidade do fenómeno na zona centro (Chimoio e Beira). Mas agora aconteceu um linchamento na periferia da cidade. Assim, de acordo com o "Notícias" de hoje, um presumível assaltante foi linchado na noite de quinta-feira junto à Estrada Nacional Número 1, zona do Zimpeto, perto do desvio para o bairro de Khongolote. De acordo com o jornal, as causas são desconhecidas, "mas ao que tudo indica uma potencial vítima que circulava pela zona gritou pedindo socorro quando o suposto bandido interceptou-a para lhe retirar alguns bens. Em resposta, os residentes das imediações saíram e detiveram o indivíduo que, ao que se pensa, é estranho na zona. A isso seguiu-se uma acção de “castigo” severo com recurso a paus, varões de ferro, pedra e outros materiais até o indivíduo perder a vida. O corpo do linchado, que aparentava 25 anos, permanecia no local do crime pelo menos até ao fim da tarde de ontem, apesar de o linchamento ter ocorrido à noite."
Com este novo caso, sobe para 26 o número de linchados este ano no país, nos casos publicamente reportados pela imprensa, a saber: dez em Chimoio, nove na Beira, dois no Dondo e, agora, cinco em Maputo.

Ainda sobre Tomás Nduda cuja família foi esquecida

Escrevi há dias aqui sobre a homenagem póstuma a Tomás Nduda lá por terras de Muidumbe, província de Cabo Delgado. Referi que mãe e irmã viviam com dificuldade, 40 anos depois da morte dele. Mas agora o jornalista Pedro Nacuo escreveu sobre isso e mostra-nos, num admirável e pungente texto, um quadro bem claro do que ali se passou, um quadro que é, afinal, o das distâncias sociais flagrantes existentes neste país. Eis extractos do que Pedro escreveu: "É que as grandes coisas que nos engolem, muitas vezes nos fazem esquecer os detalhes que as fazem. Enquanto aquela nomenclatura não se habituar a dizer que é de Muidumbe, levar para lá os seus filhos, sobrinhos e netos, ninguém, por mais que venhamos a ter um Estado muito rico, que se lembrará daquela terra. Enquanto as casas dos ilustres se localizarem em bairros luxuosos de Nampula, Maputo e outras paragens além-fronteiras, da outra vez que vierem por qualquer motivo, voltarão a dormir em tendas, na sua própria terra! (...) Foram as grandes coisas que falharam para que as pequenas não fossem acauteladas. (...) Tudo o que era grande foi feito, mas se esqueceu que a cerimónia era a primeira em que se dormia num lugar por causa da morte de Tomás Nduda. Então, a casa hospedeira devia ser onde a viúva vive. Colocaram-se os dísticos, os tanques de água, as tendas gigantes em casas que não tinham nada a ver com Tomás Nduda. A casa da sua viúva, onde se encontravam os filhos, continuou lá no fim da aldeia: sem latrina, comida, água, sem nada, para acolher os outros familiares. A festa ficou para a aldeia, menos a casa dos infortunados. Os familiares que ficaram boquiabertos, até que o incansável e atento administrador, Rodrigo Purruque, corrigiu a tendência. Pouco tarde, é verdade!"

28 março 2008

Os críticos dos críticos

Na sua habitual crónica semanal no semanário "Savana", Afonso dos Santos escreveu esta semana sobre os críticos dos críticos. Começou assim: "Os críticos dos críticos gostam de ostentar a sua fidelidade canina ao serviço da política governamental, e empenham-se com fervor na propaganda a favor dos interesses dos grupos sociais que obtêm privilégios graças a essa política. Eles próprios – os críticos dos críticos – também pertencem a esses grupos. Os críticos dos críticos assumem como sua tarefa principal a de latir e tentar morder todos aqueles que criticam as nefastas consequências da divina actuação governamental. Para poupar palavras e letras, os críticos dos críticos passarão a ser aqui chamados cêcês. Alguns dos cêcês poderiam até ser chamados cêsiólogos. Os cêcês – principalmente os do tipo cêsiólogo – procuram utilizar a sua esperteza absoluta com o objectivo de fabricarem argumentos para justificarem a corrupção como meio para a criação da riqueza absoluta e para o crescimento acelerado da sua filha adorada, que se chama “pobreza absoluta”. Em certos casos, costuma ser utilizado o rótulo “combate à pobreza”, para designar essa acção de criação da riqueza absoluta." (itálicos no original)
Obrigado ao Fernando Lima pelo envio da peça.

Povo moçambicano é pacífico, logo 5 de Fevereiro não foi moçambicano (3) (prossegue)

Prossigo a série com o título em epígrafe, que tem como êmbolo o pacifismo do povo moçambicano defendido a todo o transe por Edson Macuácua, responsável da área da Mobilização e Propaganda do partido Frelimo e que, na condição de porta-voz da bancada parlamentar desse partido, interveio há dias na Assembleia da República, dizendo o que pode ler aqui. Entretanto, o semanário "O País" entrevistou Lourenço do Rosário, reitor da Universidade Politécnica e presidente do Fórum do Mecanismo Africano de Revisão de Pares. Da longa entrevista, extracto o seguinte:
O País: Que leitura faz do que aconteceu no dia 5 de Fevereiro aqui em Maputo e que se foi repercutindo por alguns pontos do país?
Lourenço do Rosário: Vamos separar dois aspectos: um é o aspecto legítimo da indignação, outro é a forma como esta indignação se transforma em violência degenerada. A indignação é legítima (...). Aqui criou-se um mito: houve uma boa gestão da política de reconciliação nacional, não houve vinganças por causa de algumas atrocidades que a guerra nos trouxe. À volta disso, criou-se um mito de que somos um povo pacífico, mas esquecemo-nos de que quando não há organização, quando não há com quem dialogar, facilmente se vai para a violência, não podemos dizer que não há factores para a violência, os sinais estão aí. Então, o 5 de Fevereiro já vinha sendo prenunciado através (...) dos factores de injustiça social..."
Importe e leia a entrevista completa aqui. Obrigado ao Jeremias Langa e à Olívia Massango, jornalistas do "O País", pelo gentileza do envio da peça, a meu pedido.

Lourenço do Rosário já de seguida

Daqui a alguns minutos e na sequência da série Povo moçambicano é pacífico, logo 5 de Fevereiro não foi moçambicano, divulgarei na íntegra uma entrevista concedida ao semanário "O País" desta semana pelo reitor da Universidade Politécnica e presidente do Fórum do Mecanismo Africano de Revisão de Pares, Lourenço do Rosário, que se referiu ao fosso crescente ricos e pobres no nosso país e aos "acontecimentos de 5 de Fevereiro". Aguarde. Desde já o meu obrigado ao Jeremias Langa e à Olívia Massango pelo envio da peça.

Kanimambo!

Obrigado, kanimambo aos leitores que, cada vez em maior número, um pouco de todo o mundo, me enviam sugestões, referências de portais, comentários via email, etc. Isso é uma prova de como este diário, próximo do seu segundo aniversário a 18 de Abril e com bem mais leitores do que quando assinalei o primeiro, se tornou um ponto de referência nacional e internacional para leitura e reflexão. Nem sempre publico as sugestões ou as referências (procuro assegurar uma certa linha temática), mas podeis crer que nada do que me enviais se perde, porque, pouco a pouco, o diário de um sociólogo reflecte as vossas preocupações. Bem hajam.

Zimbábuè: siga as eleições pelos mapas da Google

Siga os acontecimentos políticos - concretamente as eleições - no Zimbábuè pelos mapas da Google aqui.
Obrigado à Polly Gaster pelo envio da referência.

Mugabe: se perder, saio (marcha atrás?)

Amanhã são as eleições no Zimbábuè. Entretanto, o presidente Mugabe, que com 84 anos concorre a um sexto mandado após muitos anos de poder, disse há dias que jamais entregaria o poder à oposição. Agora, falando aqui perto de nós, no Nyanga, num volte-face espectacular e segundo o correspondente em Harare do Quenia Today, disse que aceitaria a derrota caso perdesse. E propôs o seguinte à oposição: se vocês ganharem, eu aceito. Se nós ganharmos, vocês devem aceitar. Tudo isso para evitar a violência pós-eleitoral.
Pessoalmente não acredito na segunda posição de Mugabe. Entretanto, se quer ler em português, use este tradutor. Obrigado ao Inácio Chire pelo envio da referência.

Povo moçambicano é pacífico, logo 5 de Fevereiro não foi moçambicano (2) (prossegue)

Depois do presidente da República, Armando Guebuza, do presidente da Assembleia da República, Eduardo Mulembwè, e do ex-ministro dio Interior, Manuel António, terem olhado para as manifestações populares de 5 de Fevereiro de forma realista, surgiram alguns pesos-médios do partido Frelimo a tentar inverter a marcha.
Assim, o primeiro foi Feliciano Mata, porta-voz da bancada parlamentar do partido, que decidiu atribuir às manifestações o selo da Renamo, a saber: "O porta-voz da bancada, Feliciano Mata, disse sexta-feira ao “Notícias” que a forma como a bancada parlamentar da Renamo-União Eleitoral se comportou durante a sessão de informações do Governo provou (sic, C.S) aos moçambicanos o seu envolvimento e responsabilidade nos actos de vandalismo que se registaram a 5 de Fevereiro último nas cidades de Maputo e Matola, ao fazer comparações absurdas e irresponsáveis sobre as manifestações. Com efeito, o deputado Luís Gouveia, da bancada minoritária na AR, disse, na circunstância, entre outras coisas, que em qualquer parte do mundo as manifestações nunca são pacíficas, senão no cemitério."
Agora, foi a vez de Macuácua que, em discurso de púlpito, decidiu que o problema é bem mais complexo: simplesmente quem se manifestou não era Moçambicano. Seguindo a lógica de Mata - que ligou a Renamo aos "actos de vandalismo" -, Macuácua amplia o argumento e sustenta que os manifestantes ("os indívíduos", asseverou) de 5 de Fevereiro nada têem de moçambicanos...dada (afirmação implícita) a participação da Renamo e de outros irresponsáveis e desonestos.

Apressadinha, a Renamo

Segundo o mediafax, "A Renamo, maior partido da oposição em Moçambique, reagiu ao anúncio da exoneração do Ministro da Defesa Nacional, MDN, Tobias Dai. com um apelo de demissão em bloco do Governo e à convocação de novas eleições antes do final do presente ano. Em contacto com o mediafax, o porta-voz da Renamo, Fernando Mazanga, considerou a queda do MDN, dias depois da exoneração do Chefe e Vice-Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, FADM, aliado ao afastamento de um Ministro dos Negócios Estrangeiros (que aconteceu há cerca de três semanas), como sinais evidentes de que o Governo está desestabilizado, por isso a “melhor saída seria mesmo que o resto dos ministros que ainda não foram mexidos, apresentarem a sua demissão em bloco, de modo a dar espaço a que o Presidente da República, Armando Guebuza, convoque eleições gerais antecipadas”.
Apressadinha, a Renamo.

Povo moçambicano é pacífico, logo 5 de Fevereiro não foi moçambicano (1)

Em trabalho de Amândio Macuácua, o "Notícias" de hoje reporta a intervenção na Assembleia da República de Edson Macuácua, deputado da Frelimo e secretário para a área da Mobilização e Propaganda desse partido. Assim, "Num outro passo da sua intervenção no Parlamento, o deputado da bancada do partido que suporta o Governo, Edson Macuácua, disse que os moçambicanos têm vindo a acompanhar “com justificada preocupação atitudes de evidente irresponsabilidade política e desonestidade intelectual ao se pretender atribuir ao povo moçambicano a responsabilidade pelos distúrbios protagonizados por indivíduos que teimam em aceitar que a paz que vivemos constitui um valor intrínseco aos moçambicanos, uma conquista irreversível e um precioso recurso a preservar”. “A Frelimo condena o uso de discursos belicistas, o incitamento à violência, a manipulação da pobreza para instigar a violência A este propósito, gostaríamos de acentuar que os valores da moçambicanidade e o destino comum dos moçambicanos constituem linhas orientadoras para o exercício responsável da actividade política no nosso país. Não podemos, pois, deixar de denunciar atitudes que amiúde visem explorar as ainda prevalecentes manifestações de pobreza, particularmente as insuficiências de vária ordem que afectam o dia-a-dia do nosso povo, para despoletar práticas de desordem incluindo o holiganismo gratuito de destruição e saque de propriedades alheias para daí reclamar comportamento não pacífico do povo moçambicano”. Disse que uma leitura atenta da história só pode conduzir a uma a conclusão de que o povo moçambicano é um povo pacífico."

Dondo: linchado suposto doente mental na posse de bananas

"Um cidadão tido pelos seus parentes como demente foi esta terça-feira espancado até a morte por desconhecidos na cidade do Dondo. Joaquim Domingos José tinha 17 anos de idade e foi morto ao ser encontrado na posse de meia dúzia de bananas, aparentemente roubadas. O comandante distrital da PRM no Dondo confirmou a ocorrência como um crime de homicídio voluntário que a corporação vai averiguar até ao seu esclarecimento. Com mais este incidente a província de Sofala soma 10 casos de mortes de supostos ladrões por populares." - notícia transmitida pela Rádio Comunitária do Dondo e que me chegou há momentos via Arune Valy, jornalista da Rádio Moçambique na Beira.
Voltarei a esta notícia.

Tensão política agrava-se no Zimbábuè (amanhã são as eleições)

A tensão política agrava-se no Zimbábué, na véspera das eleições - que se realizam amanhã -, com o MDC acusando a ZANU de fraude e Mugabe distribuindo bens por todos os lados enquanto acusa Tsvangirai e o MDC de serem lacaios dos países ocidentais. Segundo o jornalista Lázaro Manhiça do "Notícias", reportando de Harare, "Mugabe avisou o MDC para parar com os seus planos, visando transformar o Zimbabwe num segundo Quénia, no caso de o partido de Tsvangirai perder as eleições. Na quarta-feira o director de Informação do MDC reafirmou ao “Notícias” que o seu partido está disposto a liderar protestos em todo o país se a sua formação política não for proclamada vencedora, pois acredita ter chegado a hora de estarem no poder no Zimbabwe."

27 março 2008

Temperatura da lista telefónica/zona sul

A nova e bela lista telefónica da zona sul do país tem a seguinte distribuição de páginas de telefones fixos por província: Maputo: 294; Gaza: 16; Inhambane: 38.

Webtemperatura dos partidos políticos

Em Moçambique apenas três partidos políticos têm portais. Ponto de situação:
Portal da Frelimo: sempre actualizado.
Portal da Renamo: quase sempre desactualizado, este ano não existe apesar de ter lá a data de hoje.
Portal do PDD: definitivamente desactualizado, sumiu de vez ainda que ostente gloriosamente a bizarra data de 27 de Março de...19108.

A "hora do fecho" no "Savana"

Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de saudável ironia que se chama "Na hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Deliciem-se com a "hora do fecho" desta semana:
"*O ministro da Defesa de Portugal é um sortudo. Chegou a Maputo e conheceu logo a chefia do Estado-Maior General das Forças Armadas acabada de tomar posse. Cavaco Silva foi-se embora e ele ficou para trás a tempo ainda de apertar a mão ao engenheiro Nyusi, o seu novo contra-parte em Maputo. Sortes.
*Mais euforia que sorte, o presidente português saiu de Maputo com a barriga cheia de banhos de multidão. O maior foi no Lumbo, mesmo junto à Ilha de Moçambique onde foi envolvido por um enorme ajuntamento popular. Voz da oposição, que é forte naquelas bandas, disse que nem Chissano, nem Guebas alguma vez gozaram de tão grande recepção.
*Quem não ficou muito satisfeito e fez questão de o dizer ao jornal foi um grupo de oito nacionais da bandeira verde-rubra. Tinham expectativa de serem convidados a almoçar com o presidente na casa do maioral João Ferreira dos Santos e ficaram a ver navios. Melhor, “dhows”, os barcos à vela da região.
*Quem deve estar satisfeita também é a nova ministra da coordenação ambiental. Tomou posse como mano Nyusi e põe fim a insistentes especulações que a davam amuada depois da saída dos Negócios Estrangeiros. A mana teve que interromper uma visita ao Senegal e vir às pressas para Maputo depois de saber que tinha sido remodelada.
*Onde à satisfação também há insatisfação. As brincadeiras sexuais de um cantor atrevido custaram-lhe aparentemente um contrato chorudo com a telefonia móvel. O outro é jurista e pensava que ia continuar a chuchar viagens imensas à custa do timoneiro que contava pôr à frente da ordem dos homens das batinas.
*Não se sabe se era da satisfação ou insatisfação mas o “boss” cessante das Forças Armadas causou alto suspense ao, no meio do discurso, ter mandado buscar mais uma página que faltava. Os convidados lá tiveram que esperar pela página do general.
*Satisfeito anda claramente o ex-timoneiro. Pelo menos nos écrans de televisão onde tem aparecido muito nas últimas semanas. Parlamento, serviços religiosos, audiências políticas, o nosso ex anda cheio de palpites e com uma super boa disposição para falar à imprensa.
*Paulina Chiziane também promete muita polémica com a sua nova obra, “o alegre canto da perdiz”. Para abrir o apetite já deu uma suculenta entrevista a um jornal das metrópoles onde dá vários palpites de natureza amoroso-racial do mosaico Moçambique. Já tamos bichar para ler o livro …
À boca pequena
Certamente animados pelas parcerias público-privado que tanto se promovem pelo país, o canal televisivo governamental anda de mão dada com a canal do reino de Deus para promover “estrelas”. Agastados com as críticas lá vão dizem que vozes de burro não chegam ao céu …"

Existe o zicoísmo? (9) (prossegue)

Vamos lá prosseguir esta série com o título em epígrafe.
O que temos é uma revolução no imaginário social do corpo, uma concepção diferente do corpo em meio urbano (com epicentro em Maputo), um corpo sexualizado e sexualizante que se furta crescentemente ao privado, ao resguardado e aos espaços severos da moral e do pudor da gerações mais velhas, mais antigas. Quando os autores de cartas de leitores do "Notícias" ou as mulheres da Organização da Mulher Moçambicana se queixam da subversão dos valores, do afundamento da moral, pedindo ao presidente da República que reponha a ordem no corpo, no vestuário e na moral das mulheres, eles e elas elas têm inegavelmente razão (claro que o protesto tem outras causas, mas disso não vou agora falar). Simplesmente o que aconteceu e acontece é que o corpo sexualizado deixou de ser uma colónia dos antigos valores e ganhou a independência, por mais que isso nos choque. Os jovens de hoje são um processo de emancipação, são o percurso de uma nova moral.
O tchuna-babysmo é a pedra de toque da independência, o enzima de uma reconstrução da sexualidade simbolicamente armazenada no corpo. Não foi nem é por acaso que, o ano passado, o ministro da Educação e o governador de Gaza se insurgiram contra o uso da tchuna-baby num instituto de formação de professores e decretaram um autêntico programa de combate à perigosidade do corpo feminino, ao seu consumo público:
"As calças que as alunas vestem mandaram fazer no alfaiate e não compraram na loja. Não é verdade que os nossos alfaiates deixaram de saber fazer calças e só optem por “tchuna-baby”. Podemos aceitar que comprada na loja seja “tchuna-baby”, o mesmo já não se pode dizer com relação às calças que são encomendadas aos alfaiates. Com isto, quero dizer que não se pode aceitar que futuras professoras andem mal apresentadas porque de nada valerá a formação (...) Não se pode aceitar que futuros professores andem como cabritos. Devem uniformizar o modo de caminhar, seja na rua, quando se vai ao refeitório até mesmo aos campos de produção (...) Devem ter ainda horário único de acordar, dormir, bem como a mesma forma e hora de comer. É importante dizer que os formandos devem aprender a cantar. Quando estiverem a realizar certas actividades devem estimular o canto.”
Se for correcta a hipótese de que estamos perante uma nova visão do corpo e da sexualidade que ele armazena, expõe e sugere, então estamos, também, perante a capacidade de recebermos positivamente mensagens de sexualidade densa e imediata, como aquelas que o zicoísmo transporta (e apesar da sua evidente masculinocracia). O consumismo generalizado, os padrões de independência e de liberdade, o cinema em geral, o cd/dvd, a novela brasileira, a net, a multiplicação de dancings, de parties, de discotecas, etc., tudo é um contexto propício ao zicoísmo. A hipótese: o zicoísmo não é apenas o ofertador de uma mensagem sexual surpreendente; é, igualmente, uma produção do imaginário social da juventude. Melhor: Zico não é somente ele, é também nós; se Zico nos produz, nós produzimo-o também, nós zicoamos a vida. Ora, o capitalismo, nas sua exterma complexidade - de que Zico é apenas um pequeníssimo peão -, é uma colonização permanente do sentidos, uma amputação permanente do cérebro, da capacidade de pensar.
Finalizo no próximo número.

Logo que...

Logo que tiver terminado um ciclo de trabalhos começado muito cedo hoje, voltarei ao vosso convívio. Até já.

26 março 2008

Interceptado camião com dez jovens sob suspeita de tráfico

Um camião com dez jovens de idades entre 15 e 17 anos foi interceptado no posto de fiscalização de Lindela, província de Inhambane, sob suspeita de tráfico de menores para a África do Sul. Os jovens, dos quais apenas seis tinham documentos de identificação, são oriundos de Chibabava, província de Sofala (Rádio Moçambique, noticiário das 19:30). Entretanto, leia e/ou recorde aqui.

Mugabe: não entrego o poder seja qual for o resultado das eleições

O presidente Robert Mugabe do Zimbábuè, 84 anos, concorrendo para mais um mandato presidencial, anunciou hoje pela segunda vez no espaço de uma semana que não entregará o poder à oposição seja qual for o resultado das eleições do próximo sábado. O candidato Morgan Tsvangirai, do MDC, está à frente de Mugabe nas sondagens de opinião (Rádio Moçambique, noticiário das 19:30).

Guebuza exonera Tobias Dai

O presidente da República, Armando Guebuza, exonerou hoje o ministro da Defesa, Tobias Dai, tendo nomeado para o seu lugar Filipe Jacinto Nhussi (Rádio Moçambique, noticiário das 12.3o). O novo ministro já foi director regional norte dos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM). É ainda administrador dos CFM e presidente do Clube Ferroviário de Maputo. Já foi presidente do Ferroviário de Nampula (obrigado à PL por esta informação). Eis uma notícia para amplo debate.
Quando puder, voltarei a ela.
1.ª adenda às 15:52: em mais uma vassourada, numa "chicotada psicológica" (para usar a saborosa linguagem da mudança de treinadores no futebol), o presidente Guebuza mudou o comando do exército de duas maneiras: primeiro, há dias, rejuvenesceu o Estado-Maior General. Agora, substitui um militar por um civil à cabeça do Ministério da Defesa, regressando ao modelo chissaniano de há uns anos atrás, quando Chissano nomeou o civil Aguiar Mazula.
2.ª adenda às 16:00: ao exonerar Dai, seu cunhado, o presidente de alguma maneira responde às preocupações, aos protestos e à indignação de muitos que, faz muito tempo, desde as explosões de Malhazine a 22 de Março do ano passado, pediam a substituição do ministro agora exonerado.
3.ª adenda às 16:04: este sismo guebuziano, esta preocupação em acelerar o passo dos ministros de acordo com o passo presidencial, esta inquietação, este evidente nervosismo presidencial, tem certamente a ver com várias coisas imbricadas umas nas outras. Por exemplo, tem a ver com as manifestações populares que ocorreram no país e, por atraso histórico, com as explosões de Malhazine. Estou certo de que Guebuza sente ou sabe que a legitimidade da Frelimo sofreu uma erosão cuja densidade apenas as eleições poderão revelar (essa erosão não será apagada com os discursos triunfalistas e ocos de certos oradores de palavra fácil da praça). Mas a vassourada, a nova vassourada, tem igualmente a ver (et pour cause) com a proximidade das eleições, pois se as coisas correrem como o previsto, no próximo ano teremos as eleições legislativas e presidenciais.
4.ª adenda às 16:14: num país onde não é pequena a distância entre os discursos ditirâmicos e triunfalistas e o palco popular céptico que os ouve e procedendo como está a proceder, Guebuza introduz no país o compasso samoriano, a vertigem samoriana das "ofensivas políticas e organizacionais" dos anos 80, aquele compasso que cria temporariamente a ideia de que as coisas podem mudar para melhor. Permitam-me uma hipótese imagética mais precisa, mais política: Guebuza parece jogar cada vez mais com a auto-imagem do tribuno do povo, sendo os ministros, em sua rápida sucessão, o seu combustível.
5.ª adenda às 16:34: e, agora, uma questão: é errada a nomeação de um civil (creio que Nhussi é engenheiro), para o cargo de ministro da Defesa? Já regresso para uma resposta.
6.ª adenda às 16:48: a nomeação de um civil não é, em geral, errada, em vários países são civis quem dirige os ministérios da defesa. Mas deixem-me avançar uma hipótese: enquanto assegurou o comando, pelo rejuvenescimento, do Estado-Maior General (e acredito que isto vai permitir uma ascenção mais rápida na carreira militar dos oficiais formados, mais modernos, antes tolhidos pelos ten years da luta armada), colocou um civil creio que competente na gestão civil e logística do ministério, uma espécie de inspector atento, diagonal entre a chefia efectiva do exército e o lado civil organizador que presta contas neutras ao presidente.
7.ª adenda às 17:07: qual poderá ser o impacto digamos que popular de mais esta medida guebuziana? Já regresso para ensaiar uma resposta.
8.ª adenda às 17:18: nesta rotação rápida das elites, nestes ritos iniciáticos de ascensão vertiginosa à maturidade governativa, que impacto poderá ter este conjunto de medidas do presidente? A nível digamos que popular, eventualmente a concepção de que o presidente está a proceder bem, de que está a mexer onde deve ser mexido, que está a lutar contra a inércia. A nível mais alto, de uma certa intelectualidade, a concepção poderá ser a de que o presidente está a correr demasiado depressa, pouco tempo dando para que as coisas se organizem e se sedimentem. É a vertigem política guebuziana contra a calma quase-tecnocrática chissaniana. E a nível directamente político, digamos que a nível da própria Frelimo? Tentarei uma resposta daqui a momentos.
9.ª adenda às 20:28 de 27/3/08: leia aqui a crónica semanal do jornalista Fernando Lima inserta no semanário "Savana" desta semana.

Barack Obama






Graças à gentileza da Paula Libombo (muito obrigado, Paula, pelos leitores!), posso hoje referir-me a Barack Obama não enquanto pré-candidato democrata às eleições americanas, mas enquanto simples ser humano através de uma bela sequência de fotos. De cima para baixo: com a mãe americana, sozinho num triciclo, com a esposa, com a avó paterna no Quénia e, finalmente, com o pai queniano.

Guebuza "lido" por Muchanga e Virgínia

O presidente Guebuza foi hoje analisado de duas formas distintas na Assembleia da República.
Primeiro, foi o deputado António Muchanga do partido Renamo, dizendo que, face aos problemas do país, o presidente tinha um espírito mau, que na tradição dele (Muchanga) o presidente Guebuza precisava de ser purificado, que o seu mau espírito precisava de ser exorcizado em cerimoninal adequado.
A seguir, foi a vez de Virgínia Matavele, ministra da Mulher e Acção Social, da Frelimo, intervir, para, logo no topo do que disse, dirigir palavras de louvor ao presidente, a quem chamou herói pelo seu relevante papel na luta contra a pobreza (Rádio Moçambique, transmissão dos trabalhos da Assembleia desde as 9 horas).

Acusada de feitiçaria mulher de 76 anos escapa ao linchamento

Ontem, no Guijá, uma mulher com 76 anos foi in extremis salva do linchamento pela polícia depois que foi acusada de ser feiticeira. Cidadãos enraivecidos mataram alguns cabritos e destruíram quatro palhotas da anciã (meu assistente Cremildo Bahule, citando a Rádio Moçambique no seu noticiário das 6 horas de hoje).
Entretanto, um pesquisador da Unidade de Diagnóstico Social do Centro de Estudos Africanos parte quarta-feira próxima para a província da Zambézia, onde vai dar início ao estudo dos linchamentos por acusações de feitiçaria.

Força do voto ou voto da força?

O jornalista Eliseu Bento está preocupado com as eleições sábado próximo no Zimbábuè: "Precisamente por isso, gostaríamos de deixar aqui expressos os nossos grandes receios sobre o que poderá acontecer logo após o anúncio dos resultados. Não teremos aqui um novo Quénia? Esperemos sinceramente que não, até porque Moçambique e os moçambicanos seriam dos principais atingidos."

Estado omnipresente

O "Notícias" de hoje tem esta notícia : "A representante da Administração do Estado na Beira, Cremilda Sabino, está deste ontem a efectuar visitas de trabalho a instituições ligadas aos Serviços de Educação, Juventude e Tecnologia da Cidade e a algumas escolas. Durante três dias, ela vai se inteirar e/ou avaliar o funcionamento da máquina governativa ligada às áreas em referência."
O que faz lá o governador da província de Sofala, com sede na Beira? O que faz lá o director provincial de Educação? O que faz lá o secretário provincial? O que fazem lá outros inúmeros representantes do Estado?

25 março 2008

Existe o zicoísmo? (8) (prossegue)

Prossigo a série com o título em epígrafe.
Escrevi que o zicoísmo é um sistema a dois níveis, enquanto enunciado e enquanto realização de expectativas.
Já me debrucei sobre o enunciado. Falta agora pronunciar-me sobre a realização de expectativas.
Não existe ainda no nosso país um estudo sobre a sexualidade, sobre as representações sociais da sexualidade, sobre a sua historicidade, sobre a sua produção pública e privada, sobre os segredos do corpo, do seu uso e do seu imaginário, sobre o seu uso amoroso mas também político e laboral (tenho escrito um pouco sobre isso neste diário), sobre os tabus, os pecados, as virtudes, os riscos. É todo um imenso campo analítico por desbravar.
Todavia, creio que após o colonialismo e a revolução - ambos os sistemas muito puritanos e muito severos para com o corpo e para com a sexualidade publicamente enunciada -, o corpo, a sexualidade e a curiosidade sexualizante surgem com força crescente a partir dos anos 90, com tudo aquilo que, por exemplo, a novela brasileira, o cd/dvd e a net passaram a permitir, ampliando consideravelmente o raio de acção do cinema.
A afirmação capitalista no país passou a ser também a afirmação da liberdade de tratar o corpo sem rebuços, de tratar a sexualidade como um tema normal, de enfrentar o nu, o exposto, como coisa normal da vida, subvertendo a paisagem do conveniente, das regras de pudicidade, a moral das gerações mais velhas ciosas do império moral sobre o corpo, especialmente sobre o corpo feminino. A antropologia do vestuário do corpo feminino jovem nas nossas cidades, especialmente na de Maputo - digamos, por exemplo, o corpo-tchuna-baby -, mostra claramente quanto o corpo se libertou de muitos freios.

Zimbábuè: sobre quem vive no rés-do-chão

Disse-me o Ricardo - meu correspondente em Paris - que a imprensa internacional concentra as suas eleições sobre os candidatos às eleições de sábado no Zimbábuè, marginalizando quase sempre quem vive no rés-do-chão da vida, o povo. Por isso mandou-me a referência do portal que a seguir indico (com um trabalho datado de hoje) e cuja leitura, em inglês, recomendo. Já agora, num ângulo diferente e seguindo a sugestão de um leitor, recomendo vivamente que estude este outro portal aqui. Se quer ler em português, use este tradutor aqui.
Nota: entretanto, logo que puder, prossigo a série Eleições no Zimbábuè também são nossas.

Pesquisa sobre empregadas domésticas

O Nicolau Zalimba trabalha neste momento sobre a representação social que as empregadas domésticas têm do trabalho e do patronato. Excelente tema! Em frente! Em relação à sua preocupação, conte com o meu apoio e procure-me no Centro de Estudos Africanos. Entretanto, saiba que há várias coisas que pode fazer. Um dessas coisas consiste em ter acesso ao realizador de cinema Sol de Carvalho e ao seu filme (bem como aos riquíssimos registos gravados) sobre empregadas domésticas. Abraço.

Linchamentos, polícia e pesquisa (parabéns à polícia!)

Tive a possibilidade e o prazer de ler um relatório de pesquisa elaborado este mês por uma equipa do Comando Geral da Polícia sobre os factores intervenientes nos linchamentos ocorridos em Chimoio, Beira e Dondo. Não vou aqui referir-me quer aos méritos e deméritos do relatório e do trabalho que assentou em entrevistas e na administração de um questionário, quer aos resultados a que se chegou. Mas refiro-me imperativamente à coragem e à honestidade da equipa multidisciplinar, que soube ir muito para além do dizer fácil e preguiçoso de certos círculos e de pseudo-analistas da praça, detectando múltiplos problemas - complexos e graves, com causas e situações de natureza vária -, à retaguarda dos linchamentos, tal como eu e a minha equipa da Unidade de Diagnóstico Social do Centro de Estudos Africanos temos estado a sugerir faz já muito tempo.
Parabéns à polícia e à equipa que executou a pesquisa.
Adenda: Mensagem para Paulo Victor: você que me escreveu, que é aluno da Universidade de Brasília (graduação em Antropologia) e cuja dissertação final de curso será sobre os linchamentos numa cidade no nordeste Brasileiro (São Luís - Maranhão), saiba que estou ao seu inteiro dispor, dado que aí, como referiu, também são frequentes os linchamentos. Forte abraço e em frente. Oiça, estarei no Brasil em Maio.